POESIAS II

Felicidade
( Paula BL)


... Impossível não perceber
que o que eu quero
está bem aqui
... Que o que eu desejo
está sempre aqui
... Sempre que preciso
esse olhar me diz
conte comigo
... Isso é o que me faz bem
me faz feliz
me faz ser diferente de todas
sendo eu mesma
... Por isso amo minha vida

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Ondas cobrindo com sua
espuma branca o caminho
Caminhos de muitas e muitos 
ao encontro do fim
Fim sem fim
Não existe fim quando 
as ondas cobrem caminhos
Estes caminhos sempre 
nos levam a um lugar
que na atual visão é 
uma ponta
Ponta que retrata a beleza
da aliança da vida
Da cacimba de água doce
a Ponta dos Anéis.


Eneida Varela

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Sem saber de que!
( Marcus Ottoni)


E o domingo amanheceu na 
pequena cidade do interior
Sem querer sair da cama
abriu os olhos enquanto
ouvia o zumbido da mosca
a desenvolver peripécias
voadoras ao redor de sua
cabeça. O suor que
molhava seu couro
cabeludo não incomodava
Sentiu um forte cheiro de
café e decidiu levantar
Sentou-se na cama e olhou
para a claridade que
penetrava como ferro 
derretido no recinto
Estava na hora.

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MARGINÁLIA
( Cesar Athayde )


Me pega
me leva
me bate
me morde
me come
por tudo ou nada, me devora de prazer
Me beija a boca
me rasga a roupa
me lambe o rosto
me mordisca a língua
e me dá na cara um beijo ou mesmo um tapa... Mas dá!
Por pouco ou por tudo do nada quase havido entre nós
me deixa tonto
me dá cachaça
possui meu corpo como o navio ao porto... Se atraca, se atraca
abre minhas pernas tesas de prazer
se aninha entre elas e me possui com amor e medo
Me penetra todas as veias e todos os poros
com teu cheiro de alfazema
se esfrega no meu corpo
tudo é divino
gozar é maravilhoso
essa besteira de que é pecado amar
é invenção daqueles que nunca amaram até então...
Me come
com fome
some com o medo
pois amar é equilibrar dois seres num só mundo...

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Somos o que defendemos
( Paulo Estanislau )


Engano, amigo, dizer o que dizes
Nem sempre somos
o que escolhemos ser
se assim fosse
seríamos todos felizes
Às vezes a vida nos impõe
caminhos que não queremos seguir
Portanto, não é correto cantar
“somos o que queremos ser”
Somos sim
o que escolhemos defender
disso não há como fugir.

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Imaginação colorida
( Naldo Dourado )


Um risco aqui, um rabisco ali
Sobre o branco papel correm 
libres as mãos da pequena 
Fernanda. Ela vibra e rir
O lápis, nos dedos contraídos
faz traços, linhas tortas, círculos 
e gatafunhos. Não há esboço
nem rascunho. Os traços nada
dizem, mas para a pequena 
dizem tudo. É como se fossem 
estradas conduzindo-a a um 
mundo sem fronteiras, sem 
ganância e nem poder. Ah!
Que perfeito mundo é este
da imaginação da Fernanda!
Feliz seria o homem que agisse 
assim.

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Sonha menina, sonha
Que a vida é um sonhar
O olhar pro infinito
constatação do sonhar
Porque o sonho é sem fim
assim como o infinito sonhar
Sonha, menina, sonha
que um dia teu sonho tu verás.

Eneida Varela

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Malvinas
( Cesar Athayde )


Como uma serpente
a hipnotizar o indefeso passarinho
sinto-me frágil ante o teu olhar
que se insinua perigoso a escapar por entre as retinas
dos mil olhos de segurança vigilantes que contratei
para me protegerem dessas coisas da paixão
Como um James Bond vivendo perigos
circulas em meu coração infestado de minas
como se tivesses radar
E aí eu, despreocupadamente indefeso
espero que atraques em meu corpo porto
com a mesma força dos velhos espanhóis
E haverás de me seduzir
Me prostituir
Me arrebentar
E depois partirás sozinho
deixando pra trás
ódio e paixão...

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A noite é como um véu
que cobre a alegria
fazendo das lembranças
a incontrolável loucura
de querer te amar
eternamente...

( Marcus Ottoni )

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Sem explicação
( Paulo Estanislau )


A você incomoda
o meu jeito de guardá-la em mim
mas não sei por que
Eu não posso esquecer uma relação
que extrapolou os mais utópicos sonhos
a mais ambiciosa fantasia
Onde, até o mais romântico sonhador
imaginaria ser necessária a paixão
para se chegar ao amor
Amor, que no meu coração
surgiu como um relâmpago
e como um raio, no seu findou
É própria a forma de guardar em mim
o que de belo e maravilhoso existiu
Você também sentiu, mas não guardou.

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Imagem translúcida
cores emaranhadas
Silhueta adormecida
Som ecoado
Corpos ainda nus
Corpos já na luta
A luta pela vida
Vida, vida, vida
E assim é mais um começo
ou um terminar
De luzes e de cores emaranhadas
Porém é vida
Vida de luz solar
Vida de luz lunar.

Eneida Varela

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Recomeço
( Cesar Athayde )


Outro outono
Outro adeus
É incrível a força de vontade que move um coração
apaixonado, quando abandonado...
Recomeçar
o duro ofício do amor
com um simples olhar.


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Amigo
( Paulo Estanislau )


não é para cobrar
o tempo que sem ver se passou
É para comemorar,
o dia e a hora que sem querer
ou querendo, o encontrou
Amigo é pra deixar e sentir saudade
pra se guardar na lembrança
e quando reencontrar, sentir felicidade.

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O tempo
( Marcus Ottoni )


Quando todo o tempo
se fizer tempo nenhum
Quando nenhum tempo
for tão igual a qualquer tempo
Então, não se terá tempo
para mais nada
Será o tempo
do tempo que acabou.

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Caminhos descobertos
limpos e profundos
Dunas brancas desbravadas
pelos motores
Barulho 
Marcas no chão 
Entre toda essa brancura 
o arco-íris está interno
em forma fina e forte
de areias coloridas 
que se desmancham
por entre os dedos
Mas montam imagens 
imaginárias
que cria todo poder 
que ela impõe
Além dos motores
além do barulho
cobrem as marcas
pois nada impede a força do 
arco-íris de areias coloridas
O arco-íris de areia 
das imagens translúcidas 
e imaginárias. 

Eneida Varela

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Nada importa
( Marcus Ottoni )


Não importa de onde eu
tenha vindo. Nem quem
sou ou onde quero ir 
Também não importa quem 
me acompanha ou aquele que
me abandona pelo caminho
Não importa que a porta seja torta 
que a faca esteja cega 
que a porca fique suja 
que a dita cuja seja a prostituta 
que me alimenta de carne e pecado
Também não importa
se o padre é menina, se o
diabo sabe da minha sina
se embriagado eu fique
sem tédio, nem pique
Não importa se a prece não
faz sentido, se a cura se dá
pela velhice, se a dor que
agora sinto, não é delírio
de absinto, não é visão de
profecia, não é, e nunca
será, a hipocrisia de quem
me protege, me cuida e me
apetece. Nada importa... 
A não ser a vida que se corta
com faca afiada
e língua ousada!

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CARPINTEIRO ( pra Cli e Helô )
( Cesar Athayde )


Quando ferido
como a juriti
procurava um ninho amigo
onde pudesse chorar
E corria à tua porta
E me jogava em tua sala
E o calor do teu amor me aliviava a dor
E a tua cerveja gelada me entorpecia e eu esquecia
E a tua risada pura me acalentava
E eu sorria
O choro morria
Como a juriti
era bom estar protegido sob tão imensas
asas de amor irmão
E lá ia eu pra luta
peito cheio de amor
que você, como um carpinteiro em mim talhou
E lá vinha porrada de novo 
Meu coração sangrando sussurrava
Volta... Volta... Volta!
E como uma fada madrinha, lá estavas outra vez
Outra luta
O mesmo amor paciência
Asas abertas
Riso franco
pronto pra me agasalhar
Ah! Amigo 
Quantas e quantas vezes a tua porta ruí
E quantas e quantas vezes você me levantou?
A resposta só Deus sabe...

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Eternidade
( Pablo Autamowar )


A poesia é vida
Vida que se renova
Ela pode até sofrer transformações
pequenas alterações 
de forma ou tamanho 
pelo poeta que a gerou
mas a essência a acompanha
desde o momento da criação
A poesia não morre jamais
nem com a morre do seu autor
Por ser eterna, levará com ela
por toda a eternidade 
a alma, a essência
a vida do poeta, feito saudade.

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Jangadas chegando
de um lugar do mar
trazidas pelo vento
com seu soprar
Sopra vento, sopra
as jangadas de volta pro mar
Pra elas irem ao encontro
dos sonhos
Dos tantos que foram
deixados lá.
Volta jangada, volta
pelo rumo que o vento vai dar
Volta jangada, volta
Os sonhos estão a te esperar.

( Eneida Varela )

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Tua boca
( Marcus Ottoni )


Tua boca
merece um beijo nesta manhã
Assim sonhei esta noite
Teus lábios entreabertos
a pedir outros lábios
Tua boca merece muitos beijos
hoje e sempre.

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SOLUÇÃO Nº 1
( Cesar Athayde )


De que vale ser tão só
tão certinho
se no fundo, sozinhos, nada somos
Olhares tristes
cervejas, cigarros e falsas risadas
Tudo calcado num viver inútil
Estamos sozinhos e isso é o que conta agora
Pra que esse carinho tão frio
se nem é inverno ainda
e nem você é cobertor...

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Volta ( 1979 )
( Pablo Autamowar )
 

Desde que você se foi
eu me perdi, quase enlouqueci
Desesperadamente eu lhe procurei
mas não lhe encontrei
Hoje, no meu peito só existe dor
saudade e solidão
Por isso o meu coração
angustiado pede pra você voltar
Pra você voltar
Se é verdade que as almas podem se comunicar
a minha está clamando
para a tua vir me acalmar
dessa procura incessante
que está pra me enlouquecer
Volta!
Que só você pode outra vez, me fazer feliz
me fazer viver, não mais sofrer.
Volta!
Volta, volta, volta, volta, volta
Que só você pode outra vez, me fazer feliz
me fazer viver, não mais sofrer.

(Pra banda da Galeria do Povo)

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2022

Venha Ano novo
Novo, mas cheio de esperança
Novo, mas com muita gratidão
Novo, mas com muita compaixão
Novo, mas com muito amor
Esperança de caminhos novos
a serem trilhados
Gratidão pelo que restou
e pelo que virá
Compaixão pelo seu próximo
pela natureza, pelo infinito
Amor, porque não podemos
sentir nada sem antes ter pra dar
Sentimento brando
Leal
Grandioso
Sentimento autor da Vida!

Eneida Varela

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Saudade imensa
( Marcus Ottoni )


Descanso minha inércia na dor da saudade
Deixo que meu desespero se construa 
na loucura da solidão
Sou nada mais do que alguém
que não se importa se a porta está fechada
se a cabeça está torta
se a faca cega não corta
Não me importa se alguém, em algum lugar
sussurra teu nome apaixonadamente
e me tortura porque não consigo te esquecer.

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VOCÊ
( Cesar Athayde )


Só podia ser você
pra me fazer suar
me fazer viver
me fazer gozar
Só podia ser você
também
pra me fazer sofrer
me fazer chorar
pra me escangalhar de tanto amar...
Eu já nem sei mais se o que sinto é mesmo amor
ou se isso não passa de uma imensa dor
Quando procuro me achar 
é um deus nos acuda
sempre tem você em tudo
em todo lugar você está...
Também
eu não sei como esquecer
 o que talvez você
teime em reacender...
Só podia ser você
pra me fazer tentar outra vez
sabendo que só vou sofrer
que esse tentar pode até matar...
Só podia ser você
pra me atiçar no coração essa louca paixão... 

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Sem Presente pro futuro
( Paulo Estanislau )


Ah! se pudesse voltar o tempo
Como seria bom
Mas o passado não volta
só o presente existe
Como posso lhe pedir perdão
pelo que não fiz
se nem mesmo consigo me perdoar
por não ter feito o que deveria
Isso não pode acontecer
Tanta coisa mudou
Não haverá presente
para o meu futuro
Você, talvez
já nem lembre mais
do quanto lhe amei
e um dia você me amou
O meu presente perdeu valor.

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Lua que sai pelo mar
Mar que a ampara para não se derramar
Derramamento pleno de luz
Mar de lua
Lua de luz
Luz de paz
Paz de amor
Amor por Maracajaú


    Eneida Varela  )
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A escolha
( Arkimedes Pouchart )


O CAMINHO
QUE SEGUIMOS
É AQUELE
QUE ESCOLHEMOS
MESMO SEM SABER
QUE FIZEMOS
A ESCOLHA.

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RIO 80
( Cesar Athayde ) 
 
 
Sei que te amo
mas não me engano
pois tudo pode acabar
sei que és minha vida
que sem você não tenho coração
só uma imensa ferida que jamais cicatrizará...
Eu não me iludo
procuro viver você
loucamente
todos os instantes que temos à dois
pra que, quando eu já não mais lhe tiver
possa morrer de saudades
sem ser obrigado a morrer de amor...
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LOUCURA

( Pablo Autamowar / 1982 )


Vivo a me dizer que não lhe quero
Vivo jurando que eu não lhe amo
a me prometer que não lhe espero
Louco!
Sei que é loucura essa mania
de viver frente ao espelho
tentando me fazer acreditar 
e convencer a única pessoa
que não acredita em mim
Mentira!
Por que negar que só você me basta
se ainda lhe desejo
que essa loucura é falta dos seus beijos
Que ainda sinto falta dos seus braços
seus abraços, seu olhar
Por que negar
que ainda preciso tanto de você
quanto da terra o mar
e o mar do céu, para viver.

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Sertaneja andante
( Naldo Dourado )


Apenas uma mulher
mulher de fibra, seu
nome é Núbia, sertaneja
arretada, sertaneja
elegante, acerta quando
erra, erra quando acerta
deixar de acertar, nunca 
deixa. Mesmo dormindo
está acordada, corre 
para a vida num passo
leve, no leve passo
alcança a imensidão 
do espaço. Toca nas
estrelas, tão logo as 
estrelas se enchem
de brilho com o brilho 
da sertaneja andante. 

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Um dia volto
( Marcus Ottoni )
 
 
Um dia volto
não sei de onde
Mas sei para onde fui
e de lá voltarei
certo de que não mais irei
para onde fui
Um dia eu sigo
Não volto mais...

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Herói Beleza
( Cesar Athayde )


Mas é preciso que tu entendas
que apesar de morar do outro lado da moeda
as pessoas que cuidam do alheio
vão te olhar sempre de lado
e os cochichos vão bater na tua cara
Mas apesar de te apresentares
como um garoto visitante
as fofocas vão rolar
pois esse povo não está acostumado com a beleza
e com certeza meu Herói
muitos poucos vão saber que eu te amo
como amo os galãs coloridos
das minhas fotonovelas...

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Ondas
Mar
E eu aqui a te olhar
Teu vai e vem
Tua espuma salina à voar
Vento te saudando
Como um súdito ao senhor com o seu soprar
És Mar
Pleno
Salgado
Ondulado
E a cor?
Ora! Da cor do que és!
Azul da cor do Mar!

Eneida Varela

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Sou eu
Bem eu...
De um lado a explosão
Do outro, a razão
Sou cores, arte, imagem
Sou números, algoritmos, equações
Sou eu... bem eu
De um lado, exata
Do outro, abstrata
Mas... sou eu
Bem assim....
"Benzim"
Metade Einstein
Metade Kahlo.

Bianca Ottoni-Boldrini

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Paisagem além da janela
( Naldo Dourado )
 
 
Além das cortinas
há serras e ventos
cascata e céu. Há
cheiro de flores
frutos entre folhas
galhos saracoteando
e folhas secas o chão
Bonita janela, coração
descampado, suspiro
de vida, lembrança
saudade. Janela falante
alma arredia, paixão
correspondida, paisagem 
explícita, fascinação.

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SONHOS
( Cesar Athayde )
 
 
Desculpa coração
Ter te atirado aos leões
sem pena nem dó
Ter te entregado tão docilmente
sem aquela briga tão costumeira
a esse novo amor
que de antemão sabemos ser igual a tantos outros já havidos
Perdoa velho camarada
mais essa tolice de poeta
De amante 
e sonhador... 

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TE ENCONTRAR
( Paulo Estanislau )
 
 
Te encontrar desperta em mim
sentimentos quase esquecidos
desejos de abraços
e beijos proibidos 
Te encontrar provoca prazeres
a muito contidos
Me instiga
a cometer desvios
deslises de amor
tantas vezes cometidos.

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Sem volta
( Marcus Ottoni )
 
 
Então, olhou o mar e sorriu
Deixou-se ficar um longo tempo
imóvel à beira mar, como se parte
fizesse da paisagem. Lembrou que
todos haviam partido e que
era hora de recomeçar no
tempo a estória que a vida
concluiu muito antes do seu
próprio querer. Pensou em
sair dali, desaparecer no nada
desconstruir o momento
e refazer o que foi perdido
Mas como? Se o perdido
não volta mais...

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Duna?
Por que não Dona?
Se tua areia branca, preta ou colorida
passam pelos meus dedos como meus sonhos?
És Dona! 
Porque meus dedos não conseguem segurar tua composição
nem eu realizar todos meus sonhos
Porém, tu, Dona Duna, alcanças até onde não precisas ir
E, tu vais, porque és Dona!

Eneida Varela  

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AFIRMAÇÃO
( Cesar Athayde )
 
 
Mesmo no riso
eu te amo
Mesmo no choro
eu te amo
Mesmo na cama
eu te amo
Mesmo na lama 
eu te amo
Mesmo contra toda moral
eu te amo
Mesmo
Eu te amo
sempre 
mais... 

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POETIZE
( Paulo Estanislau )
 
 
Não existe método definido
nem formato pré-estabelecido
para se fazer poesia
O feitio não requer, necessariamente
dor, tristeza, alegria
Não tem que ter razão
pois vem do coração
É fruto de inspiração
feita de qualquer forma
para causar sensação
Emoção!

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Aprender a ser só
( Marcus Ottoni )
 
 
O que esconde
esse olhar perdido
na imensidão do nada?
Incerteza?
Medo?
Angústia?
Solidão?
Quem sabe
a gota d´água que se
forma no canto do olho
é a certeza de que a
lágrima logo descerá
rosto abaixo, esculpindo
preguiçosamente
pela face, a dor de saber
que a partir de agora
será preciso aprender a ser só.

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Lua
Luar
ilumine o mar
O mar que o pescador amou
Ilumine a lua
O pescador que não mais te verá
Ilumine lua 
o pescador no infinito do mar. 

    Eneida Varela

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Sonho Bom
( Paulo Estanislau )
 
 
Hoje
mais uma vez sonhei contigo
e, mais uma vez
não era apenas seu amigo
Não parecia um sonho
pois nele meu desejo
se realizava
Para minha felicidade
você voltava
desta vez para ficar
O mesmo cinema
o mesmo parque
aquele São João
na mesma cidade
Foi um sonho bom
Como é bom sonhar!

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Balada da Separação
( Cesar Athayde )
 
 
É...
Eu não sei quem mais perdeu
com o fim de tudo
Se eu
que ao te perder me encontrei
Se tu
que ao me perderes
te perdestes junto com a tua ingratidão
É...
E nem ao menos sacastes
que era eu o teu amor
e eras tu minha paixão
Agora ficamos aí
os dois 
feito tolos
agressão mútua a denunciar corações
É...
Isso tem cheiro de separação.

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TONES...
( Ney Valença )
 
 
Pinto a parede do quarto de preto
olhei, olhei, olhei e pensei...
Tudo bem, amanhã desfaço bem cedo.

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Como é bom morrer em ti
( Paulo Estanislau )
 
 
Repousei sobre teu leito
me perdi em tuas montanhas e vales
me batizei nas águas mornas
que jorravam do teu corpo
Percorri tuas curvas perigosas
Capotei
Agora, já não sei
se estou vivo ou morto.

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CARTA II
( Marcus Ottoni )
 
 
Crescem falésias em minha frente
Na areia vou deixando pegadas a esmo
Sol quente
céu claro
brisa suave...
Caminho com a mente
Breve nos encontraremos
breve estaremos juntos
Apenas o mar...
Apenas o caminhar...
Apenas uma lágrima em cada olhar.

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Morena jambo
( Ney Valença )
 
 
Quando meu amor dança
a roda se faz ciranda
e o povo entoa uma cantiga
 
Rodopiando a saia rendada
reluz no luar de prata
e encanta todos na Vila
 
Morena da cor de Jambo
cheirosa qual flor no campo 
faceira, pequena, linda
 
À todos lança sorrisos
e cativa com sua beleza
os homens da redondeza
 
Mas quando estamos sozinhos 
são meus os seus carinhos 
e todos os seus abraços
 
Morena olhos de mel
princesa do meu reinado
de amores sou prisioneiro 
de todos os seus pecados.

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Falando ao coração
( Naldo Dourado )
 
 
Encanto. Doces palavras
um afago, alívio da alma
Campos de flores, vida
bela. Vida, ida e vinda
Tocaia! Coração de alforje
bugiganga valiosa. Amparo!
Toque de dedo na nuca
plumas no ar voando
Coração, boca e ouvido
abertos, réstia, luzes
coloridas, arco-íris
no céu bailando.

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Duas Bocas
( Paulo Estanislau )
 
 
Tantas bocas já beijei
que contar juro não sei
por muitas me apaixonei
mas duas, juro não esqueço
não houve amor, só paixão
até hoje as trago guardadas
bem dentro do coração
Esquecê-las é impossível
Mas falar delas não posso
causaria confusão.

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Loucura
( Marcus Ottoni )
 
 
Os dias choram as lágrimas da noite
Há um segredo rompendo os limites do proibido
dando-se, sem misericórdia, ao mundo
Não há como controlar a dor que rasga o peito
e faz do coração a porta de todo sofrimento
Quero estancar o horror do penar 
o martírio da ausência
o descaso da procura em vão
Não sou mais o que seria, não estou mais onde queria
Se não há como seguir em frente, não há porque voltar
Eu só preciso saber de ti, das bocas que beijas 
das camas que aqueces
dos braços que te apertam, do amor que fazes
Uma palavra, mesmo que seja em silêncio
Um único gesto imaginário e meu coração se acalmará
Então a loucura que me consome 
que destrói minha alma
será, enfim, a alquimia do prazer
em saber que ainda pensas em mim.


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PEDREIRO
( Cesar Athayde )
 
 
Um dia
quando por ti me apaixonei
falei
que o sofrimento que essa paixão me causasse ao coração
como uma pedra assim veria
Hoje
não sei que faço dessas pedras todas em que transformei tanta dor
Logo eu
que não entendo nada de construção civil...

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TONES...
( Ney Valença )
 

 Pinto a parede do quarto de vermelho
me senti pequeno, foi tão frustrante
Deu medo 
Saí e fui ao bar pra beber.

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COMBATENTE
( Naldo Dourado )
 
 
Misterioso olhar
Escura cor da noite 
em breu. Olhos de 
combatente pujante 
e latente. Batalha
em campo de guerra
sem briga e sem 
intrigas. Olhar de 
saudade. Forte
rocha de areia
vigor de um soldado
raso, chão movediço
glória, apogeu.  

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Cabra macho I
( Paulo Estanislau )
 
 
Quem diz, “Quem ama não mata”
certamente nunca amou
quem ama mata a saudade
mata a tristeza e a dor.

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DESEJO
( Marcus Ottoni )
 
 
As mulheres andam nuas
por todos os cômodos da casa
 
No quintal
os urubus passeiam de “black-tie”.

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SINA
( Cesar Athayde )
 
 
Fostes 
tal qual folha morta
tragada pelo vento
que depois da glória do verão
tem o chão sujo
a sarjeta fria
como prêmio
E nem te preocupastes quando
avisei do fim.

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TONES...

( Ney Valença )


Pinto a parede do quarto de branco
Taí, branco me acalma
aproveito e pinto também as da sala.

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AMÉRICAS
( Marcus Ottoni )
  
Desfraldar todas as bandeiras
Subir a cordilheira Andina
e soltar o grito preso
Desatar o nó das amarras
vermelhas e azuis
e cantar...
Liberta-te América Latina!
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Resposta 
(pro Marcelo)
( Cesar Athayde ) 
 
 Caro amigo
só agora posso responder sua acusação de que traí nossa amizade 
e de que feri seu coração
Mas acho que não é direito, você confundir vaidade
com a minha liberdade de dizer o que sinto
Caro amigo
nossa amizade é uma ponte bem larga
se de um lado, vens carregado de espinhos
tentarei com as minhas rosas acalmá-lo
e, se eu não conseguir; terás u coração rasgado de paixão
e fé a te saudar...
Caro amigo
me acusas de ser ingrato
acho que isso é bem pior do que cuspir no prato
em que sempre comes
Prato esse que será teu até o fim. Mesmo que o quebres com raiva
Caro amigo
somente hoje resolvi estudar a situação
e cheguei a conclusão de que a tua acusação é um erro de ciúme 
muito passível de perdão, e com isso caro amigo
encerremos a questão
pois mais vale um ombro amigo
do que ter que ficar sempre com o pensamento aberto ao medo
de perder uma amizade... 

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Lindoso Matador
( Paulo Estanislau )
 
 Sou Lindoso Matador
Lindoso por natureza
matador por convicção
primo terceiro de Antonhe Silvino
herdeiro de Lampião
assunte bem meu amigo
medo eu não conheço
isso não tem no Sertão
Pra serviço contratado
nunca faltei um sequer
se o tal é alma sebosa
mato o cabra tinhoso
e consolo suja mulher
Só um contrato não pego
por isso não me convide
pra matar um tal cabuncro
conhecido por convid
Por isso falo e repito
esse pedido não faça 
enquanto ele viver
da minha casa não saio
eu não vou estar na praça
Não ligue nem mande recado
Não quero ouvir, nem falar
no nome dessa desgraça.

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Nossa Orgia Literária ( Ney Valença, Siddha e Gabriel )     Sob o signo de Eros
e os dedos como flechas o corpo seu arco atira no centro do alvo gritos disfarçados de suspiros  Faíscas riscam a pele tudo é beleza e êxtase esse é o caminho das pernas Carícias se tornam obscenas  e as portas do Éden estão abertas e fui eu que mordi a maçã desejos, pecados e prazeres.

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Saudade grande

(Ao amigo e irmão Marcus Ottoni) ( Paulo Estanislau ) Saudade meu irmão, quanta saudade! Que falta imensa essa que você nos faz nos privando do seu sorriso, sua alegria dos seus abraços, seus beijos e da folia sem dizer um até logo ou até jamais Saudade grande, meu irmão quanta saudade! Logo agora que o 23 está chegando não haverá encontro, nem comemoração o 23 vermelho não passará de um portão Aquele do Cruzeiro Velho portão fechado para a poesia para a cerveja, inspiração e alegria Saudade grande, meu irmão grande saudade!


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Na poeira do desejo

( Cesar Athayde )

 

 

Moleque

corpo frouxo nas pernas bambas

desejar maleável à menor pressão

riso sincero de quem só o faz por rir... Longe do amarelo riso

de sempre!

Moleque

desconhece o futuro que o espera

mal sabe seu presente

mas que sente na carne que algo está por vir

Moleque

em tudo

­­– nos jogos de amor

– na seriedade do caso

– no enfrentar o problema...

Moleque

assim te conheci

por seres assim te amei e me joguei à você

Moleque

fui eu quem pariu teu destino

quem desdormiu noites a procura de um futuro melhor pra você

quem frequentava companhias de seguro

dando um duro danado pra garantir teu rumo no mundo

Moleque

de teu mesmo, só tinhas a beleza de anjo

a fogosidade dos teus 15 anos

e a vontade de mergulhar no incerto...

Moleque

que queria sempre ficar a fazer amor

mesmo quando assistíamos um filme qualquer no cinema Iris...

Moleque

a quem dei meu riso e calei meu pranto

a quem de pernas

peito

e coração abertos recebi um dia

na calça suja e rasgada

no tênis roto e furado

na pele suja pela poeira dos dias...

Moleque

de onde está vindo esse teu medo?

Quem te fala essas besteiras?

Quem te disse que amor é crime?

E que é bandeira amar e ser amado!!!

Moleque

talvez quem isso te fale sinta é inveja

de não ter coragem de se entregar toda a  um vento de vida...

Moleque

quem de nós pode falar mal?

Se afinal, pecado mesmo, é deixar para os sonhos o que

pode ser realidade a cada segundo que se vai...

Moleque

louco quem diz que o amor tem sexo

tem Deus

tem cor...

imoral posso ser

mas sou-o de amor.

 

junho / 79

 

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CARTA I ( Marcus Ottoni )
Hoje ando sem rumo Sem destino, sem norte... Sorte tem quem pode tê-las Meu coração não me serve mais de bússola Minha mente confunde meus pensamentos Sou preguiçoso, lento... Passo sobre passo Passos falsos marcam o caminho sem direção Rumo para a morte? Sorte tem quem pode tê-las Não há sentido, tudo é disforme, figuras de caleidoscópio Quebra cabeça de emoções Por que não estão comigo? Por que não estou com vocês? Sangra no peito profunda saudade... Abre o corte... Sorte tem quem pode tê-las Vagar nos sonhos do querer bem Ser apenas aquele que vive só, que anda só Sorte a minha que tenho vocês no pensamento E no coração... Oceano 30/01/00

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Freje Cruzeirense

( Cesar Athayde )

 

Por aqui

tudo certo

ainda acerto na loteria

nem que seja no jogo do bicho

13 pontos 

num domingo explodo de alegria

naquela mesa suja do Biritex bar

cachaça com frango assado

sonhando uma beira de mar

pra fingir basta só o sonhar

Ah meu coração!

que mulata, que tentação

sonhar que o meu Gordini 

é melhor que a limusine do Sheik de Agadir

estender para o Havaí meu mergulho em Itacuruçá

sonhar e morrer de sonhar

é tão fácil ir a Belém do Pará

desfilar com aquela mulher monumental

é como pescar camarão em Natal

gritando: Ah que mundo bão!

sonhar que a minha skol é pura cerveja alemã...

Por aqui 

tudo certo

ainda acerto nos 13 da vida

e me mando pra Paris

vou morar num castelo

e na montmartre desfilar de duque à barão

já no Rio, vai ser só badalação

Regine’s

Barra

que curtição…

Adeus Brasília

O sacana do garçom tá me expulsando

depressinha outro bar procurar

esquecer os PMs que desceram a porrada no filho do seu Aguiar

a gente sonha com o Hawaii e no fim vem Goiânia pintar

Adeus Brasília

Ismael, te mando um postal de Portugal

pro Mário, Babinha e Chico uma cachaça arretada

fabricada na capital federal do Piauí

pro Tony vou ser mais legal

um abraço pro pessoal

vou partir...

Adeus Brasília

a cerveja esquentou

o frango acabou

e tô bolando um jeito de fugir sem pagar a conta

um pinote geral por aí

e quem sabe eu saia na televisão

como o homem que comeu a nação guarani.


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Sem dizer adeus

( Pablo Autamowar )

 

Deus

uma palavra, tantas definições

Que inventor, ignoto gênio

elaborou tal expressão?

Seria poeta, escritor de ficção...

Seria o mesmo que criou ateu

uma palavra, mesma rima

uma só significação

Que falta de imaginação!

Se igual fosse eu não o leria 

ignoraria, sumiria

Sem dizer adeus. 

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Aurora

( Marcus Ottoni)

 

 

A morte veio matar-me hoje pela manhã

Encontrou-me armado de alegria

bem disposto e feliz

A morte veio matar-me hoje cedo

encontrou-me sorrindo e sem medo

A morte veio matar-me na aurora...

 

Pensando bem, se ela viesse em outra hora

talvez me houvesse morto

mesmo feliz e bem disposto

 

Mas a morte errou de hora

Um poeta não morre na aurora.


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Poeminha para um feio

                          pro Pardal

(Cesar Athayde)

 

 

Se tens as pernas tortas

o nariz grande

cabelos crespos

e se teus olhos veem do avesso

não sofras por isso amigo

sempre há alguém para um outro alguém

e no espelho da vida sempre aparece outra imagem...

Somos todos pares

Se tens um defeito

se és preto

ou que sabe: Feio

Não chores amigo

toda moeda que se preza tem cara e coroa

e a grandeza de um coração é amar sem ver cara ou situação

Não chora amigo

se quando andas pareces um ganso

se quando parado pareces um rato

sempre haverão gansas e ratazanas para amar

um coração tão lindo como o teu...

Chora não amigo

sempre haverá alguém querendo te amar...

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Cabra macho II

(Paulo Estanislau)

 

 

Me desculpe minha comadre

pelo que vou lhe dizer

o caboco quando é macho

bate e tem que bater

Bate com a boca na boca

com a língua no ouvidor

bate com os dentes no peito

mas sem ela sentir dor

e quando bater a vontade

pega a mulher pelo braço

leva pro quarto e arrepia

os cabelos da coluna

até causar agonia

quando ela se contorcer

mete no umbigo o nariz

aí chorando ela implora

vai logo pro chafariz.


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  Orgia

(Cesar Athayde)

 

 

Os sinos batiam loucos

beatas rasgavam as vestes e

sangravam o rosto com suas unhas afiadas

padres e leigos entoavam hinos de louvor

Atônita, a multidão via cristo pular do 20º andar

numa última tentativa de reconciliar

os homens com o verbo amar...

Agora

na calçada fria, jaz inerte um corpo

enquanto os homens continuam a brigar pelo pão...

Os sinos calaram-se!


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Um homem

(Marcus Ottoni)

 

 

Hoje conheci um homem

que sentou-se à minha mesa

sem pedir licença

 

Olhou para minha cerveja e

sem pedir licença

bebeu-a em copos seguidos

 

Também, sem pedir licença

contou-me estórias

que já iam longe no tempo

 

este homem anoiteceu ao meu redor

Somente quando o dia

pediu licença para chegar

este homem, ironicamente

pediu licença para se apaixonar.

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Triste movimento

( Paulo Estanislau )

 

 

Meu olhar encontrou o teu

e nele sentiu

toda aridez dos teus pensamentos

Teus olhos claros e belos

como uma manhã de verão

apesar de toda beleza

hoje transmitem tristeza

resplandecem aflição

Eu, angustiado

sou só desejos

de mudar esse olhar

te fazer mirar o meu

me incluir em teus sentimentos

Talvez, apenas talvez

te fizesse perceber

a beleza que existe em viver

e mudar toda rudeza

de teus pensamentos

compartilhando contigo felicidade

ao invés de sofrimento.


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Sublime

( Ney Valença )

 

 

O amor me pegou

Sem notar, me vi loucamente apaixonado

Numa noite, numa festa, lá estava ela

Como sempre, linda. Trocamos olhares, sorrisos

e atraídos, nos chegamos

A dança e o perfume

A dança e o aconchego

A dança, o contato e o prazer

O prazer, a libido e o beijo

Sem palavras saímos

Os beijos no caminho

no carro, nas escadas

Nenhuma frase, só os beijos

Os beijos sabiam o destino

Na porta, quase nos despimos

Entramos agarrados, gulosos

Por um instante paramos e nos olhamos

 Sorrimos, ofegantes e felizes

O toque, o calor, o desejo

ficam mais fortes e intensos

Seus lábios macios, molhados

percorrem meu corpo, me acende

Entregues, amantes e cúmplices

Os braços, as pernas, o enlace e o encaixe

Movimentos contínuos, ardentes

Os Beijos, as carícias, o cheiro e o ato

Sussurros e gemidos ecoam

 no quarto e nos corpos

O espelho no teto eterniza a volúpia

Nada importa entre o verso e o reverso

Tudo pode, tudo vibra, tudo goza

Não há dono nem domínio, só o amor

na plenitude profunda se dá

Enamorados se completam, lambuzam-se

copulam, satisfazem-se e se consomem

Na exaustão do cio, o ápice

Delírios do êxtase, do transe

A orgia penetrante, desbrava a flor da pele

deliciosamente quente

E consuma-se assim o amor

a mais perfeita e divina definição da vida.


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A porta

(Cesar Athayde)

 

 

Pouco me importo com o que acontece aí fora

Pouco me importa quem foi o vencedor da guerra a Indochina

Pouco me importa que grita na rua deserta

Pouco me importo em quem possa ser meu novo vizinho

pois o que acontece comigo, é que uma saudade danada de ruim

está me matando

deixando que eu só olhe a luz do sol através

da minha persiana arriada

Acontece que, desde que fostes embora, mais de trinta

garrafas de cachaça eu já consumi

e se consumindo lentamente minha vida vai

Pouco me importo com o que acontece aí fora

se alguém namora

se alguém comemora

ou se alguém bate palmas feliz...

O que acontece comigo, é que uma fossa danada de ruim

está me consumindo

e meus sonhos de jovem adolescente estão se diluindo

em dois dedos de álcool... queimados juntos ao meu maço

de cigarros baratos

Acontece amor, que desde que fostes embora

levastes pra fora toda minha razão de ser

toda minha razão de viver

toda minha razão de amar...

Pouco me importo que hoje seja domingo de carnaval

pois sem você não passo de uma quarta-feira de cinzas...

Pouco me importo com o que acontece aí fora

pois ainda estou prostado no mesmo sofá que outrora

nos agasalhou

Pouco me importo com o que se passa na rua

se é um bloco de sujos que passa batendo na lata

ou se é a Turma do Barril que veio me apanhar

pra desfilar na avenida...

O que acontece comigo, é que ainda espero

que cruzes aquela porta por onde um dia vi você se perder...

Pouco me importo com o mundo

pois o meu todo é você...


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Cheiro da Noite

( Naldo Dourado )

 

 

Orquestravam as cigarras os

últimos cantos do dia. Cantava

no galho da laranjeira o sabiá

num soturno lamento. Despontava

encantadora a lua, no céu de um

brilho intenso. Zoavam na verde

pastagem os estridentes cri...cri

dos grilos. No canil o cachorro

uivava num penoso latido. Numa

queda bem suave, as águas desciam

da cachoeira. Coaxavam saudosos

os sapos na água corrente do rio

No curral mugia o boi, com desejo

de romper a porteira. Chirriava

solitária a coruja, na ponta do

moirão. Saracoteavam as árvores

com o vento frio da baixada. Num

vai e vem constante, desfilavam

os vagalumes. No galinheiro o galo

anunciava o nascer de um novo dia. 


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Insensatez (Recado a um insensato)

( Paulo Estanislau)

 

 

Dizer que a humanidade chora pouco

que chorar é bom

é belo, alegra e seduz

é insensatez e não aridez

É preciso distinguir o chorar

de cada choro

O da emoção

de ver um sorriso de uma criança

da alegria de ouvir o que é belo

o que nos toca

é um chorar de felicidade

Chorar a perda é sofrimento

Chorar atoa é desequilíbrio

Dizer que há poesia sedenta de choro

árida, é desconhecer a vida

Desconhecer que ela é bonita

e que a felicidade só é seletiva

para quem não a busca

Devemos sonhar

sorrir, fazer sorrir

lutar e viver para chorar

e fazer chorar de felicidade.


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Caso clínico
(Cesar Athayde)

Meu médico dizia que o meu casa era de úlcera
depois, só muito depois
é que eu vim a saber que a minha dor maior
era a de ter um coração partido
uma saudade aflita
e um amor traído...
Aí já era tarde pra ter cura!


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HAI-TROP-KAI (IX)
(Marcus Ottoni)


A lua deitou-se na nuvem
que a cobriu com um manto de mistério
Os amigos não partem 
apenas ficam longe dos olhos.

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Tones 
(Ney Valença)

Pinto a parede do quarto de verde
vejo e revejo, e me dou por satisfeito
afinal foi meu desejo

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Saudade demais
(Paulo Estanislau)

Sinto o sereno frio
molhar meu rosto
enquanto a noite gélida 
carrega meu coração 
de tristeza, melancolia e dor
Dos olhos escorrem lágrimas
e já nem sei se a umidade
que congela o meu peito 
é fruto do serenar
ou se das gotas de saudade 
que gotejam sobre ele
Saudade, que já não precisa
do sereno da noite fria 
nem das canções do Caetano
para se sentir
basta , apenas e tão somente
que você não esteja aqui.
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Loucura
(Cesar Athayde)

Loucura
Nada de críticas
Nada de censuras
Sou assim como tu
Louco
filho bastardo
sem sina ou juízo
Loucura
Amar
isso sim foi demais pra mim.
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O que fui e o que sou

(Marcus Ottoni)
  
Se fez verdade, porque se fez presente
Se fez pleno, porque se deu totalmente
Era apenas o sonho que
a noite transformou em realidade
Era o delírio insano do amor
a querer romper as amarras do proibido
Era tudo e nada ao mesmo tempo
Era o nada que se escondia
corrompendo o tudo
que se podia permitir
Era e é o que fui e o que sou
Apenas e somente eu... sem você.

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Medo e covardia
(Paulo Estanislau)
 
 Quantas vezes eu pensei falar
tantas vezes até ensaiei
pra dizer do meu amor
mas eu me acovardei e não disse
Eu não disse!
Não sei se foi por medo
ou se pura covardia
esconder o amor que eu sentia
que você era a pessoa
que eu mais amei
dizer, não conseguia
Agora, sofro a falta
que um amor tanto nos faz
quem vive só não é feliz
não vive em paz
e, eu não passo um
sem pensar como seria
se lhe encontrasse
e dissesse do amor
que eu senti um dia
Se, você sorrindo me falasse
que já sofreu assim
que já sentiu a mesma dor
que eu senti
que você se declarou
e ele não correspondeu
isso doeu, foi tão ruim
E, se você
olhando em meus olhos
me dissesse que nossa história
não seria assim
como num romance de cinema
ia ter um outro fim
final feliz
Como seria?
Fala pra mim!

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Resposta
( Cesar Athayde)
  
 
Beijar tua boca
como eu beijei
não te iludas
ninguém jamais...
Fitar teus olhos 
assim tão calidamente
como eu fitei
besteira, ninguém mais também...
E tem também os carinhos
as palavras doces
e os te amo, ditos assim tão sussurrados
as loucas carícias
as mordidas
os afagos
Isso, bobagem
não acharás em mais ninguém... 
Te amar 
como te amei
foi vício
e ninguém mais no mundo
viciará como eu viciei
Bobagem procurar
Só eu sei de ti
do teu medo
da tua ingratidão
Procurar até podes
Encontrar só eu sei que não...

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Até breve!
( Marcus Ottoni )


E como dizer adeus?
Soletrando as letras 
que põe fim em tudo?
Ou será, sussurrando a palavra
que desconstrói o que foi?
Quem sabe seja
com um curto som apagado
segurando o medo de chorar
na hora de dar as costas
e ir embora?
Poderia ser de “bate-pronto”
dando com força na vontade
de calar a voz
no momento que se tem
que dizer adeus
Como dizer adeus?
Melhor não dizer adeus...
talvez, até breve...

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Nosso segredo
( Paulo Estanislau )


Vem, preciso te abraçar
eu quero te beijar, te fazer suar
vem, vem cavalgar no meu lençol
me molhar com o teu suor
vem me matar
que eu, vou te fazer morrer
com o meu e o teu prazer
É, eu sei
também queres me encontrar
também precisas me abraçar
matar saudade do meu beijo
mas, isso não pode acontecer
pois eu não posso te amar
embora, esse seja o meu maior desejo
Pra que, esconder o que já vivemos
se tantas vezes de amor nós já morremos
e tantas vezes nós voltamos a viver
Afasta do teu peito esse medo
que eu prometo meu amor
esse vai ser nosso segredo
Nosso melhor segredo!

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OUT DOOR
Ao Cassiano Nunes
( Cesar Athayde )


Por onde andas consciência do Mundo?
Que fim imundo tramas nos calabouços?
— Será verdade que matastes a paz?
— Será mentira que agora quem reina é o mal?
Por que não mais respondes aos apelos aflitos que
te fazem os poetas?
Por quantas moedas de ouro terás te vendido?
Por quanto petróleo te calam os poderosos?
Em nome de que progresso afastas os homens
das tábuas das leis que a natureza legou?
Por onde andas consciência do mundo?
Com quem tens compactuado ultimamente?
Quem mais te pagou pelo fim da paz:
— Será que foram os armamentistas
— Ou será que foram os novos Hitleristas?
Qual a tua rota consciência?
Pois quero colocar nessa estrada
numa cruz de prata as desgraças do mundo
em fotos coloridas colossais os out door das guerras
e tocarei num gravador amplificado por mais de mil alto-falantes
o choro de fome e dor de todas as crianças
famintas e abandonadas
Quero colocar num quadro negro a foto de todos os corruptos
e de todos os tiranos (só espero achar um quadro tão grande)
Quero enfeitar as sarjetas imundas com as fotos
dos sergios dourados da vida
Quero esperar você passar no teu conversível com tanque cheio
de gasolina azul para te jogar um ovo podre
Onde andas consciência do mundo?
Em que catre imundo deitastes o corpo virgem da paz?

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Meus cacos
( Ney Valença )


Flores de outono na calçada
meu amor despedaçado na rua
fruto de desejos contidos 
e relações pendentes
Vivo a cada instante 
como quem desesperadamente 
luta contra o mar
enfrentando seus medos 
e seus defeitos, mesmo sabendo 
que é impossível vence-los 
Poderoso sentimento de força 
interna que se remenda os cacos
e se mostra renovado e inteiro
Ao infinito as costas, o desprezo
O destino descortina-se proveitoso
e prospero na sua plenitude. 

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Cartinha

(Cesar Athayde)


Não mente não amor
a culpa não é tua
se hoje resta dor
onde ainda ontem tudo era folia
Aguardo sem rancor notícias tuas
Eu por aqui vou indo sem capotar
descobrir um meio de dissimular meu sofrer
parei de beber
parei de fumar
só resta eu aprender a deixar de te amar...
Não mente não amor
a porta tá fechada
lá no congelador
tua cerveja gelada
no meu coração
tua cama arrumada
espero sem rancor
a hora da tua chegada
não mente por favor
um erro não é nada...

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Vamos acabar com essa tristeza
(Plagiando Gonzaguinha)
( Paulo Estanislau )


Como cantava o saudoso poeta
“Sorrir, nunca foi só de alegria
em tempo ruim
todo mundo também dá bom dia”
Mais que parafrasear, vou plagiá-lo
Chorar nunca foi só de tristeza
se chora também de felicidade
com uma notícia boa
o sorriso de uma criança, sua beleza
Só não se pode sorrir ou chorar
com as presepadas de governante ruim
um macaco atrapalhado
É preciso acabar com essa tristeza.

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Coração assustado
( Marcus Ottoni )


Viera, e ele bem sabia
lá do interior seco e sofrido
De terras onde o sol queimava
como chumbo quente e o ar
(se é que existia ar naquelas paragens)
era como o bafo do “cão”:
seco e quente como o sol
Mas chegara. Só e sem nada
Trazia no peito um coração assustado
e uma enorme vontade de chorar
de correr o caminho de volta e
jogar-se naquela terra poeirenta
e seca que já o vira resmungar.

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RELANCE (pra tu)

( Cesar Athayde )


Assim de repente
à minha frente
pintou
um sorriso lindo
jogou luz 
onde eu só via horror-dor
e eu
assim tão sozinho
me deixei levar
embalava sonhos
de que era pra ficar
e voei
fui lua e luar
fui sol praia mar
sorrindo
nem imaginava mudar
até que de repente
notamos que o que a gente tinha era mesmo amor
aí, outros quiseram o meu lugar
te seduziram 
fugiu o sorriso lindo
escuridão
sem risos
só dor
num relance prevaleceu o amor
voltou
e minha quarta-feira de cinzas
carnaval virou
e quem quis afastar, sem querer fez fortificar o amor
e agora
só deus pode afastar
mas como ele quer amor
ninguém pode separar
foi assim
de relance
num sorriso
que eu, descobri teu amor...

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A multiplicação das armas
( Marcus Ottoni )


Tudo era muito simples
naquele lugar. A chegada
das armas atiçou a
curiosidade dos
moradores. A explicação
daquelas “pessoas da
cidade grande” era simples.
“Estamos construindo
um novo tempo”.
“E pra quê armas?” Era a pergunta
que não calava na mente
daquelas pessoas humildes
O tempo passava com dias
correndo pelos meses que
atravessavam anos e nada
acontecia... A não ser a
multiplicação das armas.


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RABISCOS

( Naldo Dourado )


Rabisco qualquer coisa
para fugir da solidão, tudo
é válido, até mesmo rabiscar
qualquer coisa. Coisas. Minha
cabeça está cheia de coisas
Coisas vãs, coisas sem nexo
Não consigo pensar em algo
concreto e satisfatório, por
isso perco tempo rabiscando
qualquer coisa. Nos rabiscos
a prova do meu flagelo; tudo
é mal traçado, sem esmero
A solidão me faz definhar
minh’alma está triste. Nem
rir consigo Benditos rabiscos!
Solidão, por que rabiscos?!

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Pedra não voa
( Paulo Estanislau )

  
É verdade, eu sei
pra nós o amor findou
pra que tentar achar motivos
saber, de nós quem foi que errou
Não há por que!
Não deve haver!
melhor lembrar do que foi bom
enquanto o amor durou
Você se deu eu sei
Dizer que eu não me dei
não é verdade
pois eu amei
como jamais amei outra pessoa
Só não podia ser como você queria
A joia rara
o diamante mais brilhante
desse jeito eu não consigo
amar assim, pra mim é coisa atoa
Você, pode desejar um objeto
mas com o amor não é assim
Amor é para dar ou dividir
com outra pessoa
Não é pedra, pedra não voa
e o seu voou
O meu agora vai pousar
no coração de outra pessoa
que igual a mim
acredita que o amor é coisa boa
O amor é coisa boa.

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O VENTO
                                                                      ( Nei Valença )
 
O Vento uivante e frio
gelado vindo do norte
Forte quando vem sudoeste
que chega a levantar
as ondas do mar
Do sul é calmo, uma brisa suave
Noroeste é quente, atrevido
como um menino arteiro, sabido e sex
Se vem com a chuva
chega manso e ligeiro como um mensageiro
Se durante a chuva
se infiltra secretamente
entre as frestas e a fechadura
se depois, fica por ali envergonhado
como se pedisse desculpas pela bagunça
varrendo o chão, silencioso
O vento, quando revolto, rarefeito
vem levantando as folhas das árvores
folhas de papel e zinco
Destruidor malvado e tenebroso
O vento, à noite, como por encanto
balança a rede vazia no quintal
assovia, canta para embalar os sonhos
Ah! O vento.
As vezes vem de todos os lados
assanha os cabelos e embeleza
Ele sabe que é eterno, imprevisível, imprescindível.

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SAL E SOL  pra Marcílio Farias )

( Cesar Athayde )
 
Anda amigo
põe o pé na estrada
mochila nas costas
atrás de um tempo que os homi matô
É ano novo
apesar de serem velhas suas ideias
eles acham que nos salvarão...
Nem pares na estrada
nem te vires pra trás
verás o que não pode ser visto
e aí, podes virar uma estátua de sal
e passares o resto de teus dias a ser lambido pela poluição
Anda rápido amigo
de nada adianta rezar hoje em dia
os tempos agora são outros
e é lógico que os deuses também bailam ao som
da incompatibilidade...
Vamos amigo
deixa as saudades num baú qualquer
rasga tuas fotos do Hendrix
quebra teus discos do Dylan
e queima teus livros sagrados de arte
pois a realidade é tão burra
que virou até anúncio de televisão...
Vamos Amigo
que apesar do chão ser muito
a vontade de vencer ao medo é maior...

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Onde errei?

( Pablo Autamowar )
 
 Você diz que não tem jeito
que é em vão tudo que faço
para outra vez ver o seu sorriso
sentir novamente o seu perfume
me sufocar no calor do seu abraço
Diga-me então onde foi que eu errei
erro esse, que de tão imenso
transformou-se em insanável
Que afastou meu coração do seu
que julgava inseparável.

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Teu silêncio

( Marcus Ottoni )
 
Teu silêncio é a ferramenta
que minha solidão usa
para ampliar minha dor
Escutar o som do delírio
do teu prazer me faz perfeito
completo, absoluto...
desesperado.

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Me lambuza

( Paulo Estanislau )
 
 
Vem, se chega mais
preciso do teu aconchego
Me abraça, me bole
me vira, me usa
me acocha, me faz um chamego
me beija e me lambuza
Mata essa sede que me mata
da tua boca
tua saliva em cascata.


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O último beijo

( Marcus Ottoni )
 

O dia amanhecera
com ares de chuva fina
tipo garoa paulista
Da noite restara apenas
o copo caído no chão
a garrafa de vinho aberta
e pontinhos de queijo
esparramados pelo prato
De onde estava, deitado
com os olhos entreabertos
podia ver o dia nublado
entrando pela janela
Tentou pensar, mas desistiu
A cabeça era uma bomba
explodindo saudades a todo instante
O último beijo estava
alinhavado em sua boca.

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DOR II – BABY
( Cesar Athayde )
 
Sabe baby
eu apendi com a vida que enfrentar problema e melhor
que não desistir nunca
que cair e levantar sacudindo a poeira
é que é bom...
Sabe baby
aprendi também nas inúmeras curvas que a vida dá
que pra cada grande amor perdido sempre pinta um maior
Aprendi também que se eu pisar
serei pisado
que se eu cuspir
serei cuspido
se eu ferir
serei ferido
mas se eu amar
posso não ser amado...
Sabe baby
essas coisas que a gente aprende nas universidades
não estão com nada
pois eu descobri pelos bares da vida que a vida só ama
a quem lhe convém...
Sabe baby
posso fugir e tentar esquecer
posso até trair (quem sabe) a carne
mas sei o que a vida não me ensinou
que; quando cê ama alguém como eu amo
o viver vira um palco
e que pra nós, só o papel de coadjuvante sobra
e lá, não te iludas
as bruxas somos nós...
Sabe baby
você
a vida não me ensinou...
 
Fev / 80

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Cadê você?

( Paulo Estanislau )
 

Você foi às ruas, protestou
pediu mudanças
bateu panelas
gritou.
Agora fica calado
inerte
sente vergonha
pois acredita
que errou
Vergonha maior
tem que sentir
quem vestiu vermelho
bradou que era golpe
depois sumiu
Estagnado
se calou.

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O que esconde...
(Marcus Ottoni)

O que esconde esse olhar perdido na imensidão do nada?
Incerteza?
Medo?
Angustia?
Solidão?
Quem sabe?
A gota d´água que se forma no canto do olho
é a certeza de que a lágrima logo descerá rosto abaixo
esculpindo, preguiçosamente, pela face
a dor de saber que a partir de agora 
será preciso aprender a ser só.

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Mais que carinho

( Pablo Autamowar )

 

 

Não me peça para eu não falar

o amor, não é pra se calar

A distância não vai me proibir

nem me impedir de lhe amar

Se vou sofrer

posso sofrer sozinho

mas não vou deixar de lhe dizer

que o que eu sinto por você

é muito mais

que um simples carinho.


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ÀS FAVAS

( Nei Valença )

 

 

A gente cresce e aprende a não falar o que pensa

São tantas regras, pudores, respeito aqui, colóquios lá

posicionamentos e jeitos

 

Tantas informações, etiquetas

que nós perdemos a metade da gente

Viramos iguais, hipócritas

 

Fingimos, mentimos e nos escondemos

Tudo pela ética

pelos bons costumes

 

Pensamos, estudamos, refletimos, elaboramos

Para no fim

falarmos o oposto do primeiro pensamento

 

Para com isso acharmos ser

um ser sociável, educado, polido

Mas lá no fundo, na essência, na alma

no verdadeiro eu, não ser nada

 

Pois sinceramente, o que eu quero falar

e tenho medo

por causa da vergonha a mim imposta

é que tu vás às favas

E o que eu quero mesmo

é tê-la em meus braços

e fazer amor a noite toda.


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Colheita dos sonhos

( Naldo Dourado )

 

 

É noite! Trovões ecoam

no céu e relâmpagos

resplandecem nas nuvens

chove no sertão! Da janela

do quarto o sertanejo Almir

vê a água da chuva lavar

a terra. O cheiro de barro

molhado devolve a ele

a esperança de ano para

plantar, formar pastagens

no campo, encherem-se

d’água os rios, açudes e

igarapés. Animais não

mais morrerão de fome

e sede, no paiol fartura

de milho, feijão e arroz

No curral muitos bois

Inúmeras galinhas no

terreiro. Na casa mobília

 nova. No bolso, dinheiro

a rodo e carro novo na

garagem. Diante da janela

o sertanejo Almir chora

contemplando a noite de

céu claro e estrelado.


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Fado Para um menino chato

( Cesar Athayde )

 

Se eu pudesse

quereria ser o sol

pra queimar levemente teu rosto

só pra dourar teus louros cabelos

numa de te iluminar o astral...

Se eu pudesse

quereria ser uma mosca aflita

a zumbinar um fado

angustiado de ciúmes transloucados

quando estás rodeado por elas

Se eu pudesse

quereria ser um astronauta

pra poder ir pro espaço

e lá do alto gritar perguntando por você

Eu queria ser ator, mas falta-me a clareza dos gestos

Se possível fosse

queria voltar ao passado e passar uma borracha

na parte em que te conheci...

Seu eu pudesse, talvez fosse mais fácil dar um sorriso

Se eu pudesse

quisesse

e fizesse, o talvez ficaria na velha e amarrotada

mala das preocupações...

Se eu pudesse

e se desse

juro que te esqueceria...


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Sou o canto

( Marcus Ottoni )

 

 

Não sou parte do canto

nem como vogal em seu tom mais agudo

ou como consoante no mais grave

do encantamento do tom

Sou o próprio canto, posto verso e melodia

feito grito que não se escuta

igual a dor que invade

e fica na alma da gente para sempre.


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A VIDA

( Paulo Estanislau )

 

 

A vida é pra sentir alegria

não é para sofrer

Muito menos todo dia

Aprendi com o meu pai

a sentir gosto e agonia

Num dia

ele chorava de saudade

No outro

ah! no outro

já era outro dia

Ele sorria

vivia!


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Tens direito

( Marcus Ottoni )

 

Tens direitos sobre minha boca

Que os beijos que procuras pelas ruas

tu os encontre nela

Que a língua sedenta de luxuria

que busca em outras bocas

tu descubras na minha

Que a saliva apaixonada

que desejas ter em tua boca

tu possas saborear na minha boca

Que o pecado indecente

que outras bocas te proporcionam

que seja a minha boca a lhe conceder

a explosão de teu prazer

Tens sim direitos sobre minha boca

porque ela é tua por ironia do encontro.


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NOITE INFELIZ

( Cesar Athayde )

 


Era Natal

milhões de luzes enfeitavam a noite

árvores e presépios traiam olhares

e milhares de pessoas na rua esbarravam-se frente as vitrines

Só eu caminhava sem olhar para nada

não ligando para a magia da noite

não esbarrando em ninguém, pois a rua pela qual eu caminhava

era escura e sombria

Desde cedo eu sabia que havia entrado na rua da solidão...

De repente

veio-se chegando uma pessoa

logo, logo eram duas

dez

cem

mil

um milhão

um maracanã colorido em tardes de Fla-Flu

mas eu teimava em continuar horrivelmente só

pois eu sentia que meu mundo todo ficara em ti

Aí, eu chorei, pela tristeza de saber que quem errou

não fomos nós...

Era Natal

eu lembro muito bem

                                                         Dez / 79


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Quando eu lhe conheci

( Pablo Autamowar )

 

 

Quero

e vou contar ao mundo a minha sorte

que é tão grande meu amor

que nem a morte

será capaz de com ela terminar

Pois, por onde eu for

  continuarei sempre lhe amando

onde estiver

eu vou estar lhe esperando

por mais que dure

a hora de você chegar

Vou, gritar ao mundo

que não há uma loteria

que dê um prêmio

comparado a alegria

e o prazer de ser amado por você

Quando lhe conheci

eu descobri o verdadeiro

significado do amor

pois, lhe conhecer

me fez o homem mais feliz

aqui da terra

posso dizer meu amor

sem qualquer medo de errar

que é em mim

que a felicidade encerra

que foi de mim

que nasceu o verbo amar

Lhe amo

e o amor pra mim

não tem prazo de validade

por mais que sinta sua falta

e saudade

vou esperar a hora de você voltar.

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SONHAR

( Ney Valença )

 

Vem comigo me fazer sonhar

Vem comigo me fazer sonhar

 

Voar contigo

pelos ares, sobre os mares

sentarmos juntos

nas colinas a conversar

Loucos abraços

arrepiam o corpo inteiro

sobre o tapete

flutuando no luar

 Vem comigo me fazer sonhar

Zarpar contigo

velejar nos seres mares

noites de estrelas

corpos nus, brisa do mar

Beijos ardentes

e um amor que é verdadeiro

no infinito

entre a terra, céu e o mar

 Vem comigo me fazer sonhar.

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LAMENTO

( Naldo Dourado )

 

Amor...

desde que foi embora

cravado no meu peito

ficou o teu coração

Ah! Como choro, como

peno a tua ausência!

Quem dera encontrar-te

e juntos descobrirmos

mais da vida: Poder

de novo dizer que

te amo! Oh, amor

somente com a tua vida

a minha se completa!

Para os meus braços

volte e me faça feliz

Faça rir quem apenas

chora, faça viver quem

de amor padece. Em dobro

prometo amar-te mais

e mais. Volta amor! Volta

e cura a dor, a dor do amor

que no meu peito explode!


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AMOR DIVIDO

( Paulo Estanislau )

 

Hoje eu cheguei em casa

e encontrei o seu bilhete de adeus

juro que não entendi

por isso peço venha me dizer

o que é que você quer fazer

fazer comigo

Vem dizendo que cansou

que pra você tudo acabou

que não aceita esse amor

tão dividido

tantas vezes eu Já lhe pedi

Não me obrigue a escolher

eu quero ele e você

Sem um dos dois

Vou ter um coração partido

Mas, se é isso o que você quer

não quero mais outra mulher

vai ser só ele e eu

só ele e eu pra toda vida

Não sei de nós

quem é mais que vai sofrer

mas você vai se arrepender

pois o seu caso é de paixão

mal resolvida

Não adianta essa pressão

ele é meu coração,

comigo ele vai ficar

pra toda vida

Ele é o meu sonho dourado

por isso volto a lhe dizer

eu jamais irei vender

o meu Chevette encarnado

Não vou vender,  não vou vender

Esse Chevette é minha vida

Ele é o meu sonho dourado

Não vou vender, não vou vender

não vou vender, não vou vender

não vou vender

o meu Chevette encarnado

Você insiste em pedir

para eu me desfazer

e eu volto a lhe dizer

desse amor não me desfaço

ele é a minha vida

sem ele não posso viver

esse carro é o meu sonho dourado

Não vou vender, não vou vender

não vou vender, não vou vender

o meu chevette encarnado.


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Vem Sutil

( Marcus Ottoni )

 

 Vem sutil como a brisa das noites de outono

e senta ao meu lado. Faz silêncio

Apenas escute as corredeiras de minha alma

jorrando gotas de sentimentos por meu olhar

Veja quão profundo é o rio que desagua

no meu oceano de paixões formando remansos de desilusões

Põe tua mão na minha e deixa que te guie por montanhas

de emoções que se erguem em meu coração

Afasta o medo de se entregar

ao desconhecido mundo novo da felicidade

Não seremos nada quando o sol raiar amanhã

Vem, esqueça o mundo... apenas por alguns segundos.


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DOIS EM HUM

( Ney Valença )

 

Somos

como beijos molhados

eu e você

línguas entrelaçadas

somos gargalhadas

de uma felicidade sem fim

 

Somos

como sonhos felizes

você e eu

agarradinhos, mas livres

somos destinos

que resolveram estar juntos

 

somos

os donos do mundo

nós dois

Rainha e Rei

de um Reino invisível

onde o amor é lei

 

Somos

simplesmente o que somos

sem enganos

dois em hum

sintonia perfeita, harmonia

Um amor pra vencer o tempo.


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Fio de Lágrima

( Naldo Dourado )

 

Escorre um fio de lágrima

na maçã do rosto da mulata

Ela dorme feito anjo. É linda

e tem os cabelos cacheados

Através do curto vestido as

belas coxas ficam expostas. Os

lábios pintados de vermelho

deixam a boca uma obra de arte

Envolto no pescoço repousa

o colar prateado. O reluzente

anel de ouro enfeita o dedo

de unha pintada. Sobre a fronte

de tez suave vê-se a sobrancelha

contornada. Em um pé o sapato

de salto, o outro caído no chão

do quarto. Igual relâmpago

na noite, brilha a pele macia

da mulata.


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Hora de amar

( Cesar Athayde )

 

 Baby

abre os olhos e procura ver que o meu querer é bem maior

do que se prevê

Um dia, 

ainda hei de ter você a meu lado

embalados estrada afora

hora de ir e vir

hora de amar... 

Baby

que tal a sensação de rir na cara dos otários

que sempre nos condenaram

que tal ligarmos nossas mentes em projetos indecentes

que tal burlarmos essa gente metida a decente

que tal fazermos amor dentro do banco da roda gigante do parque?

Baby

abre os olhos pra sacar que realmente eu te quero 

quer a dor me deixou e o amor tomou o lugar

Baby

não sei porque fazer dessa certeza de amar um problema

pois se assim o fosse , carregaria eu no peito um ló lema: Te amar!

Baby

abre as veias

espana as teias

libera as carpideiras faladeiras

deixa que falem que não presto

pois eu atesto que te amo

e isso sim é o que importa...

Baby 

acorda

a hora de amar chega pra nós....


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AGRIDOCE

( Ney Valença )

 

Torno ao entorno

e faço o contorno

retorno ao princípio

Nisso, ao vício

deixo um resquício

um aviso do fato

retrato do ato

agravo do óbvio

esnobe e compacto

 

Dado do lado

da mente descente

o ócio do fraco

o forte do lento

a pressa do estático

a régua do movimento

o olhar cabisbaixo

a flecha no ventre

a volta em compasso

o círculo emitente

o certo e o errado

de braços dados pra sempre.


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SANGRIA

( Naldo Dourado )

 

Heróis e sobreviventes

Filhos do babaçu, gente

da luta, labutam. Acordam

com o sol, sobem serra

adentram na mata, atravessam

riacho. Grito de machado

voz sem eco, macete, mãos

calejadas. Sangria, cavaco

nos dedos, cofo com coco

nas costas, comida rala e

fria. Pilha de coco. Machado

batendo. Histórias tristes

riso nos lábios. Poço de

simpatia. Pôr do sol. Volta

para casa: Cansaço nas pernas

ouro nas costas, boia na mesa

orgulho de ser gente, farta

alegria.


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SONETO PARA INSONIA

(Pouchart)


Não há pau que não vire pedra.

Não há caverna que não se abra.

Não há prazer que não se descubra.

De dia, de noite, de madrugada.


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Em algum lugar

(Marcus Ottoni )

 

Quando a noite descer sobre teus sonhos

e fizer do amanhã um futuro sombrio

pense que em algum lugar alguém pensa em você

Lembre sempre que alguém todo dia

em algum lugar, luta para você ser feliz.


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Sem explicação

( Paulo Estanislau )

 

 

A você incomoda

o meu jeito de Guardá-la em mim

mas não sei por que

Não posso esquecer uma relação

que extrapolou os mais utópicos sonhos

a mais ambiciosa fantasia

Onde, até o mais romântico sonhador

Imaginaria ser necessária a paixão

para se chegar ao amor

Amor, que no meu coração

surgiu como um relâmpago

e como um raio, no seu findou

É própria a forma de guardar em mim

o que de belo e grandioso existiu

Você também sentiu, mas não guardou.


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POESIA

(Euds Martineri)


a poesia retrata
bem acima da meta
a verdade da vida
de uma forma concreta
posso fazer uma aposta
ela pode ser uma bosta
mas o poeta conserta

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Tusa...

(Marcus Ottoni)

Tusa...
Poderia ser qualquer musa.
Daqui ou do Oriente. Do sol nascer ao sol do poente.
Musa de todos os homens sãs...e também dos dementes...
Daqueles cuja boca ri com dentes ou dos outros cujo sorriso se esconde na blusa.
Tusa é simples, ordeira e complacente.
Também é obtusa, confusa e ausente.
Pisa firme no chão e mantém a cabeça na bruma fresca da indiferença.
Faz do céu o inferno e do inferno o paraíso dos apaixonados.
Tusa poderia ser, mas não é.
Por que será? Será que Tusa ainda virá a ser?
Quem sabe...
O dia em que Tusa for, a flora se abrirá em flor de pecado, de alucinado, de desvairado...



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Esperança e medo

( Marcus Ottoni )

Os dias são cinzentos sem o brilho do sol
Pessoas são silhuetas móveis
na densa neblina de fumaça
que encobre a verdade da vida
Há esperança de um novo amanhecer
e há sinais de uma nova sensação de prazer
Mais do que igual é a semelhança do sentimento
que domina meu coração e me faz temer o que virá
Porque não sei se virá como quero, como quer ser
ou como temo que aconteça novamente
o que não quero mais que venha para mim.

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Amor chiclete

( Cesar Athayde )

Que sufoco louco
saber do amor e calar
matar no peito à pauladas
essa dor que quer sair
explodir
transbordar
dor que grita sacode esperneia
que quer pular
e fazer todos entenderem
como é belo o meu querer
como é gostoso o meu amar...
Que sufoco louco
fingir-sorrir quando o desejo é chorar
ter que dar bom dia ao inimigo
quando a vontade é de esganar-matar, é deprimente
Que sufoco louco
olhar e não bandeirar
fingir-fingir-voar
é horrível saber que por enquanto ninguém
de ti, pode me curar...
É horrííííííível
porém verdade
meu louco e sufocante amor.

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Amolecer jamais Lembrando Niemayer )

( Pablo Autamowar )

Quando o céu escurecer
e o nosso sonho quebrantar
de nada vale chorar, se ocultar
deixar a vida esmorecer
É lutar, lutar, lutar
e o céu novamente brilhará
a vida reacenderá
você vai ver.

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Não sei viver sem lhe ver

( Paulo Estanislau )

Errei, sei que errei
mas errar é humano
você tem que reconhecer
não é justo por um simples erro
agora ter que sofrer
Se você tiver que ir
não saberei o que fazer
minha vida perderá a razão
Por mim, pode até parar
o meu insano coração
Errei, sei que errei
fui às ruas e xinguei
levei bandeiras e faixas
e fora Temer gritei
Mas foi tudo sem pensar
que Temer indo
ele iria lhe levar
Agora, a qualquer hora ele vai
indo, levará você
Eu fico a me perguntar
o que é que vou fazer
só me resta é gritar
Fica Marcela fica
Não sei viver sem lhe ver
Fica Marcela Fica
Juro não vou aguentar
sem você posso morrer.

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Os segredos da noite

( Marcus Ottoni )

Noites existem para guardar segredos e mistérios
É na noite onde tudo se revela desnudando
as entranhas do mais envergonhado desejo humano
Não há pudor, nem temor, nem vergonha
Não há pecado, vexame, dor
Não existe limite nem censura
A liberdade é filha da noite
assim como a luxúria é madrasta da escuridão
O pecado que o dia esconde
se revela por inteiro, absoluto
liberto quando a noite surge
escancarando a verdade humana.

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Só um coração basta

( Cesar Athayde )

Some dor
te afasta por favor
pois o meu coração cansado vai levantar voo
e no vasto azul do céu procurar
o remédio pra essa louca paixão
Voar como a gaivota
não querendo saber pra onde leva o vento
viver da fantasia de que precisar estar vivo é mais forte
Agora, meu coração só acredita na luz de olhos que brilhem amor
luz que dos teus a muito apagou
Fugir da cidade é preciso;
pois em cada canto, de teu
resta dor
dor que me secou
Vai dor, some
meu coração cansado
na garupa da esperança
galopa nuvens brancas
a procura de um outro alguém
voar, com a gaivota
deixando o vento traçar a rota
deixando meus olhos lavarem a derrota desse caso de amor...
Voar a vida toda se preciso for
Mas voltar
jamais! 

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DELEITE

( Ney Valença )

O adeus abre o começo
Olhos chorosos, visão turva, confusa
La fora, ant’ontem de cor púrpura
deleite de um sonho arrogante

O dia passeia tranquilo, sem horas
desdenha em risos sobre a relva macia
viajante turista em terras sem dono

Aquem-de-Quem conheceis as tramoias
a mando do acaso sois suspeito oculto
de um laço sem nó, nas amarras da vida

Despenca assim no desfiladeiro
morro abaixo, num buraco sem fundo
assustado, solto, sozinho

As mãos trêmulas
socorrem a lágrima perdida
aflita, num rosto moreno
agora em gozo pleno
e deliciosa-sexo-almente feliz
com a despedida.

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Dona do Prazer

( Naldo Dourado )

Bela dama! Lábios de mel
sorriso inocente. Anda
na corda bamba, pisa
em pregos, rompe aço
mergulha na lama. Dama
pele de seda. Cheiro de
manhãs chuvosas! Sereia
encantada! Anjo a contemplar
o céu em dia de sol e em noite
de luar. Bela dama! Enrosca-se
no vento, escala montanha, voa
com as nuvens, conversa com
as flores. Dama, Bela dama
teu nome é prazer, beleza
das águas cristalinas e puras!
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Não desperte os cães negros de minha alma

(Mao de Carvalho)

“Deixai meus cães negros adormecidos em minha alma onde os coloquei em silêncio e quietos. 
Não despertai a ira que os move e que me domina quando estão alertas e enfurecidos. 
Temei a metamorfose do ser se meus cães negros despertarem do sono a que os confinei. 
Nada será bom, nem para mim, cuja demência incontrolável me fará vomitar revoltas contidas em anos e anos de decepções, nem para aquele que por ventura me queira bem e deseje me amar e cuja essência se desperdiçará pela fúria dos cães negros despertos desnecessária, irresponsável e incontrolavelmente.
Deixai-os quietos, dormindo, aprisionados em sonhos de guerras internas e inacabáveis. 
Não os atormente com o despertar e não me acorrente ao que virá quando meus cães negros se soltarem das trevas onde habitam em sono eterno. 
São senhores da discórdia, são mestres do pecado, são donos da insensatez, são a alma em pedaços,
 a carne em sangramento, o ser mutilado de consciência. 
É a dor que mortal jamais sentiu, o infortúnio da solidão, a insanidade do querer, 
o inferno que queima a alma e destrói o ser.

Deixai meus cães negros adormecidos. 
Não os acordes com seu amor por mim”

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A canção de dor ( pra Tu)

( Cesar Athayde )

Doido amor
que estrago a tua ausência faz
buscar no álcool o paliativo
fazer a cabeça a qualquer preço
tentar iludir o coração que grita teu nome
e descobrir, ao fim de tudo, desolado
que não há comprimido pra dor de amor
e que pra tua ausência
nem mil outras presenças satisfazem...
Doido amor
tua ausência fez do meu carnaval
um grandioso finados.

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A última noite

( Marcus Ottoni )


E seria aquela noite a última das três do final dos tempos
Tudo se faria escuridão, sombras e temores
Pairava no ar a incerteza do amanhecer e o amanhã
poderia ser a própria noite escura do fim dos tempos
Seu coração batia na minha mão
seus cabelos riscavam meu rosto
sua boca pedia meu beijo
e seu corpo desejava o amor derradeiro
A noite avançou sobre nós e o que jamais foi dito
se fez verbo e tornou-se carne, em ti, por mim.

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Nada sei

( Paulo Estanislau )


Nada sei de minha alma
Da tua nada sei
Nada sei dos teus fantasmas
Os meus jamais vi
ou acreditei
Sempre que te vejo
É imenso meu desejo
de matar em mim
a sede e a fome
de sorver de ti
tudo
o que ainda não sei.

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Na curva da ponte

( Ney Valença )


Cheiro de mato e capim
Yasmin minha flor do campo
em São Fidélis, meu canto
minha cidade jardim

Aroma do café moído
barulho de pássaros e moenda
de carro de boi na fazenda
fincada a beira do rio

Lembranças de uma família
trabalho de roça e plantio
do gado, do leite quentinho
tirado das tetas com as mãos

Saudade do sapo brejeiro
galopes em cavalos troteiros
nas planícies de relva macia

Tardinhas de sol lá no monte
namoro na curva da ponte
e noites de viola caipira.

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Vida em rotação

( Naldo Dourado )


Vida, criação notória
Rotativa, estrangeira
Alicerce, areia movediça
chão de pedras, espinhos
Vida, jazida de diamantes
Ovo na casca, tesouro
violado, tromba d’água
dragão. Vida deslizante
sopro colossal, berço
sagrado e profano, fel
e mel. Vida. Maravilha
primeira, trevas e luz

em constante rotação.

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MEIAS COISAS

(Lara Fernandes)

Estou cheia de meias coisas.
Meias verdades;
Meias mentiras;
Meias vidas;
Meios amores.
Se não posso te ter por inteiro por que teria só metade de ti?
De que me adianta uma vida cheias de meias coisas?
De que adianta um mundo incompleto, se não terei você como parte dele.
Tome todas as metades que colecionei da vida.
Tome-as e quem sabe assim;
Serás inteiro.

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LACRIMAR
(Adnaloy)

A gota em movimento 
lava o resto
do que sobrou
do sal.

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DOIS
(Adnaloy)


Além da cor esverdeada
Da íris dos seus olhos
Surge o vermelho
Tal o tom da paixão.

Rasgando sem medo
Mostrando, sem segredo
Driblando a razão
Com pressa de viver.

Ardentes e saudosas
São as lágrimas que escorrem
Além da palidez molhada
Frente ao espelho

Onde mostra, sem perdão
A face do amor
Que transmite, em vão
A ausência de você...e eu.


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ODE À BRASÍLIA (Ao Behr)

( Cesar Athayde )

Quando passares por mim na praça dos 3 Poderes
não me chames com tua voz enlouquecedora
pois assim sendo, chorarei de emoção
e o choro fará com que eu quebre o frio estético
que faz o modernismo da Praça
Se me veres, ao longe, em plena Rodoviária
não grites meu nome
pois ao voltar-me bruscamente em direção a tua voz
posso traçar no espaço um traço desgracioso
incompatível com as linhas severas da Rodô
E, se quiseres me amar, faça-o retilineamente
pois do contrário, nossas sombras imperfeitas quebrarão
a perfeição gelo da nossa cidade monumentos sombras
Não me tentes, a correr pelos verdes gramados da torre
de televisão
isso é pecado, contra os quadriláteros perfeitos da cidade
deixa que meu amor te dome e se espalhe
largando a perfeição estética na sarjeta
pra sair de baiana no bloco do Pacotão
Quando nossas tristezas forem maiores que a própria cidade
vamu’nos embora pro campo
lá, pelo menos, somos amigos do rei...

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Reflexão

( Paulo Estanislau )


 Caminho
pela cabine desse imenso avião
feito de concreto e sonhos
Espero o tempo passar
pensando no meu tempo
Olho carros e pessoas
que passeiam lentamente
e novamente
penso no meu tempo
que passa rápido demais
para meu gosto
Para minha sorte
traz-me mais alegrias
que desgosto.

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À noite a liberdade

( Marcus Ottoni )


Noites existem para guardar segredos e mistérios
É na noite onde tudo se revela desnudando as entranhas
do mais envergonhado desejo humano
Não há pudor, nem temor, nem vergonha
Não há pecado, vexame, dor
Não existe limite nem censura
A liberdade é filha da noite
assim como a luxúria é madrasta da escuridão
O pecado que o dia esconde se revela por inteiro
absoluto, liberto, quando a noite surge
escancarando a verdade humana.

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Vida desconhecida

( Naldo Dourado )

Minha vida está exposta
À mim, não me conheço
Sou um estranho, o
mundo não me conhece
Não conheço o mundo
Toco-me mas não me
sinto, meus olhos não
me veem. Estranho,
busco o encontro comigo
porém de mim sempre
me afasto. Afasta, a vida
de mim se afasta. É
tudo muito estranho
sou um estranho. Minha
vida, versos estranha. 

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O CHATO

( Ney Valença )

Eu tenho poucos , bons e velhos amigos
Eles, às vezes, me acham chato
Mas “viri-i-mexe” me agradecem
por ter falado “coisas ruins” ontem
para que eles, hoje

estejam numa boa.

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EU TENTEI...
(Lara Fernandez)


Eu tentei te pintar de todas as formas possíveis,
Tentei desenhar sua silhueta, seus cabelos, os seus olhos 
e a pequena distância das suas sobrancelhas.
Tentei fazer com que cada detalhe fosse unicamente idêntico ao teu.
 Tentei de todas as formas te trazer de volta pro meu mundo,
Talvez assim eu pudesse me enganar.
Criar uma ilusão da sua presença e assim pudesse viver um pouco mais.
Essa tua ausência me faz ser uma artista barata.
Quero fazer pinturas de você na varanda;
No meu quarto, na minha sala de estar.
Quero te trazer de volta,
Quero largar todos esses lápis e desenhar meus abrações de saudade 
e beijos de paixão em teu corpo...
Enquanto tu não chegas, sobrevivo das doces memórias,
De que um dia sem lápis de cor, e sem folhas;
 Nós pintarmos todo nosso amor.

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MADRUGADA
(Euds Martineri)


O choro da madrugada
É como uma velha canção
Que não dá mais emoção
Porque não tem mais a vitrola
Feito um pé de carambola
Que não tem mais o Sabiá
O que cantava por acolá
Alegrando a meninada.

Ah!.. minha madrugada
Retorne em harmonia
Jogue fora essa agonia
Que invade o peito meu
Me devolva em tempo seu
Aquele sonho encantado
De amor pra todo lado
Feito um conto de fada...

Ah!... Minha madrugada!

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MESA VAZIA
( Cesar Athayde )



Como se não houvesse crime
em nos proibir de amar
como se pecado maior não houvesse
de querer a um gueto qualquer nos relegar
dizer que é sujo nosso amor
é bem pior do que não querer nunca se achar
pois todo amor é sincero
e é pura e linda qualquer maneira de amar...
Se não me bastasse o medo
de poder perder teu amor
ainda me sobra o ódio
daquele que nunca gostou
Se Cristo mandou que amássemos
quem ousa nos repudiar
dizer que Ele é pecaminoso
é o mesmo que abrir um fosso de dor
Como se não fosse hediondo o crime
de tentarem nos afastar
transformar nossas vidas numa mesa vazia de fundo de bar
não sabem esses assassinos
que tudo começa no coração
até a razão da razão se encontra no coração
e não temos culpa de sermos a terra e o sol
de nosso próprio gostar...
Como se fosse pecado
me proibirem de gritar que te amo
de sorrir pra vida
de querer ser feliz ao teu lado
crime é fazer uma ponte
que em vez de unir venha a separar
Como se pecado maior não houvesse
do que ter e não poder te pegar...
Como se fosse pecado
o fato bonito da gente se amar...

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liberdade da paixão
( Marcus Ottoni )

 

 A liberdade da paixão é conquistada
quando não se prende o coração
com a mesquinhez da possessividade
Libertar o amor em toda plenitude
é deixar que a alma passeie pelo puro
sentimento da entrega e do prazer
Saber se dar faz parte do querer bem
do mais completo momento da existência
Abra tua boca para beijos mil
Abra teu corpo para se entregar por inteiro
Vem, toma esse desejo
e me faz crescer dentro de ti.

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ESTRELA
 
( Pablo Autamowar )
  

Vejam
como é linda essa menina
linda morena, morena linda
sua alegria a todos contagia
seu jeito meigo
e o seu sorriso nos fascina
seus olhos lindos
são duas pedras preciosas
joias raras, que parecem
pedras azuis de turmalina
Estrela de raro brilho
És luz, és perfeição, és esperança
Singela, Estela
Deusa do amor e da Beleza
em meu reino encantado
o teu destino foi marcado
nele, serás sempre uma princesa
Estrela, Ishtar, Ester, Estela
Estela, Estela
Quero ser pra sempre o teu menino
Vem, vem ser
para sempre a minha menina
Linda, estrela linda.


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ELO
( Naldo Dourado )


Doces olhos
de riso, visão
do belo, amuleto
e vida, bouquet
de flor. Olhos
olhar de vida
eterna, feitiço
mel na comporta
porta aberta
beija-flor. Olhos
voz do coração
desejo, raio de
luz, livro folheado
tema, amor.

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DEVANEIOS

( Ney Valença )

Mãe,
Quem são aqueles ali?
Ah! Menino. Eles são o pessoal do livro
Posso ir lá mamãe?
Não menino. Caem bichos das arvores
O que eles estão fazendo ali?
Ah! Sei lá. Caminha garoto
Olhares curiosos desnudam os poetas
que proseiam à sombra do pequizeiro.


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PANDEMIA

( Euds Martineri )


1
Essa tal de PANDEMIA
Tá difícil de aguentar
O povo de quarentena
Em casa sem trabalhar
As crianças inocentes
Brincando tudo contente
Sem sua vida escolar.
2
Tem estudo até ON LAINE
Mais né MERMA coisa não
Um vídeo VÉIO que trava
E quebra a concentração
A professora explica
Na hora daquela dica
Desaba a conexão.
3
Coitado é dos Idosos
Que não tem o que fazer
Não beija mais seu parente
Para assim se proteger
Quem ainda entende é bom
Mas quem não tem esse dom
Tá prestes a adoecer.
4
A moda agora nas CARA
É máscara de toda cor
De lista, lisa ou bolinha
Ou coração de amor
Cada uma diferente
Que o dono sorridente
Se acha que ARRASÔ.
5
E também tem umas LAIVE
De artista Nacional
Começou meio sem graça
Mais agora é imoral
Tem LAIVE de hora em hora
Sofrência boa que chora
E CANA descendo o pau!
6
Um tiroteio de GELA
Wisk, cachaça e Rum
A comilança é grande
Mas não é pra qualquer um
É daquele povo seleto
De dinheiro feito concreto
Difícil se quebrar um.
7
Tem LAIVE de todo jeito
Para estudo e saúde
Não deu para eu ver tudo
Mas eu fiz o que pude
Para ficar antenado
Neste tempo internado
É importante atitude.
8
Estica e puxa é a moda
Das mininas novinhas
Na garagem de casa
Com diferente roupinha
Um treino daquele jeito
Posta o vídeo perfeito
Mostra que tá magrinha.
9
Tudo está muito bom
Na casa do dito povo
Não falta nada na mesa
Nem caviar, dirá o ovo
A alegria concreta
Ostentação completa
Tudo está maravilhoso.
10
Sem querer só criticar
Mas só analisando
O pobre que lá está
Na sua casa chorando
Sem o pão pra comer
Que não tem o que fazer
E a fome só aumentando.
11
Sem o trabalho do lar
Do pedreiro, servente
Costureira e vigia
E pessoas dependentes
Do trabalho essencial
Pra questão pessoal
Comunidade carente.
12
Quem nunca passou fome
É difícil de entender
A dor que o povo sente
Que não dá pra esconder
Chega ser  até maldade
Se tendo capacidade
De ajudar e não fazer.
13
É bonito até de ver
Lá nas redes sociais
A beleza do povo
Em tudo, tudo que faz
Para beleza, saúde
Educação, e a atitude
É realmente eficaz.
14
Mas vamos então somar
A essa atitude massa
Uma ajuda importante
Pra muito gente que passa
Um pouco de cada vez
E o ato que você fez
Um pouco da dor disfarça.
15
Que Deus abençoe a todos
A quem tem para ajudar
Proteja os necessitados
Na segurança do lar
E traga a normalidade
Pra toda humanidade
Ampliando o verbo AMAR!"

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Indecisão sobre o tempo

( Paulo Estanislau )


 Quanto tempo pra você
é muito tempo?
E quanto tempo é preciso
para assegurar que é pouco?
O tempo do espocar de uma bomba
ou da luz do seu pipoco?
Um dia, um mês, um ano
tudo é tempo
Uma vida com você
para mim é muito pouco.

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A LUZ...

( Marcus Ottoni )


Se a passagem ocorrer muito antes da abertura do portal
terá sido porque a luz acabou antes que a vela se consumisse totalmente
A chama que mantém a roda da vida
é fruto das emoções construídas pelo coração
e feita verdade na realização da vontade que a alma anseia
A luz ilumina o caminho, ao se apagar, o caminho termina.

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ARRIBAÇÃO

( Cesar Athayde )

Aí, por esse mundo afora
perdidos
amor e liberdade voam
procuram, em vão, uma terra boa
um gole d’água
qualquer lugar atoa
já vagam perdidos um tempo-espaço
a procura de meigos braços
a procura de homens que esqueçam seus corações de aço
de homens que esqueçam o ódio
e que não matem tanto por ambição
andam juntos
sempre procurando e nunca achando
às vezes cansam ante tanta incompreensão...
Aí, por esse céu aberto
a liberdade e o0 amor
voam alto como pássaros
atrás de um peito amigo
e, como Cristo
é uma caverna o que lhes resta
Por aí, por esse mundo afora
voam juntos sem saber pra onde
mas daqui
o meu olhar prescruta o céu
tentativa louca de também voar
voar alto
pra lá de cima te achar
e gritar mais alto ainda
que maior que o nosso amor
só o ar de todo o espaço... 

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Sublime conquista

( Naldo Dourado )

Prazer, sensação de bem-estar
e deleite. Surgem
emoções desconhecidas
ocultas pela razão da
desventura, flutuando
no céu sem asas. Ao sabor
da felicidade goza
sossegada a alma. Com
ida e volta é decretada
a viagem. Do sossego
desperta sedenta à
procura de uma nova
conquista; no movimento
de tempestuoso tempo
o tempo acelera o compasso
Vida tão doce
Sublime.

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Saco de Filó

( Ney Valença )

Esse negócio de falar baixinho
esta história de cochicho aqui
eu já falei que não gosto disso e
por isso é que explico o que vai ser de mim

Já me contaram que você falou bobagens
deturpou a minha imagem e acabou com o moral

Não acredito, pois não é do seu feitio
não combina com seu tipo, nem com seu astral

Não admito desperdício com meu nome
pois não tenho sobre nome
nem tão pouco saco de filó
Mas admito que andei injuriado
maltrapilho e maltratado, eu vou
levando a vida mesmo assim
levando a vida mesmo assim.

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LIBERDADE para YÓ

(Adnaloy)


Te liberto das memórias doentias 
Das saudades esdrúxulas
De desejos e vontades torpes
Dos vícios indignantes e cruéis.

Te liberto das lágrimas 
Das loucas noites mal dormidas
E insônias ferozes de dor
Por não ser real o tal amor. 

Te liberto das mágoas 
Cortantes e insistentes
Que tanto marcaram seu corpo
Corroendo o melhor de ti.

Te liberto, por fim
Da ansiedade diurna
Da solidão noturna
Que separava você de mim.

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À QUEM INTERESAR...

( Marcus Ottoni )


Avisem aos meus amigos
que não mais os farei rir com minhas trapalhadas
Que não mais os importunarei com meus queixumes
com minhas magoas e com minhas desilusões
Também não mais os incomodarei
com meus choros por amores perdidos
com minhas lamúrias por paixões desfeitas
com minhas dores por perder
quem para mim era importante
Avisem a todos eles
que não me aborrecerei mais por me deixarem só
quando mais os queria por perto
Que não me incomodarei mais
quando o celular deles avisar que estão me evitando
e que devo falar com a caixa postal
Avisem, ainda,
que os continuarei amando como sempre os amei
Para as mulheres queridas, digam que cessou o assédio
e que não mais as excitarei com versos idiotas
ou poemas eróticos recheados de sensualidade
Digam a elas que as amei como nunca
cada uma em seu tempo
e com a intensidade da cumplicidade do momento
Mas, fundamentalmente, digam aos meus inimigos
 que, enfim, acabou o suplicio deles
o martírio de minha doce e rebelde ironia
da aguerrida vontade de consertar o mundo
 que eles teimam em transformar num esgoto deplorável
que merece, hoje e sempre, meu ousado combate
Digam a todos que fiz o possível
para poder fazer o impossível
tentando transformar minha vida
 numa longa estrada de amor ao mundo
 e às pessoas que cruzaram meu caminho.

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BALADA PARA UM SORRISO

( Cesar Athayde )

O medo
mora ao lado
louro cor de pecado
dos dentes marfins
encaracolados cabelos
olhar de cachorro morto
carregado de um gostar tarado
tem um andar bem cadenciado
até malemolente
há uma preguiça geral no corpo tão bem bronzeado
O medo
mora ao lado
sorriso irônico debochado
moleque falar pousado
um jeito maneiro de respirar
de dizer: É MASSA!
pra tudo que achar legal...
O medo
mora ao lado
da cor louro do pecado
a direita ou a esquerda, não importa
mora
e me namora, o desgraçado
todas as tardes
às 18 em ponto
de cima do muro me diz boa tarde
com um sorriso bobo de quem nada quer
mas com um hálito quente de pede sexo
O medo
mora em mim...

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Lembranças II

( Paulo Estanislau )


 Na minha infância querida
as roupas da minha vida
de cores vivas, intercaladas
penduradas no varal
pareciam bandeirolas
das festas de São João
belezas do meu nordeste
das danças de coco e ciranda
das quadrilhas onde eu
me carregava de paixão
Namoro ao redor da fogueira
beijos apaixonados
com mil juras de amor
hoje são apenas lembranças
sem vida, sem alegria
pedaços de pano sem cor.

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Terra de Bastião

( Ney Valença )


Hoje cedo o mar bateu em minha porta
estava revolto, com ondas altas, de marés cheias
Veio me chamar para a praia

O sol cooperava com o dia tornando-o brilhante
radiante, verdadeiro significado de saúde e vida

Na areia, ainda cedinho, vejo jovens fortes
de corpos definidos, armando redes, guarda sol e cadeiras
e ambulantes organizando seus quitutes

No asfalto, nervosos apressadinhos disparam suas buzinas
como se assim pudessem fazer andar o trânsito

O meu Rio de Janeiro acorda altivo
continua sendo o Rio das praias lindas sem fim
O Rio foi feito para mim

As morenas vão chegando, as ruivas, as negras e as loirinhas
Tudo parece combinado, tudo se encaixa, tudo fica perfeito

Pego a minha prancha e vou
Menino do Rio, menino moleque
feliz por viver na Cidade Maravilhosa
abençoada por Deus.

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Sem Tempo Fixo

(Marcus Ottoni)


Chove aqui como nunca choveu lá.
O inferno não é de fogo,
mas é líquido, frio e volumoso.
O diabo não é vermelho, não tem rabo nem chifre,
mas usa preto, tem diploma e poltrona chique.

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Balada pr’aquele cocota idiota

( Cesar Athayde )


Não se desespere amigo
pois perigo mesmo
é fugir da emoção
é tentar calar o coração que grita
é tentar fugir
e fingir desinteresse daquela mão na mão
Nada disso companheiro
falar que é pecado aquele beijo roubado no banheiro
é super errado
mais que uma mancada, parece até piada do Costinha
Tudo é divino e gracioso
e nada atrapalha duas bocas coladas pelo prazer
Sem essa de olhar de lado
fazer cara de pouco caso
pois quando o vês
teus olhos piscam mais que luz de árvore de natal
Sem bandeirar meu amigo
perigoso mesmo é morrer sem ter tentado
sem deixar que o coração corresse livre pela vida
e ficar com medo da dor que o amor pode causar...
Mas que nada meu amigo
tentar pouco é que é pecado
Vai fundo
encosta de lado
e te derrete no prazer que só o amor dá...
Não se desespere amigo
pecado
é ficar só no desejo!

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Dúvida atroz

( Marcus Ottoni )


Caminhei léguas sem fim para aqui chegar
Enfrentei noites de frio e desesperos
Segui pegadas erradas e me deixei errante
em caminhos nunca antes percorridos
Escalei montanhas, atravessei florestas
nadei em lagos profundos
em rios de corredeiras traiçoeiras
e outros de águas calmas
Senti medo e fome. Suportei a tirania de opressores
e fui solidário à irmandade dos povos sofridos
Arrastei-me quando não mais havia forças para caminhar
 e dormi ao relento, sob a lua
debaixo da chuva e ao largo das ventanias
Cheguei. Agora não sei se quero aqui ficar
ou se retorno para o lugar de onde saí.

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Negra e Linda

( Paulo Estanislau )


De repente, veio o bote
que me jogou ao chão
Tive as roupas rasgadas
fui mordido, arranhado
por suas garras afiadas
Não me deixava levantar
Não consegui resistir
sequer lutei
Me entreguei aos desejos
e à fome de carne
daquela pantera negra
Quase morri
Jamais esqueci.

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Saudade que não se esvai

( Naldo Dourado )


No jardim brilha a rosa amarela
Igualmente a ela, apenas ela! Baila
ao sabor do vento, exala o cheiro
bom do relento. Ah, que rosa bela!
O dia em tuas pétalas faz morada
o sol, o teu camarada, respira e
faz respirar o ar puro da saudade:
Da saudade cortante, da saudade
que não passa, da saudade distante
Ah, rosa amarela! Sempre aí, tão
bela, sublime, majestosa, enchendo
de esperança os olhos de quem só
definha, de quem de amor morre
de amor padece. Não morra de amor
rosa amarela! Morra, mas morra
quando chegar a tua hora.

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AQUELE GRITO

( Cesar Athayde )

Quando te amei
tinhas a sinceridade de uma criança
fazias beicinho, quando contrariado
e cara de choro quando me vias em outros braços
tinhas (e é verdade) a sinceridade das coisas simples
o gosto d’água de poço
o sabor de comida caseira
e um ar de gente da roço...
Quando te amei
deixavas sempre, em minha boca, o gosto do amor
e no meu corpo, depositavas a certeza dos amanhãs
Agora, que como uma pétala, presa entre páginas velhas e
amareladas de um livro antigo
luto entre o não amarelar e o não sufocar
sinto, debalde, minha tentativa desesperada de recomeçar
Inútil, pois já não tens a sinceridade da criança – És homem!
Já não mais fazes beicinho – És homem!
Já não mais fazes cara de choro – Homem não chora!
Das coisa simples te afastaste
o gosto d’água de poço cedeu lugar ao gosto de cerveja
e de caseiro, nada mais resta
Ao acabares com tudo
deixaste preso em minha garganta aquele grito de alerta
que não ribombou
aquele querer dizer do erro
aquele grito que tentava mostrar defeitos
aquele grito seco de amor...
Deixastes (como um feto) em mim, uma dessas dores
que jamais acabam!

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Chuva e Lágrimas

(Marcus Ottoni)

Chuva que lava as ruas.
Tal qual as lágrimas que molham minha alma
Chuva e lágrimas...
Águas que correm em compassos desiguais
Que desaguam em desordem natural
Cada uma com sua correnteza própria
E com destino fatal
Uma se joga no oceano
Outra explode em meu olhar.

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Homens e saber

(Marcus Ottoni)

Há homens que juntam momentos na vida.
Outros, mais afoitos, cortam estradas pelo mundo.
Há também os que multiplicam emoções.
Existe, ainda, aqueles que partem sem deixar saudade.
E há, alguns, não poucos, que colecionam decepções.
Estes são os que mais aprendem sobre o ser humano.
Todos os dias.

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ELEGIAS DO ISOLAMENTO III

( Antonio Biancho )

A métrica deixada de lado é um verso livre
O adeus visita a todo instante
A dor que sentes na alma
Se não tem pele ou ressentimento
Por que não passa?
Sentes
Reticente
E se não for feio
Nem for bonito...
Sentes
Se não tiver lado ou se for quente ou se for frio
Empatia não tem cor. Mas entendimento
Tem busca
Amizade
Tem amor
Sentes
Um negociar da paz e de renascer a cada momento.

30 05 2020

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Balada da Prostituta Afortunada

(Para Vânia Bezerra)
( Cesar Athayde )


Foi num desses circular TAGUATINGA-GUARÁ
que eu o conheci.
Belo como um cão
mas cheirava a construção
naquele fedor de sabonete gessy...
Tinha os cabelos mais louros ouros, que o mais aparafinado
cocota ipanemense
e a pele bronze, era de dar inveja a qualquer um
Tinha a leveza de quem vive numa asa delta
- talvez a tenha aprendido no duro ofício dos andaimes –
na roupa sem gosto, a característica
no tênis horroroso, a revista
nos calos da mão a certeza
de que o love da sua camisa era sonho...
mais do que belo
tosco
como uma obra inacabada do aleijadinho
Mas, aquele olhar brasa sexo puro
fazia mudar qualquer opinião estética
e aqueles músculos, que mais pareciam os vergalhões
de sua construção
valiam, por si, toda a quebra da beleza convencional
Foi assim
como uma prostituta
que eu descobri
que na rua
também circula o amor... 

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SOFREGUIDÃO

( Marcus Ottoni )


O que faço é construir redemoinhos de banzo
de saudades que são minhas e que pouco importa
àqueles dos quais desfruto a amizade
São espirais de melancolia
amores que não tive, paixões que abortei...
Esse banzo sem fim, sem ponto final
cheio de reticências inacabáveis
e repleto de desilusões e queixumes
São os meus banzos que em espumas de saudades
constroem uma solidão indesejável
Banzos meus que, talvez, também sejam banzos teus.

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Viver à custa de alegria

( Naldo Dourado )


Palhaço faz a vida alegre
Alegre canta, alegre dança
alegre distribui alegria
faz rir a tristeza, enaltece
o coração de magia. Palhaço
soma vida com vida; alegre
vive, alegre chora, alegre
oferece simpatia, faz rir
quem chora, quem não rir
chora de alegria. Palhaço
faz da vida um riso, alegre
dorme, alegre sonha, alegre
faz do mundo uma fantasia:
Faz viver quem não vive e
ressuscitar quem não vivia. 

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1987, só um

( Paulo Estanislau )


Talvez
sejamos os mais criticados
Talvez e apenas talvez
sejamos os mais perseguidos
Não admitem a nossa conquista
Transformaram o sentimento de perda
de insatisfação pela derrota
em um mesquinho
sentimento de ódio
Que pena!
Em 87 houve só um Campeão
Um Rubro
negro
e nordestino coração
De LEÃO!

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A VIAGEM

( Ney Valença )


A chuva castiga o solo árido e
as pétalas do cravo caem
A incerteza da volta ecoa no peito
na insatisfação doentia do coração carente

Ao longe já se escuta o apito da locomotiva
pessoas apressadas se ajeitam na plataforma
um burburinho choroso, uma lágrima ao vento

Disto se incumbe a tristeza, dona do tempo
cortejo de abraços e beijos, avante segue
nova visão de esperanças rumo à terra prometida

Cálidas e soberbas despedidas, em um cenário
de penúria e dor. Cartas rasgadas, espedaçadas
O ontem, de felicidades e prazeres, tornou-se
o hoje de sofrimento e desamores, a derrocada

Se fecha um ciclo de vida, uma jornada sofrida
nas asperezas do cotidiano incrédulo
mágoas viventes no pensamento e na alma
doravante guardadas em uma lembrança fétida

O trem sai deixando fumaça pelos arvoredos
e some na curva, fora de vista, acalmando o âmago
E em casa lhe aguardam os recalques e a solidão.

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