NOSSA HISTÓRIA

A origem da Galeria do Povo data de 1977 quando o poeta e artista plástico Eduardo Alexandre realizou a primeira exposição, num final de semana, em um muro de uma residência na Praia dos Artistas, litoral urbano de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Nascia naquele sábado/domingo a concepção de uma audaciosa e irreverente forma de protestar contra a censura imposta pelo regime militar as artes em geral e, particularmente, nas manifestações artísticas de uma nova geração cansada das imposições culturais promovidas por um regime de exceção. 

Libertária e independente a Galeria do Povo surgiu como instrumento de afirmação da arte produzida por novos talentos artísticos da cidade do Natal e um espaço livre de qualquer censura e com total liberdade de expressão para todos os segmentos culturais da cidade. A concepção da nova forma de expressão artística trazia na simplicidade sua característica mais marcante, já que o espaço público era ocupado por artistas de qualquer matiz, conhecidos ou anônimos, famosos ou amadores. 

A Galeria do Povo desembarcou em Brasília no final de 1978 pelas mãos do jornalista Marcus Ottoni, um dos integrantes do movimento em Natal. A primeira exposição aconteceu na quadra 501 do Cruzeiro Novo, com os trabalhos sendo expostos no tapume que servia de muro para o Colégio Ciman. Foram expostas pinturas em tela, poesias em cartolina, fotografias, bonecos de mamulengo, entre outras diversas manifestações da arte. A exposição ficou montada durante todo o dia e teve uma frequência de público flutuante bastante acentuada para um movimento que se iniciava sem qualquer propaganda ou divulgação prévia.

As edições seguintes aconteceram todos os domingos. A participação de novos artistas teve um aumento considerável, acontecendo o mesmo com o público que visitava as exposições. Foram agregados ao movimento novos músicos, artistas plásticos, poetas, atores e atrizes, instrumentistas e dezenas de outras pessoas que produziam arte na comunidade mas não tinham a oportunidade de expor seus trabalhos e se congregar com outras pessoas que também desenvolviam atividades artísticas. A ampliação do universo de produtores de arte e a interação entre eles foi um dos objetivos alcançados pela Galeria do Povo o que proporcionou a descoberta de novos talentos em diversas áreas da atividade cultural no Cruzeiro.

Ao longo das atividades realizadas sempre aos domingos no espaço verde da Quadra 403, a Galeria do Povo promoveu shows musicais, além das exposições tradicionais que sempre marcaram o movimento como ponto de encontro da comunidade e dos próprios artistas locais e de outras comunidades que visitavam a Galeria do Povo nos domingos. Promoções conjuntas com outros movimentos similares também fazem parte da história do movimento no Cruzeiro Novo. 

A Galeria do Povo serviu também de palco para o lançamento, em Brasília, no governo militar do presidente João Figueiredo, do Partido do Povo Brasileiro com a leitura do manifesto de fundação dirigido a sociedade brasileira e idealizado em Natal pelo poeta Eduardo Alexandre. Também foi foco da imprensa brasiliense (Correio Braziliense) a manifestação da Galeria do Povo em defesa da anistia ampla, geral e irrestrita, que produziu um cartaz de apoio à anistia trazendo a frase do poeta Eduardo Alexandre: “Abram-se todas as celas/Abram-se todos os corações/Anistia”, vazada sobre uma foto do jornalista Marcus Ottoni retratando a masmorra do Forte dos Reis Magos, em Natal, onde ficou aprisionado o herói potiguar Felipe Camarão.

O legado da Galeria do Povo, como movimento de vanguarda da cultura candanga, pode ser medido pelos inúmeros artistas que saíram do anonimato e ganharam, muitos deles, o mercado artístico brasiliense, firmando-se como nomes de respeito no cenário cultural do Distrito Federal. Também pode ser mensurada a importância da Galeria do Povo para a comunidade do Cruzeiro e, indiretamente para todo o Distrito Federal, pela oportunidade que deu aos jovens de descobrirem o caminho da arte desenvolvendo seus talentos junto aos artistas que integravam o movimento e que ministravam oficinas de arte ao ar livre para os moradores da comunidade, independente de idade, raça, credo ou condição social.

O ponto de destaque da Galeria do Povo no cenário cultural do Distrito Federal está na rebeldia de romper os paradigmas da cultura oficial do regime militar e se posicionar como o primeiro e único movimento de arte livre e independente de toda a capital da República nos anos finais da ditadura militar, rompendo o “status quo” cultural e libertando a arte como instrumento de mudança e conscientização política e social.
Paulo Estanislau e Marcus Ottoni 


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