POESIAS

Manequim
( Marcus Ottoni )
 
 
Gosto de te ver na luz
do sol, leve, livre e solta
com jeito de mulher
feita, forte e bela
tal qual a guerrilheira
camponesa
manequim
que todo homem deseja.

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Atordoado

( Paulo Estanislau )

 

 

Difícil caminhar

quando não se vê

um palmo à frente

de chão

Quase impossível

Projetar o próximo passo

Quando não se conhece

o caminho onde pisar

A caminhada é dura e difícil

por falta de um norte

Fiquei assim, atordoado

você sorriu!

E ainda sorri

esperando meu tropeço

Posso cair

mas vou levantar

Caminhar, passar por você

sem olhar pra trás

Sem voltar atrás

e ser feliz.

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PORAMOR
( Cesar Athayde )
 

Hoje
acordei mais só
menos lúcido
mas certo de que a ausência do teu corpo
não sepultará jamais no meu coração a ausência do teu
Hoje
trago na boca um desses gostos amargos de quem 
tá sempre de ressaca
um aspecto de quem vive de farras
bebidas e mulheres
Hoje 
tão dispersivo estou
que se morrer, nem mesmo me darei conta de cair
Por isso tudo; volta
por amor e favor
volta
pra que eu possa te pedir perdão pelo meu desamor...

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TONES...
( Ney Valença )
 
Pinto a parede do quarto de amarelo
que belo. Sinto a sensação de conforto
Viro pro lado e durmo.

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Alternativas (Lembrando Niemayer)
( Paulo Estanislau )


Sonhos
são projetos realizáveis
Ilusões
são opiniões de pessimistas
em relação aos seus sonhos
Ignorar as opiniões
afastar-se dos pessimistas
persistir na concretização
são as alternativas
É a decisão!

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CRISTALINA

( Naldo Dourado )

Do telhado a chuva
desce, corre por
terra para outras
águas encontrar
até alcançar o mar
muitas águas vão
rolar, por entre
pedras, cascatas
e cachoeiras vão
as águas descendo
ao mar com pressa
de chegar
Enroscam-se daqui
enroscam-se dali
concorrência
nenhuma há. Corre
a pura, corre a escura
para no mar a cor
verde formar.

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Que a liberdade seja o último canto antes da voz silenciar

( Marcus Ottoni )

Todos os tempos negros são perigosos
Escondem a mais sórdida das vontades humanas
São charcos de intolerância, são pocilgas inescrupulosas
são estradas sem fim, o caminho do descaminho

Trazem consigo o véu da noite eterna
Todos os tempos negros são perigosos
Carregam em sua essência a insana perdição dos possuídos
o castigo dos inocentes, a dor dos enlutados

São nuvens que não se vão
Ocultam a verdade, corrompem a sensatez
Todos os tempos negros são perigosos
Impõe o terror da falácia, o medo da injustiça

Há de se cantar a liberdade sempre
Mesmo que seja o último canto que se cante
Diante da tirania opressora, da morte anunciada
Todos os tempos negros são perigosos

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DESBRAVAMENTO

( Naldo Dourado )


Desejo ir ao espaço
para ver do alto
a terra aproximar-me
das estrelas, e a pé
percorrer a lua. Muito
se fala da grandeza
da terra, da lua
e das estrelas. Da lua
das estrelas e da terra
nada sei. Igual à lua
à terra e às estrelas
sou eu também grande
e de mim pouco sei
Desejava explorar
meu corpo, para ver
o sangue circular nas
veias, enxergar a raiz
do cabelo, mexer no
cérebro, visualizar as
costas, apertar os ossos
e tocar no coração.

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A VIDA

( Paulo Estanislau )


A vida é pra sentir alegria
não para sofrer
muito menos todo dia
Aprendi com o meu pai
a sentir gosto e agonia
Num dia
ele chorava de saudade
no outro...
Ah! No outro
já era outro dia.

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ECA ”

( Ney Valença )



Um mosquito pousado na parede
Ele me espreita eu sei
eu sou a próxima vítima, eu sinto
Num ato bélico ele alça voo
firme no seu objetivo
Ziguezagueia me iludindo
estratégia do seu instinto
Bato a mão pr’ali, pr’acolá
não encontro o maldito
Como um bailarino audaz
ele dança ao meu redor, zumbindo
Espero, disfarço
infantilmente finjo não ver
e ele canta no meu ouvido
Atrevido, o inseto bandido anuncia
premeditando o roubo do sangue
e pousa no meu umbigo
Mentalmente eu sinto a picada
o ardor do couro ferido
E num gesto simples
mecânico, veloz e sem vacilo
estapeio o meliante
e o esmago no meu tecido.

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DESABAFO (Pra Joaninha)

( Cesar Athayde )


Você não via ou fingia não ver
que aquele teu outro caso escandalizado me feria
Eu fingia que nada sabia
e quando você voltava
fedendo a fumo e cachaça
isso não era nada
O pior, era o fedor daquele perfume vulgar de avon
que ela te deixava
E eu, morta de desejos
virava na cama, cabeça entre os travesseiros
fugia do teu roncar
chorando baixinho até que o cansaço viesse me derrotar
Aí, outro dia
outro esperar
outro sofrer
e outro calar...
Você não via ou fingia não ver
que aos poucos morria o amor e virava rotina o viver
Quando chegavas cambaleante
atropelando os móveis e virando as panelas pelo avesso
era só aí que lembravas que tinhas mulher em casa
e gritavas: Esquenta a comida que tô com fome!
Você não via ou fingia nada ver
que eu passava os dias chorando
lavando roupa
lavando louça
varrendo casa
te esperando, na esperança de que um dia tudo ia mudar
e mais e mais me prometias quando de cabeça fria
arrependido, me pedias pra ficar...
E essas outras falsas mulheres
que possuíam teu corpo como um piolho
não imaginavam elas, que feriam, sem precisar.
Até que um dia
de tanto fingir
de tanto chorar
parti, mesmo sabendo que sem mim nada serias
mas não relutei em trocar o meu viver
pelo teu bem lento matar
Agora, que eu consegui uma trégua com meu coração
vens me pedir perdão
chorando e dizendo que devo voltar
que o lugar de mulher é o lar
Que ironia meu amor
um erro não incita ao perdão...


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Anjos tortos

( Marcus Ottoni )


Há lobos e hienas soltos pela cidade
 rondando a madrugada como se ela fosse
 a alcova de todos os desejos
São animais silenciosos, traiçoeiros, violentos
São pedaços de ira atados a compaixão
por tiras de emoções
São escuras suas mentes
presos na negritude do nada
guiados pela vastidão do vazio
São almas solitárias essas hienas e esses lobos
São frutos do ventre do mal
da aliança do pecado com a perdição
São anjos tortos
 são mais do que se pode imaginar
São eles que habitam minha alma na solidão.

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LIVRO
( Naldo Dourado )
 
 
Repouso cheio
de sabedoria
segredo guarda
revela segredo
Zeloso se fecha
à espera de atenção
Adormecido aguarda
uma mão ilustre
Respira quando tocado
toca fundo o silêncio
mudo. Se guarda para si
na função de se doar
serão sempre assuntos
os assuntos nas laudas
Espesso ou não, uma
boa lição está pronto
a passar. Livro, visão
do mundo. Caminho profundo!
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RENÚNCIA
( Cesar Athayde )


Amar é viver
É amar
É sofrer
Se preciso até matar
ou morrer
Necessário conjugar à dois
toda a potência do verbo amar
Amar é amar
Muito ou pouco é amor
Mas, mais importante que o louco amar
é saber renunciar a um amor
em nome da felicidade de um outro bem
Amar é viver
Ou então morrer desse amor.
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Nosso amor em pedaços
( Marcus Ottoni )


Lamento informar que meu coração fechou a porta
ficou ferido com sua resposta
Acredite ou não,
nosso amor foi uma decepção.

Agora o que faço?
Você fez do amor um brinquedo em pedaços.
Não sei se te busco, ou me perco...
Ou me acho.

Na ciranda da paixão
A roda parou na contramão.
Te querer ainda é minha ilusão,
Minha eterna punição... solidão.

Te amar me fez perceber
Que se dar é diferente do receber.
É morrer sem saber, sem saber.
Te perder me faz enlouquecer.

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Casulo da mente

( Ney  Valença )

Irretocável, plausível, eclesiástica
comestível, ante destrutível, irremediável
canibalesca, deteriorante, inflamável
reciclável, inconstitucional juramentada, sensitiva
paralelamente circunflexa, cardiovascular
geneticamente sedimentar, oblíqua, intransponível
incógnita, pragmática, inconfundível
antiterrorista congênita, surrealista anfíbia
humanista supra partidária, indigenista
abolicionista, revolucionária, intempestiva
regimental, inquestionável, saudosista
preferivelmente anatômica, nacionalista
Palavras lindas, grandes, soltas sem nexo
anexada ao proverbio. Imensuravelmente alfabéticas
Sintéticas, analépticas e sistemáticas
Brincadeira fonética
animação da alma

sublimação da vida.

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Amor, substantivo adjetivo

( Paulo Estanislau )


Amor, substantivo
desse louco verbo amar
Louco, adjetivo
que me nego a usar
a dar a mim o que é de mim
por não deixar de te querer
e ao mesmo tempo te negar
Negar sem saber por que
se imensamente te desejo
se é enorme a falta
dos teus carinhos
da doçura dos teus beijos
do calor teus abraços
e, como louco
ao invés de correr ao teu encontro
ando por caminhos
que me afastam dos teus passos.

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Sou vida completa

( Marcus Ottoni )


Não me peça que seja tão certo
que me obrigue aos padrões
que não reclame, que não me exalte
que me omita, que me esconda
que não discuta, que me cale
Não!
Sou mais do que isso
Não sou produto da robótica
não sou marionete de teatro doutrinário
não sou personagem de novela
não sou nem ao menos um pouco
da merda amarela do bebê
Não me peça nada, nem que desista
E não insista em pedir
para não dizer o que penso
Não sou a linha que divide
a covardia da coragem
não sou o fio da navalha
a luz que cria a claridade
ou o frio que congela o pedaço de carne
Sou vida completa, sem controle
sem dono, sem correntes...
sou alma clamando por liberdade.


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A DESCOBERTA

( Cesar Athayde )

Que seu jeito de amar
é problema
eu sei
Que o amor
é o seu dilema
eu sei
Que você me deseja
com esse teu desejo tarado
com esse teu gostar desesperado
como quem nada quer
também sei
Sei também que você me pisa
machuca
faz pouco caso
não casa as palavras ofensivas
e por isso abusa
me usa
lambuza
fazendo meu peito amante chorar
Pior é saber que sem você
eu vou sofrer
como sofro com você...
Que você tenta me esquecer
eu noto
que você prefere a outra
eu saco
mas, quando eu apareço a mostrar meu amor louco
e lhe abraço a passar calor, vida, desejo
e lhe sussurro que és o meu homem e que sou sua mulher
sinto você vacilar
Que você me ama
eu sei
o que eu não sei
é como vencer essas pequenas coisas que me fazem sofrer
e que machucam pra doer
Que nó nos amamos
eu sei.

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Nós

( Nei  Valença )


Apertos e embaraços. Nós
Na ponta da corda bamba me seguro
Prendo o ar, a respiração
De um lado para o outro
a corda balança e brinca comigo
me amedronta e me apavora
Sinto cada vez mais forte o vento
que me assanha, embriaga
Nessa altura eu vejo
quão são pequenos meus sonhos e meus medos
Admiro os pássaros, os montes, as planícies
Tão poderosa e exuberante é a natureza
Fixo os olhos na vida
A corda balança forte e me joga
ora um lado, ora outro
sinto pra lá a tristeza, pra cá a felicidade

Agradeço a Deus. Como é bom viver.

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Sina Assassina

(Marcus Ottoni)

A arma empunhada e pronta
A vida amarrada e pronta
A bala segue sua trajetória
O peito revela seu destino
Assim, a sina assassina se faz

A lágrima rola no rosto
O riso abre os lábios
A dor marca a perda
A ironia é a felicidade alheia
Assim, a sina assassina se faz

O corpo cai no chão
O fuzil se perfila ao cadáver
O chão sujo de sangue 
As mãos do sangue se limpam 
Assim, a sina assassina se faz

Quem tomba morto pelo fuzil
Não morre em vão pelo Brasil
Quem mira o tiro e dispara a bala
Apodrece na história da Pátria
Assim, a sina assassina se faz

Os que partem com o mesmo fim
São os que ficam sempre na memória 
São guerreiros de uma batalha sem fim 
São prisioneiros da liberdade e da história 
Assim, a sina assassina se faz

Vá boca ousada, canta tua canção
Vá peito aberto, enfrenta a tirania
Vá mão destemida, faça na luta a união
Vá coração amigo, constrói a rebeldia 
Assim, a sina assassina se desfaz.

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A–TEU CORAÇÃO

( Cesar Athayde )


Sim
ainda é um coração
se mais parece peça de aço
não me culpe não
Sim
ainda brilham meus olhos
mas se você os vê opacos
liga não
Sim
é suave a minha  voz
mas se para teus ouvidos pareço um ganso
não me gozes não
Sim
é leve o meu andar
é doce o meu falar
e carinhoso o meu acariciar
mas se você acha que não
não cabe a mim decifrar
S tenho um coração de aço – dizes!
Não foi por querer não
eu fui pisado, traído, vencido, humilhado
num estúpido duelo que não teria vencedor
só por pirraça me escangalharam
por amar, me debocharam
me iludiram... e ter que disfarçar que aquele tédio
era amor, foi horrível!
Sim
ainda tenho coração
se ele é de aço
não me cabe culpa não...
 
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À VOCÊ

( Nei Valença )


Faço da minha vida uma poesia
Espírito de luz sempre comigo
Livre para amar e sonhar
Independente, livre e disponível
Completo, simplesmente pleno
Inconfundível, praticamente único
Ternura, a flor da cútis e nos ossos
Árvore de frutos, galhos e folhas.

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À ti, meu beijo!

( Marcus Ottoni )


A ti quero deixar um beijo. Não qualquer beijo
Muito menos esse beijo que se dá com a boca
tocando os lábios em outras bocas e faces
ora com volúpia desassistida
com falsidade de despedida, alegria de encontro
ou angelicalmente entre mãe e filho
Não é esse beijo que quero te deixar.
É mais intenso, mais profundo, mais real
Um beijo especial que ficará eternamente em seu coração
porque meu beijo a ti não será com os lábios
Para ti fica meu beijo...
O beijo que se dá com o coração cheio de saudades.

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GENTE

( Paulo Estanislau )


Gente
para amar
viver
Ser feliz
Gente
Pra ser amada
gerar vida
fazer gente feliz
Gente
Pra ajudar a gente
e a gente ajudar
Gente
pra trazer sorte
afastar o azar
Pra gente sentir saudade
pra sentir felicidade
Se não for assim
É gente
pra a gente ignorar
ficar distante da gente
e a gente mandar passar.

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Outra vez só

( Naldo Dourado )


Outra vez estou só
chorando a tua ausência
A tua presença me preenche
dá-me segurança
alivia o meu medo de te perder
Você que tanto amo
e tanto quero perto de mim
novamente me abandonou
nem ao menos se preocupou
com a minha dor
A minha felicidade
depende de você
e você não percebe
Prefere ver-me sofrer
fazer-me chorar
Porém, se choro é por amor
e não por ódio
apesar dos pesares
Afinal
fui abandonado pela mulher
que aprendi a amar
Amar, somente amar.

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DOR I – Pablo

( Cesar Athayde )


Duro
foi convencer meu coração de que o medo morreu
que já não habitava entre nós o ódio
e que a liberdade enfim, liberta dos grilhões do terro
sobrevoaria todos os dias, todas as cidades
Duro
foi convencer mamãe que eu não seria preso
nem mais apanharia porrada
e que nunca mais precisaria fugir
só por amar a liberdade...
Duro
foi ensinar pro meu filho Pablo a me chamar de pai
e tirar de sua cabeça que meu único crime foi amar
Duro
mas duro mesmo
foi voltar
sabendo que jamais ia te encontrar
meu grande amor. 

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Uma dor a mais!

( Marcus Ottoni )


Se tiverem que me matar
com bala de prata
mirem em meu coração
e disparem sem piedade
Será apenas mais uma dor
talvez a última, mas apenas
e tão somente mais uma dor
E foram tantas as dores que o castigaram
que até penso que, agora, ele está blindado
e indiferente a qualquer nova dor
Muitas delas o sangraram em silêncio
sem cortar a carne
sem abrir chagas ou feridas
Mas doeram mais
que a dor da faca que o cortou,
emendando nele pedaços de outras partes
 para ele continuar a suportar dores... 
Hoje ele é pedra
rocha pura feita de carne crua
Por isso, atirem certeiro
 para que a dor seja rápida
 e se oculte na cavidade das dores
onde ele as guardou para si.

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Adoro tudo em você

( Paulo Estanislau )

Adoro
Quando o seu corpo cai
repousando sobre o meu
e nos beijamos depois do amor
Adoro
quando seus pelos
misturam-se aos meus
e nos confunde
Quando seu suor
escorre em meu peito
e nos instiga a fazer amor
E novamente fazemos
Adoro pensar, sonhar
estar com você
Porque estar ao seu lado
é a coisa que mais adoro
é o que me faz viver.

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DECLÍNIO

( Naldo Dourado )


Planeta
Selva sem verde
chão seco
ar quente
noite clara
dia em breu
Mundo
morada de homens
chão pisado
ar poluído
árvores dilaceradas
casas corroídas
Terra
mar de sangue
cratera de ossos
céu sem nuvens
corpos sem vida
Planeta!
Cuidado!
Olha o declínio!

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O Feitiço e a Feiticeira

( Sóter )


O olhar
à medida que a pessoa
se entrega às lágrimas
incandesce
A voz
vira trovão
em mil trovoadas
Os gestos tempestuam
e parece pairar no ar
um feérico prazer
demoníaco
de subjugação
de espezinhamento
de verminização
de neutralização
e o orgasmo masturbatório
acontece
A serpente termina
seu exercício diário
de envenenamento
e sai rejuvenescida.

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Goiabada Cascão
( Cesar Athayde )


Não, eu não quero ser assim como uma goiabada
que você come um pedaço
enjoa e guarda de novo na geladeira
Eu não quero ser querido assim como me queres
quando trocas mil abraços
e te perdes em tantos braços
a beijar tantas bocas que nada representam para ti
pra depois, cansado e de boca amarga
abrires a geladeira e me usares...
Não, eu não quero ser só o troféu conquistado
nem quero ser um postal na tua coleção de ex amores
não tenho cara de remédio que só alivia
a dor da tua doença incurável
nem quero ser minutos de vida
nem quero sofrer
nem quero chorar
e, muito menos, só ser um algo qualquer pra ti
por isso, até mais ver louco amor
vou viver da ilusão que você deixou em meu coração...

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Outubro de 2013

( Paulo Estanislau )


Aeroporto cheio
correria
hora voando
Aracaju vai ficando
Eu, com um coração
cheio de saudade
deixando
levando
tô voltando!
Brasília me espera
Volto à vida normal.

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Outra vez

( Marcus Ottoni )


A madrugada tem seus mistérios
tão envolventes como a suavidade da brisa
que acaricia a janela semiaberta
São incontáveis os minutos
que fazem de mim um peregrino errante
na solidão do silêncio da noite
que cede lugar ao amanhecer de mais um novo dia
Tudo muda, tudo se esvai na lembrança morna
do corpo que não mais se deita a meu lado
da boca que não mais me beija
do olhar que se ausentou de meus olhos
Minhas mãos seguram o nada
querendo pegar mãos que seguram outras mãos agora
Meu coração é que não se aguenta
de tanta vontade de ter você... outra vez.

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Noite dos sonhos meus

( Naldo Dourado )


Em torno da lua viajo desperto
E sobre a bruma do mar flutuo!
Vejo a água sumir na areia
vejo o peixe nadar rasteiro
vejo a lua debruçar-se no mar
vejo o tubarão acalentar uma baleia
Debruço-me na areia
sinto o vento tocar meu rosto
Todo o meu corpo gela e arrepia
Lanço aos ares um punhado de areia
O vento some
À procura do vento
saio para recuperar minha areia
No alto do céu
o vento arrasta uma nuvem
Num salto consigo deter o vento
do vento recebo um sopapo
e mergulho de cabeça na areia
Uma montanha de areia
se forma à minha volta
Porém não vejo
o meu punhado de areia.

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Beira do mar

( Pablo Autamowar )


Vermelho
Camarão
Sol
Praia
Chopp
Coquetéis
Silene
Priscila
Filipe e Ana
Neto ou Neta?
Eu
aproveito o mar
esperando
aproveitando
quem chegar.

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Qualquer coisa

( Sóter )


Garçom,  me traz uma cerveja
de casco claro
um maço de beverly
e bota na vitrola
o Miguel Aceves
que hoje eu tô assim de saudade
qualquer coisa de melancolia
invade o meu coração
e eu não sei porque
se sempre fui só
não tenho saudade da solidão
e eu tenho um pouco em mim
de cada um
como se fossem leves sementes
jogadas ao vento
do meu olhar
do meu sentir

do meu pensar.

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Olhai as estrelas

( Marcus Ottoni )


olhai sempre as estrelas
Elas dirão o caminho aonde deves ir
Enxergue-as mesmo na escuridão
mesmo quando o céu estiver escuro
Elas são as pedras cobertas pelas águas
por onde caminharás em segurança
para seu destino
Olhai as estrelas, sempre...

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Fome de amor

( Ney Valença )


Ah! O amor
Sentimento que não cabe no bolso
nem no cofre pois ele implode
ou explode, conforme a intensidade

Ah! O amor
Saboroso na plenitude
nas atitudes atrevidas das mãos
e das mordidas
O amor é desatino

Ah! O amor
Sublime sensação, êxtase
fogo de chamas ardentes
pote de mel, fonte de desejos
arrebatador e inconsequente
O amor sorve, consome
se faz fome
O amor é divina poesia
que o poeta rima
até com morte.
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Por onde passo

( Paulo Estanislau )


Eu disse que por onde passo
eu passo deixando rastro
fazendo passo
e você não entendeu
agora vou lhe explicar
é que eu nasci num lugar
aonde o passo nasceu
Pernambuco terra do frevo
Terra de Carlos Germano
Mario Melo e Nelson Ferreira
Capiba, J. Michilis, Alex Caldas
João Santiago e Levino Ferreira
e ainda tem muitos mais
Gui Menezes, Getúlio Cavalcante
Alceu, Clídio Nigro e Ascenso
Irmãos Valença, Lenine e Edgard Moraes
Se quiser conhecer outros
Basta você pesquisar
que achará muitos mais.
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Lamentos

( Ney Valença )


O poeta chora
e de suas lágrimas brotam versos
Versos que
se transformam em prosas
prosas que doem
lamentos que rimam

Por que chora o poeta?
chora pela vida
Não a sua, mas a que vivencia
De outrem, dos seus
e daqueles que vê nas ruas.

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AQUELE GRITO

( Cesar Athayde )

Quando te amei
tinhas a sinceridade de uma criança
fazias beicinho, quando contrariado
e cara de choro quando me vias em outros braços
tinhas (e é verdade) a sinceridade das coisas simples
o gosto d’água de poço
o sabor de comida caseira
e um ar de gente da roço...
Quando te amei
deixavas sempre, em minha boca, o gosto do amor
e no meu corpo, depositavas a certeza dos amanhãs
Agora, que como uma pétala, presa entre páginas velhas e
amareladas de um livro antigo
luto entre o não amarelar e o não sufocar
sinto, debalde, minha tentativa desesperada de recomeçar
Inútil, pois já não tens a sinceridade da criança – És homem!
Já não mais fazes beicinho – És homem!
Já não mais fazes cara de choro – Homem não chora!
Das coisa simples te afastaste
o gosto d’água de poço cedeu lugar ao gosto de cerveja
e de caseiro, nada mais resta
Ao acabares com tudo
deixaste preso em minha garganta aquele grito de alerta
que não ribombou
aquele querer dizer do erro
aquele grito que tentava mostrar defeitos
aquele grito seco de amor...
Deixastes (como um feto) em mim, uma dessas dores
que jamais acabam!

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Pra mesma moça da capa

( Paulo Estanislau )


Não foi pela ternura do teu olhar
por tua boca carnuda
nem pelas linhas sinuosas e belas
do teu corpo de pele morena
essa cor que me inebria
Não foi pelo sorriso contido
que dissimula felicidade, tua euforia
Foi, todo o conjunto o causador
que ao te conhecer
me fez pular a etapa da paixão
e ir direto ao amor.

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Por onde anda você?

( Marcus Ottoni )


Meus medos, meus temores
meus fantasmas, minhas dores
Todos juntos no mesmo instante
Sinto-me inconstante como as nuvens
que se movem nesse azul provinciano
É a loucura do desespero contido
a sublime amargura dos loucos apaixonados
Ontem, hoje e sempre...
Por onde anda você?

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Canção do Pescador

Fernando Lima ( Dom Fernandão )

Pra onde vai
Pra onde vai o pescador?
Pra lá da risca, se arrisca
nas águas do avoador.

E quando o pôr do sol
sobre o mar desce,
pescador faz uma prece
pedindo a Iemanjá
pra Chiquinha de Zica
fulô mais bonita
lá do Arraiá
ficar lhe esperando
de noite sonhando
com ele casar.

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LAMENTO

( Naldo Dourado )

Amor...
desde que foi embora
cravado no meu peito
ficou o teu coração
Ah! como choro, como
peno a tua ausência!
Quem dera encontrar-te
e juntos descobrimos
mais da vida: poder
de novo dizer que
te amo! Oh, amor
somente com tua vida
a minha se completa!
Para os meus braços
volte e me faça feliz
Faça rir que apenas
chora, faça viver quem
de amor padece. Em dobro
prometo amar-te mais
e mais. Volta amor! Volta
e cura a dor, a dor do amor
que no meu peito explode!


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( João Rochael )



Quem mais conhece o caminho
são os pés
que procuram insistentemente
no labirinto das veias
o caminho do coração...

Atravesso a vida
soluçada nos pulsos atados pela morte
com unhas e dentes
pois quando saí para andar
não sabia que já estava perdido...

Reesfrego sempre em mim:
é bestagem dizer que a vida tem fim!

Nestes versos agora canto
com alegria íntima
a nódoa manchada que os vivos deixam...
as lembranças amassadas nas roupas
de suor alheio à mim
desbotada pelo silêncio
da alma ardida e amarga dos dentes
não escovados
Existe uma muleta capenga
que conduz a humanidade
Diante dela eu me ergo com pertinácia inusitada
e seus sacudidores
tombam-me na sombra do planeta
Há alguém que na certa amo
daqui da minha cama
onde deito a vida
mato o sono
e vivo a morte.

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O Povo em Pé 

(Esoj.Otrebor)

São partes da natureza
Com essência Elemental
De grande força e beleza
Este reino vegetal

E os seus troncos e galhos
Abrigam as aves do ar
Folhas, cascas e raízes
Dão unguento, banhos e chás 

Este é o reino vegetal
Que os homens não respeitam
E sempre lhe causam mau
Com sua índole imperfeita

As árvores  nossas irmãs 
São também filhas da terra
E os ancestrais Xamãs 
Respeitam e adoram elas

Chefes do Reino das plantas
Que forças nos concederás 
Ao entrar numa floresta
Sinta a beleza que ela é 
Pois energia e poder é a essência do povo em pé 

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VAMP / 80

( Cesar Athayde )

Gritei teu nome em plena meia noite
berrei pra lua toda minha imensa paixão
abracei-me ao poste
caí de bêbado
falei pra quem passava da minha desilusão
andei cambaleante pelos becos
escrevi nas paredes nossos nomes
e com meu sangue bordava imensos corações nos muros
gritei que te amava
gritei teu nome
pedi a todos os santos, compreensão
cair pelas tabelas
morto de medo de amanhecer sem te ter...
Gritei pelo teu nome noite a dentro
até sangrar pela garganta
até explodir meu louco apaixonado coração...
Chamei por você
era meia noite
uivei pra lua louco de dor
como um vampiro voltei pra casa
quando o dia clareou...
Esperar outra madrugada
outro começo
e gritar pelo teu nome
até explodir a paixão...
JAN/1980

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SOU TEU

( Marcus Ottoni )


Ainda e sempre espero tua boca murmurar
segredos em sussurros no meu ouvido
Anseio por tuas mãos percorrendo pedaços de meu corpo
e descobrindo prazer nos toques suaves
que propiciam delírios nas pontas de teus dedos
Desejo, como nunca, teu suor irrigando minha pele
como gotas de orvalho em manhãs de primavera
reprisando orgasmos desinibidos
Quero ver teus olhos como cordas de violinos
vibrando em notas agudas com sons infinitos
Sou teu como a lua se entrega despudoradamente ao sol
para se fazer cheia, como a relva se dá a terra molhada
para produzir a selva no mais secreto segredo da natureza
Sou teu como o homem que deseja o amor
no mais solitário silêncio da alcova.

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Bodas de Ouro

( Naldo Dourado )


Os anos se passaram. Nosso
encontro valeu a pena. Já
não somos mais aqueles
jovens rebeldes de cabeças
ocas. Hoje, quando estamos
com nossas cabeças no
travesseiro, dormimos o mesmo
sono. Até roncamos juntos
Nossos corpos se habituaram
a se aquecer, um no outro
A cada dia que surge nossas
esperanças se renovam e o
nosso amor mais fortalecido
se torna. Nossos ideais de vida
são os mesmos: nos amarmos
a cada dia, mais e mais.

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Pra moça da capa

( Paulo Estanislau )


Não falo, emudeço
Mas só eu sei
o quanto é difícil calar
diante da imensa beleza
do teu rosto, tua boca,
esse corpo sedutor
a pele morena, teu olhar
Mas me calo, pois falar
atrapalharia esse momento
sublime momento de sonhar
Pois muito já vale
apenas sonhar
com teus carinhos
teus beijos, teus abraços
Melhor ficar inerte a te olhar
e pensar que um dia
meu sonho se realizará.

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( João Rochael )



Erguemos muros fortes diante de nós
Com alguns furos
Para que o sol de fora
ainda pudesse entrar em nossos olhos

Estatuímos o silêncio
desde então
semeamos medo, impotência
estendendo o muro
para aqueles inocentes que viriam de nós
estiolado
Lá fora
adiante do muro que erguemos
existe uma metade de nós
à nossa disposição
meu alento único...

A vontade estanca o medo
inventa necessidades oniscientes
para sair do bafio enfraquecido

Minha melhor arma
já é sorrindo
entregando-lhes
este coração amiudado...
Misteriosamente
perfurarei seus tímpanos
com certeza
e a sutileza
derramará meu sangue
sem imolação.

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Frevo da Teca

( Cesar Athayde )


Baby
cê me deixa louca
quando faz pouco
do meu ciúme louco
ao deixar que eu lhe veja beijando outra boca
pior ainda
quando por pirraça
cê desfila no parque com outro amor
a rir da minha cara de raiva
com esse teu ar vencedor
só pra me aperrear...
Baby
cê sabe que eu enlouqueço
quando dizes que já não gostas de mim
que vais me esquecer
e essas bobagens assim
Baby
cê me mata de susto
quando me encaras com essa cara desavergonhada de pecado
e quando me abraças com esse teu jeito tarado
esqueço o esculacho
pois fico arretada de prazer quando cê me esmaga a boca
com um beijo
e deflora meu corpo com esse teu alisar vulgar
Baby
cê me acaba a vida
quando por birra
diz que já não me ama
que já não sou mais a sua mulher.

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VERDADE

( Marcus Ottoni )


Quando, enfim, a noite correr noite à dentro
Quando o dia se esconder distante o sol
Quando tudo parecer impossível
fazendo da esperança uma utopia
será tempo de encontrar a verdade
que sempre esteve em seu interior.

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O Céu é para todos

( Naldo Dourado )

Lua e Sol no céu
resplandeciam magníficos
Meu caminho era todo de luz!
Era eu um andarilho. Nunca
estava só. Comigo, milhares
de homens: O mentiroso
o infiel, o falso romântico
o corrupto, o coitado
o debilitado, o fingidor
o carrasco, o interesseiro
e agora o prisioneiro. Lua
e Sol no céu resplandecem
magníficos. Em meu caminho
apenas trevas. Muitas trevas.

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Para sempre (1979)

( Pablo Autamowar )


Não consegui me desfazer
da nossa cama
que a lembrança de nós dois
não me permite usar
Sozinho, sonho acordado
quase não durmo à sua espera
mas você não voltará.

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( João Rochael )


Não é a toa
que o homem não voa
E só com muita coragem
podemos tanger os entraves
nos verdadeiros combates
onde temos o alvo certo
ufanados pelos enigmas cépticos

A lenda figurada
vestiu-nos do pé à cabeça de imundices
que até hoje papagueamos nas loas parlapatonas

Após despertar a fúria
nosso maior mérito
é o espetáculo triunfado de fé comum
Venham!
Eu vos digo: Logo!
Antes que a preguiça
dá uma impressão submissa
e como à mim
vos enfeitiça. 

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Ausência que dói

( Marcus Ottoni )


Não sei onde meu coração foi se esconder
Não sei se ele partiu com você
ou se amargurou ao vê-la partir
Assim, se escondeu fora de meu peito
Também não creio que ele se rebelou
por você não estar mais aqui
se fazendo anônimo e senhor de motim
a querer dominar meu ser sem você
Verdadeiramente, não sei por que sua ausência
faz tanta falta ao meu coração.

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DONA DO PRAZER

( Naldo Dourado )


Bela dama! Lábios de mel
sorriso inocente
Anda na corda bamba
Pisa em pregos, rompe aço
mergulha na lama
Dama pede de seda
Cheiro de manhãs chuvosas!
Sereia encantada!
Anjo a contemplar o céu
em dia de sol
e em noite de luar.
Bela Dama!
Enrosca-se no vento
escala montanha
voa com as nuvens
conversa com as flores
Dama, bela Dama
teu nome é prazer, Beleza
das águas cristalinas e puras.
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São sinais

( Paulo Estanislau )


Eu entendo
teu jeito desconcertado
ao me ver chegar
Teu olhar mudar de rumo
quando encontra o meu
O tremor de tuas mãos
ao apertar as minhas
O teu sorriso sem graça
com a minha
mais ingênua brincadeira
Eu entendo!

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Coração menino


( Marcus Ottoni )


Hoje meu coração se fez menino travesso
Ousou desafiar minha timidez
e se lançou na aventura
de buscar um novo amor
Fez-se guerreiro, conquistador
príncipe altaneiro, galã de cinema
Disse, então, o que minh´alma
guardava em segredo sepulcral
Desnudou-me por inteiro
Fez-me verdade absoluta
real, palpável, imaginável
Coração menino, doce desatino...
esse destino, esse amor
Coração valente que me fez revelar
apenas a quem amo
que a amo, hoje, agora e sempre....

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BALAIO


( Naldo Dourado )


Há um q de saudades
nas entranhas da vida
Finita vida! Vida
de portas abertas
umbrais largos
percurso de anjos
e demônios. Retratos
corroídos, convite
para um banquete
de dor e amor. Chão
de pedra, cartas
amassadas, chuva
de redemoinhos
Pergaminhos, letras
apagadas, escrita
torta, papel frágil
e fino.

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A CERTEZA

( Ney Valença ) 

Não busco a felicidade eterna
Não quero ser feliz o tempo todo
quero sim, momentos feliz
alegrias que se eternizem
por toda minha vida.

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Sonhos

( Pablo Autamowar )


Acredito em sonhos
nos meus, nos teus
sonhos são factíveis
Com determinação
realizáveis
Ouço o poeta que diz:
Sonho que se sonha só
é só um sonho
que se sonha só
sonho que se sonha junto
é realidade
Por isso insisto em sonhar
para contigo realizar
só contigo realizar.

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Tempo de incertezas

(Pouchart)

“Enfim a noite termina sem que meu sono tenha começado. 
Sem sono, sem sonhos. 
O tormento da vigília imposta pela solidão cava sulcos profundos na face e rasgam, sem piedade, a carne do coração. 
São marcas da infelicidade, da angustia, da insana necessidade de ter você. 
Me perco no vazio da sensação de inutilidade por teu desprezo, pela inútil iniciativa de me deixar enganar quando mais preciso era acreditar que tudo não vai mais mudar. 
O sol que agora penetra pela vidraça me diz que, como a noite que se foi, também devo ir embora de tua vida. 
Talvez, assim, o sono volte e, com ele, os sonhos de um novo amor se revelem”

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Cobaia do mundo

( Naldo Dourado )


Mulher. Da luz nasceu
no ventre concebe luz
Cobaia de homem e mulher
fruto de prazer, feto
fecundado. Seios, comportas
de vida, carimbo de mãe
Mulher, entregue ao amor
lapida pedra, doa-se, constrói
castelo suspenso no ar. Voa
sobre a asa conduz a cria
senhora do dia e da noite
Transforma dor em amor
dá luz, faz-se mulher
Mulher mãe, mãe mulher.

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Coração inconstante
( Marcus Ottoni )

Meu coração é um vulcão adormecido
É a resistência do dia
contra a evolução da noite
É a ousadia dos oprimidos
o delírio dos alucinados
a ilusão dos despossuídos
É a insensatez dos desvalidos
a lucidez dos esquecidos
a volúpia dos amantes...
É a perdição dos solitários
Meu coração, a mim deixou de pertencer
Errante, imaturo, inconstante...
Desprotegido da paixão
que me joga a teus pés.

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ANOS 70  (Pro André Luiz)

( Cesar Athayde )


Tá certo John
o sonho acabou!
Mas você se enganou
ainda ficou em meu peito restos-saudade
e a certeza de quem muito amou
Meus velhos mitos, qual fumaça de trem, pra trás ficaram
e na escola me ensinaram que a vida nada mais é
que uma tremenda equação
onde, só os loucos sabem de cor, as incógnitas...
Tens razão John
a liberdade e a felicidade são armas cortantes;
mas só nas mãos de quem não as quer!
Ora essa, velho amigo
onde deixastes aquelas velhas baladas de protesto
aquele poema em louvor ao amor livre
a coca, haxixe, heroína
e a loucura do viver por viver?
Tudo bem mai frendi John
apaga a luz do século ao saíres do banheiro-mundo
dá descarga nessa década de sombra, medo e guerras
pois as minorias se rebelam e abandonam os guetos
................... QUÃO IMENSO BLOCO ................
e loucas, procuram viver o que lhes roubavam!
Toda oka, John
Nos meus sonhos, ainda beijo Bardot
ainda me embriago com a voz de Piaf
e sempre me acabo quando curto Joplin...
É, o sonho pode ter acabado
mas ficou acabado
estampado nessa velha e doente juventude 70... 

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EUREKA

( Ney Valença )


Convivo bem com os normais
mas com os perfeitos nem tanto
De cara, eles logo percebem
a minha superioridade.
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Eu vou embora (como se fosse uma canção)

( Paulo Estanislau )

Eu vou embora
não quero mais ficar aqui
não quero mais olhar você
sorrir pra mim
Eu sei, que na verdade
você só sorrir de mim
Eu vou embora
não quero mais ficar aqui
não quero mais olhar você
sorrir pra mim
Eu sei, que na verdade
você só sorrir de mim
por lhe querer
por lhe amar
como eu lhe amo
e me dedicar tanto a você
Vou, eu vou
eu não aguento mais
sofrer assim.
Dói demais amar alguém
que só me engana
e que jamais pensa em mim
Vou, vou procurar
quem me queira bem
que entenda esse
meu jeito de ser
que me ame e me respeite
como sempre respeitei
e amei você, e amei você
Eu sei que vou chorar
eu sei que vou sofrer
Eu vou chorar, eu vou sofrer
mas sei que um dia
minha dor irá passar
porque ninguém na vida
nasceu só para penar
e eu não vou morrer
eu vou amar
vou ser feliz
vou esquecer você.

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Decomposição
( Naldo Dourado )


Um dia Sofia amou. E muito!
Dizem que o amor é eterno
Sofia não acredita
Sofia não mais vê motivo para o amor
Ela apenas convive com as lembranças
de seus grandes amores...
Seus cabelos, suas pernas, seus pés
seu busto, suas mãos, seus olhos
seu quadril, seu rosto
Tudo nela Sofia amou
Os Cabelos, as pernas, os pés, o busto 
as mãos, os olhos, o quadril, o rosto
Tudo nela
Sofia deixou de amar.

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Vício desgraçado

(pro Tony)
( Cesar Athayde )


Ah vício desgraçado!
esse de amar sem ser amado
e mesmo assim inteiro se dar
sentir a língua quente gelar
no oceano frio daquela boca
tentar, desesperado
aquele corpo apagado acender
Incendiar de paixão
aquele ser tão desinteressado...
Ah vício desgraçado!
o de fechar os olhos
e não tentar ver o tá na cara
o de fingir que é paixão aquele ar de pena
e que é verdade verdadeira
aquele TE AMO apressado...
Ah vício desgraçado!
esse de amar sem ser amado
esse de querer sempre ser o outro lado
esse de ser bonzinho e sempre a pior levar
Ah vício desgraçado!
esse que ilude o coração
que dribla (como um Garrinha) a razão
e que mente sem compaixão
Ah vício desgraçado!
esse de amar
mesmo sabendo que não é amado...

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DESGRAÇA

( Marcus Ottoni )


Desgraçadamente ela estava nua
Ela se bolinava e eu me torturava
Desgraçadamente...
Eu só tinha a fresta da palha.

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Joia rara

( Ney Valença )


E se hoje eles me encontrassem
e me prendessem
e o inquisidor decretasse minha morte
Morreria feliz
pois eu conheci a felicidade
Há muito a procurava
Deus sabe a minha odisseia
Mas ontem, como por encanto
ela materializou- se em minha frente
Eu que rodei terras, vi palácios
joias raras, semi e preciosas
Rubi, ágata, pérola, ouro e diamante
nunca iria imaginar
que a felicidade estava aqui
em uns olhos verdes
lindos, alegres e brilhantes.

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Graças a Deus encontrei Graça

( Naldo Dourado )


Não sou triste, sinto graça
Acho graça quando choro
Desiludido lembro, o sorriso é de graça
A graça da vida é rir de graça
Mal humorado, fico sem graça
Quando se esvai a paciência, perco a graça
Na solidão, rio sem graça
Graça, acho das coisas em que há graça
Muito andei, graça encontrei, nos braços da Graça
Acho graça do humor da Graça
Sem a Graça viver não teria graça
Encho-me de graça quando ri a Graça
Embora triste, é cheia de graça a Graça
A graça da vida é conviver com Graça
O mais nobre infeliz ri de graça, da Graça
Graças dou a Deus por ter a Graça
Senhor, obrigado pela Graça!

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Lutar e conquistar

( Marcus Ottoni )


A sabedoria do caminhar
consiste em conhecer o destino
mesmo desconhecendo 
a estrada a percorrer
É na luta que se valoriza a vitória
e se consagra a conquista
Que todo novo ano 
seja um caminho repleto de realizações
e que a esperança derrote
o dragão da injustiça.

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Saudade II
( Paulo Estanislau )


Saudade
foi o que restou em mim
e você, nem sequer partiu
fui eu quem não ficou
quem pegou o beco e sumiu
Saudade
foi o que levei de você
Ah Saudade!
Como foi bom lhe rever
tê-la outra vez ao meu lado
tomar um Chopp gelado
caminhar abraçado a você.

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REVOLTA 

(pro Remi, do Mel)
( Cesar Athayde )


Quando bateu
por três vezes o sino
as andorinhas abandonaram o velho campanário
em revoada silenciosa cruzaram a cidade
...até parece que fugiram...
Feitos loucos
animais corriam pela floresta e 
de repente, caiam mortos
Árvores se desfolhavam completamente
peixes pulavam fora d’água e
na relva seca, dançavam um balé angustiado
As pessoas não entendem nada
não haviam respostas no computador central
só a velha margarida sabia
na sapiência dos seus 98 anos
que tudo o que acontecia
era uma revolta:
A REVOLTA DA NATUREZA...

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Divagando

( Marcus Ottoni )


Cada noite tem seu mistério
Cada alma carrega seu pecado
Toda mulher esconde sua vontade
Todo homem busca seu desejo

Vagar... vagar...

Sempre o mesmo caminho inútil
Sempre a mesma solidão
caminhando trôpega na multidão
Cada mistério tem sua noite
Todo pecado alivia a alma
Cada vontade descobre seu corpo
Todo desejo se esconde
naquele que quer amar.

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Pastoril 

( Pablo Autamowar )


Desde menino 
no pastoril sou encarnado
 O vermelho sangue 
que corre em minhas veias
é o que movimenta o meu coração
Sou vermelho, posso ser caçado
não sou pastoreado, pois tenho razão
Pastoreio qualquer animal
independente de raça ou convicção
Se carecer de abate, abato
sem precisar pedir perdão.

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Vida de Poeta

( Ney Valença )


O poeta vive
Pode adormecer, mas vive
Pode desfalecer, mais vide
Pode até morrer
Mesmo assim, ainda vive
O poeta vive eternamente.

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Saudade imensa

( Marcus Ottoni )


Descanso minha inércia na dor da saudade
Deixo que meu desespero se construa 
na loucura da solidão
Sou nada mais do que alguém
que não se importa se a porta está fechada
se a cabeça está torta
se a faca cega não corta
Não me importa se alguém, em algum lugar
sussurra teu nome apaixonadamente
e me tortura porque não consigo te esquecer.

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DEMONÍACO

( Cesar Athayde )


Esse teu amor moleque
quanto bem me faz
quando estou triste
diverte
Quando alegre
infesta
de felicidade meu coração
Sim
é vital pra mim esse teu amor
assim como um crediário 
e o teu sorriso angelical só engana a quem não te amou
assim como os gatos seduzem seus donos 
com um ronronar sensual
Ah!
quão bem me faz essa tua louca moleque paixão 
transformando meu medo num balão
e minha vida numa imensa festa de badalação...

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Sinais

( Paulo Estanislau )


A vida não fala
A vida não houve
Não é fácil entendê-la
Às vezes é dura
Às vezes é boa
Uma coisa é certa
não perdoa nossos erros
Até por isso
é a melhor professora
Ela ensina por sinais
Nós os aprendizes
temos que entender seus toques
aprender, mesmo que por osmose
e seguir praticando a vida
na busca da felicidade.

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PODER

( Marcus Ottoni )


Foi quando descobri as aves
e seu poder de voo
Foi quando descobri as armas
e seus poder de fogo
Morte, morte
ao pastor de almas.

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DECLARAÇÃO

a um olhar
( Cesar Athayde )


Pra teu governo
meu coração é como um velho peão
cansado de construir
de mal tratos
ingratidão...
Meu coração
hoje 
não bate
mal range
após apanhar tanto
por essas coisas de amar...
Por esse olhar maroto agora
essa jura abrasada de paixão
pois se é certo amanhã ires embora
e vires a ser outra marca de dor em meu coração...

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Frevo do dia (Apocalipse)

( Biancho )


Quero falar das cadeiras
quero falar das madeiras
no fundo, quero falar das árvores
dos galhos secos do meu coração
Quanto mais cedo aprenderem a te respeitar
deixarão de te espancar
mais cedo saberão te aquecer
na avalanche de fogo que é teu o coração.

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Parecia Silicone

( Paulo Estanislau )


Era linda
de vestido solto
longo e colorido
Sua imagem transportou-me
aos anos setenta
Parecia uma miss
Fitou meus olhos
não acreditei
Sorriu, me empolguei
Convidei-a a papear
aceitou
Fomos a um bar
que ela não conhecia
conversamos bebemos
e saímos
Fomos a um lugar
que eu não conhecia
tinha uma cama
colchão d’água
Chacoalhava
era macia
toda molinha
Molinha.

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Como se fosse paixão

( Cesar Athayde )


Se eu fosse uma gaivota
quereria que o meu mar fosse
da  verde cor dos teus olhos
Se eu fosse uma abelha
quereria que todas as flores tivessem
a cor e o me da tua boca
Se eu fosse uma andorinha
quereria um verão
com todo calor que tem teu corpo
Se eu fosse um navio
quereria um porto com a segurança
e a tranquilidade dos teus braços
Se eu fosse uma árvore
quereria, nas tardes quentes
uma brisa tão suave como teu olhar
Se eu fosse órfão
quereria uma mãe adotiva
com todo amor que você me tem
Se eu fosse:
um amigo
um bandido
ou um menestrel
era em ti, que eu ia buscar inspiração...
Se eu não fosse tão idiota
jamais teria trancado a porta de nós dois
jamais teria deixado de ser teu
só por um gosto amargo de ciúmes
que nunca me deste motivo de ter...
Se eu fosse deus
voltava no tempo
e o parava na parte em que te conheci
e sonhava uma ilha à dois
até explodir
como se fosse paixão...

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KELY

( Biancho )


Duas horas da tarde ela acorda
olha para o lado da cama
seu boy já deu o fora

levanta numa boa
ainda meio embriagada
e vai fazer a barba.

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O tempo e os dias

( Marcus Ottoni )


Os dias são como páginas de um grosso livro que não lemos.
Apenas viramos as páginas sem entender o que nelas está escrito.
Tal qual as dores que se acumulam na alma,
como as lágrimas que se prendem nos olhos
quando o momento exige o choro da saudade.
Os dias marcam o tempo que não regressará nunca mais
Páginas passadas, enfim.

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Caras de Pau
( Paulo Estanislau )


Olhar
não tira pedaço de ninguém
por isso mesmo
é que eu nem ligo
se olham pra você meu bem
Porque olhar
olhar
não tira pedaço de ninguém
Você Menina
modelo de mulher
que todo Barack olha
que todo Sarkozy
deseja ou quer
eles olharam
todos viram
a beleza e a formosura
da Mayara 
Menina mulher!

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Meus cacos

( Ney Valença )


Flores de outono na calçada
meu amor despedaçado na rua
fruto de desejos contidos
e relações pendentes
Vivo a cada instante
como quem desesperadamente
luta contra o mar
enfrentando seus medos
e seus defeitos, mesmo sabendo
que é impossível vencê-los
Poderoso sentimento de força
interna que se remenda os cacos
e se mostra renovado e inteiro
Ao infinito as costas, o desprezo
O destino descortina-se proveitoso
e próspero na sua plenitude.

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Sem tempo

( Marcus Ottoni )


Assim nasce um novo tempo.
Sem saber qual tempo temos
ou que tempo ter para descobrir
em que tempo encontramos,
mesmo que seja em tempo nenhum.
Mas temos todo o tempo do mundo
para conhecer que o que falta na vida da gente.
É tempo para viver o tempo que é nosso tempo.
Meu e seu.

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Amor e Razão

( Paulo Estanislau )


Amores tive muitos
muitos tenho
porque meu coração
foi feito para amar
Não venha me chamar de louco
pois o amor
é o combustível da razão
quando se perde um
o outro existe em vão.

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SAUDADE

( Ney Valença )


Ontem eu encontrei a saudade
ela estava em uma mesa no fundo do bar
cheguei, sem cumprimentar me sentei
Pedi uma cerveja
Ela não falou nada, nem eu
Ficamos ali. Mais uma cerveja, outra
e assim passaram-se três horas
Pedi a conta e sem dar adeus fui embora
A saudade é assim
ela aparece e some

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NOITES


( Marcus Ottoni )


Noites são abismos perdidos na consciência.
São como o labirinto que nos ameaça prender eternamente.
Desvendar seus mistérios nos aproxima da luz
e transforma a escuridão da inconstância
na translucida coerência de saber
aonde ir e o que fazer.

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BEIJO


( Ney Valença )


Deixa eu te dar um beijo
satisfaz o meu desejo
traga seu sorriso aberto
e vem ficar bem perto
E quando eu abraçar seu corpo
quero estar bastante louco
pra sentir de muito longe
o que não sinto de perto
Deixa eu te dar um beijo
mesmo que não esteja certo
quero que o seu sentimento
seja igual ao meu
Oh! Sim, eu vou falar de amor
Te levar pra onde eu for
que o seu beijo tem sabor
de um amor eterno
Deixa eu te dar um beijo.

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Circo, trabalho e pão

( Paulo Estanislau )


  Houve tempo 
que ao meu povo bastava
circo, trabalho e pão
Com tristeza fui notando
que o trabalho em extinção
fez o povo 
sem vida pra viver
circo e pão foi o que restou 
Hoje
 do pão, são só migalhas
do circo
um grande picadeiro
Um país onde os artistas 
somos todos nós
Palhaços
malabaristas
Equilibristas
Comediantes
Somos apenas
o que fazem de nós.

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SOLIDÃO
( Marcus Ottoni )


A solidão que me acompanha
é o portal da minha angustia,
que busca no vazio a tua presença.
É, talvez,
a insana insensatez
que me faz escravo de tuas vontades,
pedinte de teu prazer
e louco a sonhar com
teus delírios de amor.

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Garganta abaixo

( Ney Valença )


Silêncio ensurdecedor 
Tantos mistérios
palavras engasgadas, dedos amarrados
língua presa, pensamentos de sim e de não
O medo de magoar, de ferir
ser ou dizer, falar ou morrer
Enigmas da mente
Sofrer ou quebrar dogmas, barreiras
Dilemas que o respeito embute
para cala a alma e o coração.

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A Fonte

( Paulo Estanislau )


Jorra em mim
a tua fonte de prazer
Sobre meu rosto
meu corpo
tudo em fim
Jorra
sobre o que te faz tremer
O que há de melhor
e pior em mim
Jorra
Pois é isso que te faz viver
e me faz morrer em ti.

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“ OCÊ ”

( Ney Valença ) 


Quando olho em seus olhinhos
esse brilho tão mansinho de enlouquecer
e o coração quase que vem na boca
é arriscado de repente pular pra ocê
Quero um dia que aconteça
em que eu perca a cabeça por você também
Aí, eu vou pegar no calo
e quando eu pego eu me amarro
e não solto meu bem
Essa noite eu tive um sonho
esses de mil e uma noites de muito prazer
e a namorada do meu sonho
por incrível que pareça, parecia ocê
Quero que não se enrubesça
por favor mexa a cabeça que eu mexo também
Mas, por incrível que pareça
a namorada do meu sonho, parecia ocê.

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Inocência sem pudor

( Marcus Ottoni )


Vem, deita-te aqui
e desnuda teu pudor.
Rasga o véu da hipocrisia
e deixa que tua inocência
se faça pecadora em toda essência.
Abre teu doce mistério
para que dele escorra o mel do prazer
e quando o aquilo que fala sussurrar em ti 
a incontida vontade de tê-la, 
exploda sem limites.

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Um sopro

( Paulo Estanislau )


A vida é como espuma da praia
Como uma onda do mar
vem e some  de repente
Jogada pelo vento 
sobre a areia para fenecer 
Não é eterna, sequer demora
é uma estrela cadente
Quase não nos permite
admirar a beleza de sua queda
Devemos aproveitá-la 
com consciência 
Amar, ser feliz
viver a vida verdadeira
e não apenas
por sobrevivência.

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Teu eternamente

( Marcus Ottoni )


Como não recordar, não relembrar, não reviver?
Como não deixar que o coração corra atrás,
busque incessantemente, se dê desesperadamente?
Como viver sem morrer de amor?
Darei alpiste aos pássaros,
jogarei milhos aos pombos,
pagarei prata para quem se vende.
Serei fidalgo e vassalo, 
plebeu e aristocrata,
culto e vagabundo.
Serei o que não sou.
Mas sei que teu serei eternamente
Mesmo não sendo teu 
no momento presente.

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EMOÇÕES
( Cesar Athayde )
 
 
Sabia eu desde o início
Era fácil demais para mim
Ria, mas sabia
Gracejava, mas tinha medo
Inconscientemente temia
O que eu escondia o coração bramia
— E nem eu mesmo consegui esconder
a emoção daquele olhar...

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Passado é escola
( Paulo Estanislau )


O passado ficou para trás
mas jamais estará ausente
assim, como ensinamento dos pais
é bom tê-lo sempre em mente
Foi explorando seus caminhos
que construímos o presente
Este tem valor de momento
pois o alcançamos
com o aprendizado pretérito
É pelo que defendemos e fomos
  que somos o que somos
Se não é como gostaríamos
se não é o que sonhamos
nos preparamos mais 
para sonhar novos sonhos
construir um amanhã melhor  
a vida que buscamos ter
lutando por um mundo
no qual queremos viver.

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Meu Olhar

( Ney Valença )



Pesqueiro, observador. Olhar de quem quer ver
e até vê, o curioso, o que não deve
Olheiro, fixador, olhar que despe 
profundo que até arrepia, excita
Toca o sexo e o umedece
Arteiro, brincalhão, zombeteiro
como quem não quer nada, encanta
Olhar de criança
Sério, carrancudo, medroso
Olhar de quem esconde
Olhar que não tem gosto, nem fundo
Calmo, sereno, confortante
(olhos que falam, alegres e penetrantes)
Olhar de paz, amigo
Olhar sincero, inebriante
Tímidos, fugidios, distantes, olhares marcantes
Rápidos, olhares que cruzam, fitam, agradecem
Olhares do mundo, traiçoeiros e invejosos
Olhar do inimigo, que fere, olhar que mata
São tantos os olhares. O meu, o seu
Mas, sublime, bondoso, vigilantes
só o olhar de Deus.

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SOCIALMENTE FALANDO

( Marcus Ottoni )


Deus fez o homem a Sua imagem.
O homem descobriu um outro homem
que não era a imagem de Deus.

Daí... nasceram as classes sociais.

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SÓ SONHOS

( Paulo Estanislau )


Eu sei
sabes também
nosso amor é impossível
mas existe, é forte
Por ser amor, imprevisível
Nos amamos
Sonhamos sempre
eu contigo
e,  por mais que evites
sonhas comigo também
Meus sonhos não me deixam
te esquecer
Os teus são lembranças felizes
Quando dormimos estamos 
como sempre estivemos
juntos, um só ser
como sempre fomos
sonhando o mesmo sonho
Acordados, somos só um sonho.

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NÚPCIAS

( Ney Valença )


Foi tanta paixão
tanto desejo
que o amor fundiu-se num beijo
Anda na cama macia
vejo-a andar pelo quarto
corpo nu
o esplendor de sua beleza
a silhueta emoldurada pelos raios
seus passos de bailarina
insinuantes, convidativos
Seu feliz cantarolar completa
e define a felicidade dessa noite
Exausto e sonolento, fico ali
reacendendo a chama
a ti seguir com os olhos
esperando seu retorno à cama
para que a nossa trama 
nossa noite de núpcias
mergulhe em mil volúpias
e como virada de ano
exploda em fogos de artifícios.

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Canção para um amigo

( Joel Andrade )


Deixe o coração ficar, amigo
pra te ver, pra te ver
leve sobre o som de um zumbido
pra te ver. Pra te ver
Ver o sol mais claro colorido
num dia de domingo bem bonito
ter o pensamento no infinito
e a alma elevada sobre o céu
Pra te ver. Pra te ver
Pra te ver. Pra te ver
Pra te ver. Pra te ver

Sob a sombra de um belo arvoredo
Pra te ver. Pra te ver

Na calma e a paz de um dia passageiro
Pra te ver. Pra te ver

Num abraço caloroso de um amigo
Pra te ver. Pra te ver

Num breve adeus fraterno protegido
Pra te ver. Pra te ver

Ver o sol mais claro colorido
num dia de domingo bem bonito
e ter o pensamento no infinito
e a alma elevada sobre o céu

Pra te ver. Pra te ver
Pra te ver. Pra te ver
Pra te ver. Pra te ver
Pra te ver. 

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Um desejo a mais

( Marcus Ottoni )


Hoje ela passou a manhã fritando batatinhas.
Lavou a louça, varreu a casa, enxaguou a roupa.
Depois, deitou-se nua no tapete da sala.
Hoje ela foi novamente a dona de casa...
Apenas com um desejo a mais.

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CORAÇÃO VAGABUNDO

( Ney Valença )


Voa
voa meu coração vagabundo
vai ver o mundo
outros ares, veraneia
Quem sabe, outro amor
sim, outro amor
sentado sozinho
à beira do caminho
Mas 
não te apegues logo
Sejas andarilho, arredio
conheças todos os cais
Então, vais
derramando sonhos
distribuindo beijos
em todas bocas e corpos
E quando voltares
depois de tantos carinhos
voltas vazio, sozinho
pros braços de quem
resignadamente
te espera.

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Vida Passageira

( Paulo Estanislau )


A vida é passageira
O tempo e a velocidade
dependem da condução
Seja o melhor condutor
conduzindo-a sempre
com dignidade, paixão  
respeito e amor. 

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NAMORADA

( Ney Valença )


É tarde meu amor vou embora
quero ver você sorrir agora
meus olhos sonharão com os seus
só mais um beijinho queridinha, adeus
Não adianta me olhar assim
eu gosto de você, você gosta de mim
Uma noite não é nada, logo vai terminar
vai dormir agora e comigo sonhar
Amanhã eu volto na hora marcada
pra te ver de novo minha namorada 

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Ir e Vir

( Marcus Ottoni )


Havia muitos sonhos para realizar.
Muitas terras para conquistar
e muito amor para distribuir
O que restou?
Apenas esse interminável ir e vir
sem saber onde quero chegar.

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TRAVESTIS
( Cesar Athayde )
 
 
O Grito rugido da fera fugiu da jaula
Adentrou a cidade
Os salões festivos
Aumentou-se o som
Abafou-se o grito
E a fera
Jaz no asfalto morta
pelos tiros da moral
Que da sacada se ria
Triste final.

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Sonho e realidade

( Paulo Estanislau)


O sonho será só sonho
utopia ou ilusão
se não o transformarmos
em projeto
se não houver luta pela
concretização
Ao contrário, será verdade
realização.

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Beijo tênue

( Ney Valença )


Torno-me mistério em tua boca
quando dizes que me ama ao vento
perpetua meu nome no tempo
sela nosso amor no infinito
Abrigas em tu’alma lamentos
sórdidas nuvens de pura dor
cansa-me ver-te em agonia
onde outrora foste só amor
De um alegre e angélico canto
nasce tonantes de discórdia
acordes de tristeza, claves de dó
e colcheias de sofrimento
Fiz-te vida de um sopro alado
na face exposta ao beijo tênue
do ventre da jovem flor de primavera
que desdenha outonos tântricos 
e rejeita a cria num medo inocente
Torno-me mistério em tua boca
segredos frios em língua quente
de salivar poético e gótico 
exótico, de linguajar de encantos
Porquanto vives de olhar perdido 
no desejar do silêncio 
a sonhar quimeras negras
no amanhecer de um dia branco.

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AVE NOTURNA

( Joel Andrade, Marcus Ottoni, Oseas )



Minha vinda à terra 
prolonga o canto de minha ave
no entanto o canto encerra-se no ar
A vida que eu vim viver, não se fez vida
A morte que eu vim matar, não se fez morte
Repete o seu canto, ave noturna
Repete o seu canto, seu canto de dor
Repete o seu canto, ave noturna
Repete o seu canto, seu canto de amor
O canto que eu vim cantar, não se fez canto
O sonho que eu vim sonhar, não se fez sonho
Repete o seu canto, ave noturna
Repete o seu canto, seu canto de dor
Repete o seu canto, ave noturna
Repete o seu canto, seu canto de amor
O canto e a vida, desfeitos na morte
O sonho noturno, minha ave grita
Termina a angústia de um pobre infeliz

Mas o canto continua
Mas o canto continua
Mas o canto continua

Quero, quero, quero, quero, quero, quero ser
uma ave noturna

Quero, quero, quero, quero, quero, quero ser
uma ave noturna.

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( Marcus Ottoni )


Deu-se a todos por infinito prazer. 
Fez do corpo o templo das paixões.
Decepcionou-se...
Guardou-se de todos e de tudo.
Cobriu-se com o véu da solidão.
Sofreu...
Partiu sem nada dizer
Foi-se como um vento suave e frio.
Voltou a ser o que nunca deixou de ser...
pó...

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SOLIDÃO

(Leal Carvalho)


Solidão
leva para de mim
este veleiro de bálsamo tão só
Leva pro infinito do mar
sem gaivota a seguir

A razão
deixe-me tocar em alguém
Todo benigno ser me faz bem
Deixa-me abraçar em você 
quando o calor envolver

Todo corpo é companheiro
Vivente não vive só
Não vive só. 

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POESIA
( Ney Valença )


A Poesia
essa criança inquieta
corre, pula, se agita
me faz vivo, me alegra

A Poesia
adolescente, flor menina
transbordando amor
com muitos sonhos e fantasias

A Poesia
linda mulher, altiva
com visões modernas
e palavras fortes e críticas

A Poesia
senhora que intriga, fascina
dona de todos os versos
todas as letras, todas as rimas

A Poesia
matriarca de rica beleza, completa
mora nos corações, conforta almas
que vence o tempo e tem vida eterna.

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Ainda é tempo

(Lembrando Taiguara)
( Pablo Autamowar )

 Houve um tempo 
em que homens e mulheres
 davam-se as mãos
 ocupavam praças, avenidas 
e gritavam,  protestavam
 Clamavam aos que estavam
 nas janelas a ocupar as ruas
O sonho era mais forte que o medo
E cantavam

“Vê como um fogo brando 
funde um ferro duro
Vê como o asfalto
 é teu jardim se você crê
Que há um sol nascente 
 avermelhando o céu escuro
Chamando os homens 
pro seu tempo de viver”

Houve um tempo 
que ainda pode ser hoje
pois hoje, ainda é tempo de sonhar
e de viver.

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Luz Riqueza

( Leal Carvalho )


Ei olha lá!
Despontando nas brechas do morro
lá vem o luar
Navegando no espaço do céu pra cabeça
Abraça o planeta
Renova a certeza

Seja lá como for, não desapareça
embeleza as noites com sua riqueza
até que chegue o momento de adormecer
dando a vez e o lugar pro sol raiar
E os galos despertam o planeta
E os raios aumentam a certeza
de que o dia foi feito pra levar
E a lua e o sol não perdem sua riqueza
Eternos amigos da natureza
semente tão fértil da flor gentil
seus raios a terra vem regar.

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O Picadeiro

( Paulo Estanislau )

 Sob a lona azul de nuvens brancas
nesse imenso picadeiro 
somos todos artistas
todos, en passant
representamos uma vida
Cada um com o seu tempo
Palhaços alegres 
contadores de histórias
malabaristas, equilibristas
Há, os que nos emocionam 
nos trapézios arriscando suas vidas 
se equilibrando em cordas bambas
Há também palhaços tristes 
sem fervor, sem alegria
Mamulengos,  fantoches
 marionetes
uns por medo
outros por pura covardia

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Cheiro de menina

( Ney Valença )


Meu sorriso 
nasce em sua boca
com folhas
brotam no arvoredo
Meus segredos 
voam em seus sonhos 
e o meu corpo 
arde em seus desejos
Em seus olhos 
clareio minh’alma 
Na pura cor de sua retina
amanheço
Na alegria do seu colo
adormeço
com seu cheiro de menina.

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Sangra coração

(Marcus Ottoni)


Deixe meu coração sangrar.
Como se fosse um olhar a chorar.
Deixe-o sangrar sem limite,
sem constrangimento, sem piedade.
Porque sangrar é a sina de todo coração machucado.
É sangrando que cura sua própria dor.
Que esquece a decepção, a desilusão, o mal do amor.
Deixe, então, que sangre, que sangre bastante.
Para que assim, sem nada mais para sangrar,
Desfaça-se a solidão que o aperta, que o maltrata, que o dilacera.
Que me enlouquece...
Sangra coração... sangra que um novo amor está por vir...

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Canto da Paz

( Leal Carvalho )


Todas as crianças de uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos 

Deixam no leito a esperança
na ânsia de adulto, criança já foi
Vão ao poder estraçalhando sonhos
e prometem exterminar você

Todas as crianças de uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos

Todos os olhos se voltam
pra uma adolescência criada ao léu
Quem sabe seria o elo
de uma América a outra calar seus canhões 

Todas as crianças de uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos 

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Saber de Ti

(Marcus Ottoni)


Para saber de mim,
preciso antes saber de ti.
Preciso saber dos dias que vives,
das noites que passas
e dos amores que desgraças

Preciso saber da vida que levas,
das bocas que beijas, das camas em que deitas.
Preciso saber de ti, desesperadamente,
para saber de mim

Um riso, um sorriso.
Um beijo, um abraço.
Um vinho, uma taça quebrada.
Um pedaço de ti ainda em mim.

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HIPÓCRITAS
( Ney Valença )


Como as coisas 
podem continuar tão puras
se a própria pureza 
ficou nua
Arrancou suas roupas e
despiu-se em  praça pública

Fato 
que de imediato
todos viram sua beleza
mas, pelo tempo que ficou exposta
viu-se também suas entranhas
seu lado humano, sua face oculta
Arregalaram-se os olhos
para a verdade
e cerraram-se para as ruas
onde há muito
nudes em outdoor’s 
em cenas explícitas 
que invadem em novelas
dia após dia. 

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Seu brilho 

( Paulo Estanislau )


Meus olhos tristes, lacrimejantes
exploram o horizonte
 em busca de uma luz
que ilumine meus caminhos
Meu semblante sombrio
transmite a angústia pela procura
  resplandecendo a aflição 
de não encontrá-la
A procura é tempo perdido
eu só não percebia
Não estou sozinho
Você está ao meu lado
É bela e seu brilho 
cumula de luminosidade
 meu destino.

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ESTA – LOS

( Nei Valença )


Às vezes
muitas vezes
o pensamento é como
uma lebre em fuga
ziguezagueia ligeiro
e foge
Não há como capturá-lo
ele some 
se  esconde
entre os outros
e vai se assentar
até um relampejo.

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OS ELEMENTOS

( Marcus Ottoni )


Calor que toca o solo
e faz a relva aquecer.
Água que cai do infinito
fazendo da mata, a beleza do ser.
Vento que corre nos campos
movendo a poeira em qualquer direção.
Terra que cresce e afunda
criando imagens na imensidão.
Luz da lua, brilho do sol. 
Estrelas andando na imaginação.
É água, fogo, terra e ar
brotando na vida com tanta emoção.
Viver é a arte de se conhecer.
Amar é o caminho para se encontrar.
Desfazer o que está feito e se achar.
Amor é morrer para renascer.

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Esse cara sou eu

( Paulo Estanislau )


Aonde chego tem barulho
Faço questão
de não passar despercebido
Por onde quer que eu passe
passo marcando
marcas de carinho
respeito e simplicidade
Passo cultivando amizade
distribuindo beijos
suplicando abraços
Passo falando alto
cantando frevo
fazendo passo
Passo 
marcando espaço
Fazendo
Passo.

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BALADA FINAL
( Cesar Athayde )
 
 
Quando teu olhar
bateu no meu
quão imenso era o mar
em que a barca da separação se perdeu
e eu
argonauta de raras viagens
não me achei nem a metade 
do que você perdeu
quando no ar bateu
e doeu
a dor do teu Adeus.

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ELES

( Nei Valença ) 


Nascem flores no meu jardim
ao lado não
Ao lado há um silêncio assustador
janelas fechadas, sem cor
Colho frutos no meu quintal
ao lado não
as frutas caem apodrecidas
proibidas aos meninos da rua
Uma casa sem alma
com moradores, vazia
Seres que entram e saem
gente que não dá valor a vida
Ouço música ao bel prazer
ao lado não
Estranhos
vivem como se não existissem.

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AMIGO É AMIGO
( Paulo Estanislau )


Meu amigo não tem defeito
faz as coisas ao seu modo
não sei dizer se é certo
ou se é direito
só sei, que seu modo
não é meu jeito
mas é meu amigo
por isso o guardo sempre
do lado esquerdo do peito
pois comigo ele não falha
e de lá ninguém o arranca
nem a golpe de peixeira
bisturi ou de navalha
nem mesmo de alavanca!

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TODAS AS MULHERES
( Marcus Ottoni )


Todas as mulheres nas manhãs de sol
pegam seus carros e saem às ruas
Miram-se no espelho, olham suas almas
ajeitam seus cabelos e vão à luta
Beijam seus homens
Rezam pros seus santos
Quebram os encantos 
Riem da desgraça alheia

São mulheres, são sereias
São donzelas, são tão belas
Todas as mulheres nas manhãs de sol

São tão belas, são sereias
São mulheres, são donzelas
Todas as mulheres nas manhãs de sol

Belas, sereias
Mulheres, donzelas
Belas, são tão belas...
Todas as mulheres nas manhãs de sol

Belas, tão belas, são belas.

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UBOÉ

( Nei Valença )


O seu jeito me fez a cabeça
a cabeça fez te querer
tua boca, “Cala mia boca”
“mui loco prazer”

Quando eu te vi a voz não saiu
e o coração explodiu
Seus olhos nos meus
a chama acendeu
e nossos corpos se uniram 
Bom pra você, bom para mim
que a gente viva assim
Só pra sorrir, só pra cantar e sonhar
a vida é feita para amar.

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Bandas e Bundas
( Marcus Ottoni )


Belas são as bundas ao som das bandas
Divididas em bandas, balançam em cadências...
bamboleantes, desbundantes...
Balançam pra cá, balançam pra lá
Balançam em ritmos vários, variando as bandas
Balanceios marcam o compasso das bundas
Em duas partes, se mexem ao som das bandas
Bundas e bandas, bandas e bundas...
Balançam corações de quem não tem bandas
mas deseja as bundas em vontades ocultas...
perigosas... amorosas... pecaminosas...
Ao som das bandas, balançam as bundas
e também corações e mentes... desbundados.

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Vem me fazer feliz

(Canção da Mariazinha à Chiquinha)
( Paulo Estanislau )


Quantas vezes eu pensei pedir
pra você me esquecer
pra procurar um outro alguém
que lhe amasse como eu lhe amei
que lhe desse o prazer
que eu lhe dei
Tantas vezes ensaiei
pra lhe dizer
que não adiantava mais
você querer voltar
que a porta ia estar sempre fechada
que não queria nem lhe ver,
eu não ia mais lhe esperar.
Tantas vezes me peguei dizendo não
mas a saudade foi mais forte
que de nada adiantou
toda essa intenção  
Mas que loucura do meu coração
que agora insiste para eu pedir 
para eu gritar e implorar
Volta!
Vem me fazer feliz, vem esquecer
o motivo que lhe fez partir
volta que eu só quero e vou fazer
você sorrir
Volta!
Vem me fazer feliz e esquecer
tudo isso que pensei fazer
mas não fiz
por medo de outra vez me magoar
Volta!
Esquece tudo o que aconteceu
O coração que bate em meu peito
é todo seu
só ao seu lado eu vou ser feliz.
Volta!
Vem me fazer feliz, vem esquecer
o motivo que lhe fez partir
volta que eu só quero e vou fazer
você sorrir
vou lhe amar, fazer feliz

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PASSARINHO

( Nei Valença )



Passarinho cantou
quando viu novo dia raiar
e até anunciou que o sol brilha no seu habitat
E também, se empolgou

quando a mata inteira parou de escutar
mas, não desafinou e lançou melodias no ar
Olha só passarinho
que sai do seu ninho feliz a cantar
oia que eu sou menino
sou tão pequenino, já querendo voar
Venha cá passarinho
e com esse jeitinho me ensina a cantar
tô querendo carinho
tô querendo alegrias
tô querendo sonhar

Voar...

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O CAMINHO

( Marcus Ottoni )


Vai ser feliz aquele que acreditar
que pode vir para se transformar.
A lição é simples
basta compreender
que a Deusa é luz
vida e saber.
Para isso entender 
o errado tem que renegar.
Fazer do amor a luz que vai “alumiar”.
Amor é a Deusa.
A Deusa é o amor.
Dar antes de receber.
É o caminho pra se conhecer.

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QUANDO LHE CONHECI  

( Paulo Estanislau )


Quero
e vou contar ao mundo minha sorte
que é tão grande meu amor
que nem a morte
será capaz de com ela terminar
Pois, por onde eu for
continuarei sempre lhe amando,
onde estiver
eu estarei lhe esperando
por mais que dure
a hora de você voltar
Quero
gritar ao mundo
que não há uma loteria
que dê um prêmio
comparado a alegria
e o prazer de amado por você
Lhe conhecer,
me fez o homem mais feliz
aqui da terra
posso dizer
sem qualquer medo de errar
que é em mim
que a felicidade encerra
que foi de mim
que nasceu o verbo amar
Quando lhe conheci...

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A boca

(Tantarello / Marcus Ottoni)


"Esta boca que docemente a ti se oferece em busca de beijos molhados, não é tão inocente assim como imaginas. 
Não é pura e muito menos santa. 
Traz em cada lábio o pecado estampado, marcado pela entrega sem limite ao ato da luxúria explícita. 
É devassa em toda extensão do sorriso, no brilho porcelanato dos dentes, no movimento dos músculos que se contraem em cumplicidade com o prazer que deseja. 
É louca, desvairada, alucinada por nádegas, pescoços, ventres, coxas, seios e outras bocas sem risos abertos. 
Aceite esta boca que a ti se oferece e se condene eternamente ao orgasmo sem fim" 

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Lágrimas

(Marcus Ottoni)


Haviam lágrimas em seu olhar. 
Não que houvesse
sofrido acidente causando-lhe dor. 
Não. 
As lágrimas não vinham de uma dor carnal física. 
Eram frutos de algo mais profundo,
aparentemente despercebido de todos
que o rodeavam e não entendiam porque chorava. 
Aquelas lágrimas secariam em seu rosto
muito antes do dia acabar.
Levariam, com certeza,
as dores da saudade.

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Cabra macho II

( Paulo Estanislau )


Me desculpe minha comadre
pelo que vou lhe dizer
o caboco quando é macho
bate e tem que bater
Bate com a boca na boca 
com a língua no ouvidor
bate com os dentes no peito
mas sem ela sentir dor 
e quando bater a vontade
pega a mulher pelo braço
leva pro quarto e arrepia
os cabelos da coluna
até causar agonia
quando ela se contorcer
mete no umbigo o nariz
aí chorando ela implora
vai logo pro chafariz

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Declaração

(Marcus Ottoni)

Meu coração é uma curva torta, uma casa sem porta aberta para qualquer emoção. 
Não é um caminho sem volta, uma estrada sem fim, uma aventura chinfrim. 
É mais do que mais e tudo que possa ser. 
Mais do que qualquer coisa, coisa nenhuma, coisa alguma. 
Meu coração é teu. 
Sendo seu, quer que o teu coração seja meu.

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Reflexão II

(A.Morais)

O grande segredo da vida é viver agora. 
Amanhã não sei o que será. 
A vida passa tão depressa, semelhante ao vento. 
Não espere para amar depois. 
Talvez não dê mais tempo. 
Não espere o tempo passar para viver as alegrias que a vida te proporciona. 
Quando ele se for, arrependimento nenhum vai fazê-lo voltar. 

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Ausência

(Marcus Ottoni)

A saudade é uma faca afiada.
Seu corte abre a chaga por onde sangra meu sentimento.
É o talho profundo que penetra na alma.
Fazendo tua ausência se tornar eterna.

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Reflexão I

(A.Morais)

“A lei da mente é implacável 
O que você pensa, você cria 
O que você sente, você atraí 
O que você acredita, torna-se realidade 
Quando faltar sorte, faça sobrar atitude 
O azar morre de medo de pessoas determinadas 
Não espere o incentivo do outro
o primeiro a acreditar em seus sonhos tem que ser você!”

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  LIBERDADE  II

( Paulo Estanislau )

Liberdade
não é uma calça velha
azul e desbotada
Muito menos é fazer o que se quer
na hora que se tem vontade
Liberdade
é uma mesa de bar
uma cerveja gelada
É cantar uma canção que fala
em soltar a voz na estrada
depois, sair nessa chuva fria
que me espera lá fora
e seguir a vida
lembrando de você.

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Saudade por inteira

(Pouchart – março de 1998)


“De ti levo a saudade encravada no peito, 
repleta de feitos de bem querer. 
Levo teu riso aberto gravado na memória 
como a contar boas histórias. 
Vai junto comigo, preso em meu sexto sentido, 
a emoção jamais sentida por mim e nenhuma vez consentida por ti. 
Mas levo boas velhas com sabor de boas novas. 
Com gosto de realidade o que o sonho e 
a vontade não fizeram real. 
Enfim, de ti, levo-a toda, completa, inteira. 
Levo-a tal qual a brisa passageira que nos toca e arrepia a pele deixando na gente a
felicidade de ter sido eterno o mais mágico dos momentos entre nós” 

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ME DIZ

(Canção para um amor distante)
( Paulo Estanislau )


Amor, estou sentindo tanta falta de você
que já não sei mais o que fazer
a sua ausência dói demais no meu coração
Eu sei, não adianta procurar
um culpado pra essa dor
Não fui eu que fugi pra lhe esquecer
nem foi você que se cansou do nosso amor
Essa distância que existe entre nós dois
foi o destino ingrato que causou
Não sei, se você já esqueceu de mim
eu até hoje não lhe esqueci
tampouco me acostumei
a viver longe de você
Será, se de repente eu aparecer
e lhe contar a vida que vivi
você chorando vai me abraçar
e em meus braços vai dizer
que, não foi somente eu que sofri
que esse tempo todo me esperou aparecer
só para dizer, ainda amo você,
como eu amo você...
Vê como é estranho esse nosso coração
os dois distantes só vivendo de paixão
sem esquecer o verdadeiro amor
Será que é preciso sentir tanta dor
sofrer a falta de um grande amor
pra ser feliz?
Me diz, me diz, me diz...

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Quem me dera...
( MARCUS OTTONI )


Quem me dera ser um
barco a navegar por mares
tão bravios.
Quem de dera ser um bote
a naufragar nas mágoas
desse rio
Quem me dera descobrir as
emoções sem ter que ouvir
as notas das canções
Quem me dera ser mais
forte para enfrentar
as guerras que
tenho que lutar
Quem me dera ser eu
e ser você
ser a paz e o amanhecer
Quem me dera ser amor
eternamente
talvez, ódio sem semente
Ser o que sou
apenas e simplesmente.

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O Nordeste  

(Paulo Estanislau)

  
O Nordeste
aonde o Brasil nasceu
tem uma história bonita
de riqueza de cultura
construída dia a dia
Lá não é só tristeza
é vida pulsante, é trabalho
 o Nordeste é alegria
Ele é massa, é arretado
é Beleza, é Bahia
é Sergipe, é Alagoas
Pernambuco Leão do Norte
é Ceará, Maranhão
o Nordeste é Rio Grande
Maravilhoso do Norte
é Paraíba feminina
o Nordeste é Piauí
de Parnaíba e Teresina
de um povo altivo
que trabalha
e faz da dignidade
respeito e felicidade
mais que um sonho
uma sina.

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LUA VERMELHA
(Pablo Autamowar)


A lua avermelhou o céu
o meu coração vermelho
de alegria
mais se vermelhou
Diante de tanta beleza
sonhei
e não estava só
quem acredita
também sonhou

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Socialmente falando

( Marcus Ottoni )


Deus fez o homem a sua imagem.
O homem descobriu um outro homem
que não era a imagem de Deus.
Daí, nasceram as classes sociais. 

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Desejo de amar

( Paulo Estanislau )


Hoje eu queria lhe amar
Amar, o quanto você merece
Isso é mais do que posso agora
Hoje eu queria ser poeta
falar coisas belas
de você que é tão bela
Dizer tudo que merece ouvir
Queria poder falar
com a certeza ser sincero
eu lhe amo
Mas meu coração perdeu a razão
insiste em se dividir
entre o amor e a paixão

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HAI – TROP – KAI 

(Pouchart)



A lua deitou-se na nuvem
que a cobriu com um manto de mistério.
Os amigos não partem,
apenas ficam longe dos olhos.

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 VIDA PASSAGEIRA

(Paulo Estanislau)


A vida é passageira
O tempo e a velocidade
dependem da condução
Seja o melhor condutor
conduza com dignidade
respeito e paixão.

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IMAGINAÇÃO

(Marcus Ottoni)


Se eu fosse certo,
não teria curvas, seria reto.

Se eu me desse ao luxo do patrão,
não teria emoção...
Imaginação.

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SURRA DE PEIA

(Paulo Estanislau)


Derna donte de manhã
um mal pensar me aperreia
não sou supersticioso
mas vem aí coisa feia
Onde foi que já se viu
uma mulher amuada
ficar o dia inteirinho
com a matraca fechada
Como besta eu não sou
fico quieto e calado
pois não quero o despertar
dessa onça pro meu lado
A razão juro não sei
vou procurar assuntar
se o motivador for eu
vou logo me desculpar
Vou na feira lhe comprar
um lindo maço de rosa
e um vestido bem vistoso
pra lhe deixar mais formosa
Se isso não lhe agradar
só tem uma coisa a fazer
vou bancar o cabra macho
que é pra ela me bater
E aí a raiva passa
lhes digo de coração
vai ser a noite inteirinha
de beijo e esfregação
E quando raiar o dia
depois da surra de peia
ela não tem mais motivo
pra ficar de cara feia
Aquele sorriso largo
a cara de abestalhada
vai deixar o mulheril
com uma inveja danada
E os machos lá da rua
que gostam de falação
vão ficar tudo arretado
quando virem minha cara
de pura satisfação

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DISCURSO EM 12 MESES 


(Marcus Ottoni)



O que sangra minha alma, senhor Presidente
Não é o silêncio da minha geração
A falta de ação
A emoção de participar 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Também não é a incerteza do que vem
Do que será
Ou do que se fará no futuro 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Tão pouco é o idealismo
Ou tantos outros ismos
Que lemos nos livros 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Está fora das CIAs
Das oligarquias
Das semi-democracias 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Não é a desesperança do povo
A repressão ao novo
A vida marcada a ferro e fogo

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Tão pouco é o que corre em minhas veias
O porre antes da ceia
A teia de aranha do Poder 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Foge as criações
Burla as sensações
E me enche de angústia e apreensões 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Está longe do fim da vida
Do medo da morte
Da sorte de acordar no outro dia

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Não é o prato vazio
A fome cheia de fome
A dor de quem nada come 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Também não é a dor de dente
O pente da arma que cala, as custas das balas
a fala ousada 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
Está fora dos gabinetes
Fora dos telefones, dos nomes
Dos cones nas cabeças 

O que sangra minha alma, senhor Presidente
São as promessas, são as premissas
As missas de sétimo dia
É o primeiro de abril que a vida me pregou.

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MARIELLE
( Paulo Estanislau )


Naquele dia você falou
Somos todos resistência
afeto, luta e esperança
Neste país em guerra
no mesmo dia
os soldados do crime
calaram sua voz
Interromperam sua luta
mas os seus sonhos não
Agora, cada um de nós
da favela ou da cidade
é só saudade
Somos todos indignação
Continuaremos sua luta
sonhando seus sonhos
Deles, não nos faremos ausentes
Em cada luta nossa gritaremos
MARIELLE PRESENTE!

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POEMA COLEGIAL APAIXONADO
( Cesar Athayde )
 
 
Hoje
acordei mais cedo
abri a janela do quarto
e deixei que a brisa da manhã beijasse meus cabelos
enquanto corriam meu rosto
as duas lágrimas à muito paradas nos cantos de meus olhos...
Hoje 
acordei feliz
com uma vontade imensa de dizer bom dia ao mundo
de pular amarelinha com os meninos do meu bloco
de cantar até as canções do Magal
Hoje
acordei feliz 
só de pensar que você gosta de mim.

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MARIAZINHA

(todas Marias)
(Marcus Ottoni)

Matos, matas e Marias
Dentre todas, Mariazinha
Matos, matas. Perdeu-se Mariazinha
E como eram grossas suas pernas!
Mariazinha perdeu-se nas matas,
no mato, na vida.

Canta o pássaro.
Bate o vento nas folhas.
Bate dentro da mata.
Dentro de Mariazinha, bate o amor.
E como era boa Mariazinha!

Mariazinha gostava de sol.
De homens e de matas.
Gostava da relva molhada.
Da carne molhada de suor.
Do suor do amor.
Gostava do céu.
Da língua quente no céu da boca.
Gostava das matas perdidas, das noites perdidas.
Mariazinha perdeu-se nas matas.

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SONHOS

(Pouchart)


A cidade agora adormeceu.
As luzes das casas, das choupanas
vão apagando-se em ritmo de computador
Penso eu...
Quantos ventres juvenis abrem-se em desejos
para o amor adulto?

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9 de outubro
(Paulo Estanislau)


Dia D
Lutar
Sonhar
Amar
9 de outubro
Dia D
acreditar
por fim a opressão
Ser feliz
Amar
Sonhar
Lutar
Lembrar Guevara
Gritar Presente!
e novamente
ser feliz!

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STAR – só
( Cesar Athayde )


Não é medo
não
talvez receio de perder algo
tão bom...
Que belo começo
pareço um trouxa
chorando mágoas que eu não causei
eu não me acho
pois sei que brilho
como um vampiro
te magnetizo
e assim
mais pareço o teu algoz...
Não é medo não
eu não comecei de novo
nada
nem nunca começaria tudo outra vez...
Como, onde, porque de te amar
não sei
só sei que eu sou o sol e tu a terra
que nos precisamos
que eu como sol
posso
brilhar sozinho
outra vez...

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 MULHER

(Marcus Ottoni)


A menina chegou só e bela.
Ajeitou-se na areia e recebeu o sol

Os homens chegaram
famintos e sedentos.

A menina mostrou-se aos homens
deliciosamente...

Os homens a fizeram mulher
despudoradamente...

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 PLAGIANDO JOTA JUNIOR

(Paulo Estanislau)


Lata d'água na cabeça
Lá vai Maria
Sobe o morro e não se cansa
Lá vai Maria
Lava roupa lá no alto
Lutando pelo pão de cada dia
Sonhando com a vida do asfalto
Que acaba onde o morro principia
Lutando pela vida 
Que termina lá no morro
Lá no fim do morro 
Onde a morte inicia.

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 UM HOMEM

(Marcus Ottoni)


Hoje eu conheci um homem
que sentou-se a minha mesa
sem pedir licença
olhou para minha cerveja
e, sem pedir licença
bebeu-a em copos seguidos
E, também sem pedir licença
contou-me estórias
que já iam longe no tempo
Esse homem anoiteceu ao me redor
e só quando, sorrateiramente
o dia pediu licença
para chegar
esse homem, ironicamente
pediu licença
para se apaixonar.

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   Manhã de ilusão

(Paulo Estanislau)


Naquela manhã
pelas frestas da janela
o sol invadiu o quarto 
a clara luz 
e o canto dos pássaros 
me acordaram
Ao meu lado 
seu corpo inerte sugeria 
que a noite fora de prazeroso cansaço 
Pus-me de pé, abri a janela 
 senti o cheiro da terra 
e das flores que rodeavam a casa
Meu coração pulsava feliz
Parecia que o dia seria de alegria
Parecia!
Mas a manhã se foi
veio a tarde
trazendo com ela 
a noite escura e fria
Você se foi, e até hoje 
sinto saudade daquela manhã
do cheiro da terra, das flores 
do seu perfume em meu corpo
e tudo mais que não me pertencia.

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Bilhete
( Cesar Athayde )


Me amor
deixa eu tentar sofrer sem te fazer notar
chorar pra dentro enquanto no rosto pinta um sorriso falso
deixa eu ficar e não tentes me afastar
pois, viver sem ti é bem pior do que morrer
Meu amor
deixa de me aperrear
pra quem nunca amou
você é algo assim como o pior vestibular
não me leves a mal; meu defeito é só te amar
Deixa que eu mesmo aprendo sozinho a hora do afastar
e saibas que o medo nunca vai me abandonar
Meu amor
deixa eu ficar
e sorria quando eu chorar...

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AURORA

(Marcus Ottoni)


A morte veio matar-me hoje pela manhã
Encontrou-me armado de alegria
bem disposto e feliz
A morte veio matar-me hoje cedo
Encontrou-me sorrindo e sem medo
A morte veio matar-me na aurora...
Pensando bem, se ela viesse em outra hora
talvez houvesse-me morto
mesmo feliz e bem disposto
Mas a morte errou de hora
Um poeta não morre na aurora.

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Ao amigo

(Paulo Estanislau)


Amigo
não é pra se cumprimentar
com um simples aperto de mão
é pra se abraçar
num abraço apertado
é pra se beijar
com um beijo molhado
é pra fazer carinho
e trocar afago 
Amigo
não é só pra se gostar
é para amar
é pra se guardar dentro do peito
bem perto do coração
é pra todo dia, é pra sempre 
não é pra ocasião
Amigo
não é para cobrar
o tempo que sem vê se passou
É para comemorar
o dia e a hora que sem querer
ou querendo, se encontrou
Amigo não é pra se deixar 
mas, se deixar, sentir saudade
pra se guardar na lembrança
e quando reencontrar
sentir felicidade.

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Em busca do amor perdido
( Naldo Dourado )
 
 
Sol amigo, meu
abrigo, cerca-me
de brilho, reveste-me
de esperança. Correrei.
No teu infinito que 
eu chegar. Quero
tocar teus pés, ver
teu rosto, tuas mãos
manear, no teu ouvido
dizer: “Traz de volta
o meu amor que se foi 
na extensão do teu fulgor
fincar pés noutro lugar”.


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Verde, azul e branco

(Pablo Autamowar)


Pelo verde lutamos
Pelo que vem da mata
dos campos e dos quintais
Lutamos
pelo azul do mar
pelo que dele vem
Lutamos
pelo branco da paz
Mas se outros verdes
azuis ou brancos
quiserem barrar nossa luta
calar nossa voz
mostraremos
o vermelho sangue
do nosso grito
pois somos fortes
juntos somos mais
Hoje, somos muito mais.

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  PESCADOR

(Marcus Ottoni)


Chegue pescador
o mar é tua morada
Chegue pescador
a lua é tua namorada
Já nada importa tanto
como essa brisa louca
que entorta a vela
de tua jangada
Chegue pescador.

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QUADRINHA QUADRADA
( Cesar Athayde )


A vida toda escrevi
poemas sobre saudade
Agora longe de ti
sinto no peito a verdade

Os versos quase nada são
quando defrontamos a realidade
Desde hoje então
enfrento sem choro a infidelidade

Quem um dia amou
em sonho sempre viveu
E o erro em nada importou
naquele em que o amor morreu.

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NORDESTE 
(Paulo Estanislau)

O Nordeste é alegria, é axé e é baião
 bumba-meu-boi de tantas cores
e de grande tradição
que é Boi-calemba 
Boi Surubi 
Rancho de boi e
 Cavalo Marinho
O nordeste é capoeira 
é cordel, ciranda e coco
 é carnaval e caboclinhos 
O Nordeste é frevo, é forró 
de Gonzagão, Civuca e Dominguinhos
 É Maracatu e mamulengo 
é pastoril, quadrilha e reisado 
É xote pra se bulir 
pra se mexer é xaxado
Tudo isso é o Nordeste
se você for conhecer 
lá não vai ficar parado.

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Pingo de chuva

(Marcus Ottoni)


A chuva que cai
conta-me estórias de lágrimas
de sonhos perdidos
em despertar de auroras
Conta-me estórias de poetas
de amigos 
e de cantadores
de cheiro de flores
estórias de amores.

A chuva conta-me
que, apesar da ponta de sol
do braço, do abraço
da boca, do beijo
que apesar de haver ainda
luz no farol
eu morro um pouco
a cada pingo de chuva que cai.

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Volta!
(Canção para Mariazinha)
(Paulo Estanislau)


  Tantas vezes 
eu neguei o meu amor
Quantas vezes 
me peguei dizendo não
Mas a saudade foi mais forte
que o meu coração
que hoje vive
 a me pedir para gritar 
lhe implorar 

Volta!

Vem me fazer feliz 
 vem esquecer
aquilo tudo que pensei fazer
 não fiz por medo 
de outra vez me magoar

Volta!

Vem me fazer feliz
 vem esquecer
o motivo que lhe fez partir
Volta
 que eu só quero 
e vou fazer você sorrir
você sorrir

Volta!

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 IMPORTÂNCIA

(Marcus Ottoni)


Não 
eu não me importaria
de ceder-te minha boca
para que depositasses nela
os teus loucos beijos

Não

eu não me importaria
de ceder-te minha alma
para que infiltrasses nela
a tua louca vida

Não

eu não me importaria,
deste que tu
não te importasses
em ser sincero.

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 SONHO

(Paulo Estanislau)


De repente
tuas mãos percorreram meu corpo
provocando-me arrepio
Senti o calor do teu peito
encostado ao meu
a tua pele macia
o cheiro perfumado do teu suor
Meus olhos turvos
pelas lágrimas de felicidade
miraram os teus, de pura ternura
teu rosto angelical
teu sorriso de princesa
Quando teus lábios carnudos
encontraram os meus
desfaleci de prazer
não queria acordar
Como é bom desfalecer
abraçado ao teu corpo
mesmo que em sonho
Como é bom sonhar!

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CONFISSÃO

(Tantarello)

"Essa boca que despudoradamente a ti se oferece em busca de beijos molhados, 
não é tão inocente assim como imaginas. Não é pura, e muito menos santa. Traz em cada lábio o pecado estampado, marcado pela entrega sem limite ao ato da luxuria explicita. 
É devassa em toda extensão do sorriso, no brilho porcelâmico dos dentes, no movimento dos músculos que se contraem em cumplicidade com o prazer que deseja e procura. 
É louca, desvairada, alucinada por membros, pescoços, ventres, coxas, seios e outras bocas sem risos abertos. Aceite essa boca que a ti se oferece e se condenará, eternamente, ao orgasmo sem fim e ao infinito prazer que tanto te alucina" 

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INSÔNIA
(Marcus Ottoni)


O dia se foi
Foram-se com ele
todas as dores que não sofri
Hoje
 ficou o cansaço
esse companheiro de tempos de agora
descrença de tudo
dompleto vazio
Onde estarei 
que não mais me encontro?
Nem amar está mais em mim
O sono, quando virá?

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Admiração aos burros
(Pablo Autamowar)


Admiro os que não cedem
mesmo quando precisam
Os que falam quando calar
seria o mais apropriado
Os que dão as costas
para boas propostas
que violentam seu ser
Admiro os burros como eu
Mas não condeno
os que não conseguem ser.

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CAXANGÁ

(Marcus Ottoni)


Vem Barão
vem jogar caxangá
vem sentar na areia nua
e sentir na pele crua 
os anseios da terra
os desejos do mar
Vem Barão
vem jogar caxangá
Escravos de Jó...
tira, bota...
deixa o Rei ficar...

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Vai!

(Paulo Estanislau)


Vai  
Segue o seu caminho
Já estou acostumado 
a não ter você
estou habituado
a viver sozinho
Quantas vezes por saudade
já lhe procurei
mendigando seu carinho
mas o que recebia 
parecia obrigação
você não estava ali
não estava ali seu coração
Se é para ser assim
vamos seguir cada um 
o seu destino
Você sendo quem é
Eu, silenciosamente 
lhe amando em desatino.

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  MARACA


(Nei Valença)


Se há quem diga que não há vida
ou quem duvida do meu pensar
levante o braço, arrume o traço
mas com cuidado pra não borrar

A lua nasce no céu distante
tão deslumbrante no seu luar
e o sol se infiltra sobre as colinas
e leva o dia, a cor do mar

Não sou correto, estou bem perto
do lado certo de amar
Andando ainda procuro a vida
achando a dica vou te ganhar

Saudade é mato em meu peito fraco
cigarro eu trago, posso te dar
sou astronauta, sou cosmonauta
sou tudo ou nada, mas sei amar
as coisas belas da natureza
tenho proezas em meu cantar
País é guerra, Estado é terra
ruindade é vela, vou apagar

Chegou a luz de um novo mundo
sorrimos juntos, adeus penar
Maraca é samba, caçamba é lama
menina é tanga, eu sou sei lá

Maraca é samba, caçamba é lama
menina é tanga, vem me amar...


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Laços eternos

(à minha irmã Andréa Cristina)

(Carla Lima)


A caminhada é longa quando os objetivos
não lhe contemplam individualmente
Carregar a responsabilidade de querer o bem
para pessoas que você nem conhece
tem um preço bem mais alto
muita sola de sapato
às vezes mudar a ideia
adaptar seus sonhos
para que caibam mais e mais
indivíduos que querem a mesma coisa
Que assim seja
que os fins justifiquem os meios
que os meios estejam dentro dos limites
da ética e da moral
que consigamos sem guerra
encontrar paz e luz
para muitos e que sejamos assim
cúmplices de uma mesma história de família
Amor sem caridade faz parceria com o ego
e caridade sem amor com a vaidade
Amor e caridade são dois perfis
que precisam caminhar juntos
para que possam
fazer o efeito desejado
da felicidade mútua
Te amo minha pequena.

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AMÉRICAS

(Pouchart)


Desfraldar todas as bandeiras.
Subir a Cordilheira Andina
e soltar o grito preso
Desatar o nó das amarras
vermelhas e azuis
e gritar

LIBERTA-TE
AMÉRICA LATINA!


A poesia foi escrita em 1979 por Marcus Ottoni com o pseudônimo de “Pouchart”

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Ainda é tempo

(Pablo Autamowar)


 Houve um tempo 
em que homens e mulheres
 davam-se as mãos
 ocupavam praças, avenidas 
e gritavam,  protestavam
 clamavam aos que estavam
 nas janelas a ocupar as ruas
O sonho era mais forte que o medo
E cantavam
“Vê como um fogo brando 
funde um ferro duro
Vê como o asfalto
 é teu jardim se você crê
Que há um sol nascente 
 avermelhando o céu escuro
Chamando os homens 
pro seu tempo de viver”
Houve um tempo 
que ainda pode ser hoje
pois hoje, ainda é tempo de viver

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 CONFISSÕES NOTURNAS


(Marcus Ottoni)


Teus lábios são a fonte
onde bebo
o prazer.
Teu colo é a relva
onde descanso
em paz.
Teus seios são montanhas
que meus dedos
não cansam de escalar.
Teu íntimo é o infinito,
um mundo selvagem
que teimo
em povoar.

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VEM CHEGANDO O TREM

(Nei Valença)


Êh!

Vem chegando o trem

vem trazendo as coisa 
que aqui não tem

 É!
Ele já chegou
estação primeira
nosso trem parou 

Viajar, viajar, é muito bom
é muito bom
viajar, viajar, viajar
é muito bom

Êh!
Vem chegando o trem...


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NOITE SEM POESIA

(Paulo Estanislau)


 A chuva cai suavemente
e eu, parado
neste lugar de loucos
lugar frio de gênios anônimos 
olho e escuto seus pingos
caírem em forma de música
É noite
e a lua quase cheia
embora seja hora 
não se deixa ver
Ouço vozes 
Como louco
sou eu falando sozinho
Levanto-me, ando
molho minhas mãos na chuva
e simplesmente as enxugo
Não há tristeza
não há alegria
não há inspiração 
nem poesia
Estou só
Nem o frio habitual me incomoda
só a sua falta
faz-me companhia. 

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 Chove a última chuva de inverno

(Marcus Ottoni)


Chove a última chuva do inverno.
Amanhã será primavera.
A noite escura escondeu a lua.
Há, ainda, o brilho do teu coração
e a luz de teu sorriso.
São tantos os anos que se passaram,
foram tantos dias de saudades.
Amanhã será primavera.
Sempre será primavera.

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(Carla Lima)


"Aquele que não ɑprendeu ɑ 
ɑmɑr jɑmɑis conseguirá
definir exɑtɑmente com que 
o ɑmor se pɑrece"

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Corpo Negro

(Nei Valença)


Todo mundo se espanta
de não ver a menina que canta
pois, o amor que ainda
se sente pela criança, abala

E o trem que levou
outro pode até pintar

De azul escuro pintou meu céu
todo de preto pintou meu mar
Quando pergunto respondem mentiras
Sei lá!
Quase pra quase eu acreditar
Quero que pinte de preto meu corpo
ou se não, deixe da cor que está
Quero que pinte de branco esse mundo
Negro, tão negro não pode ficar.

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 Plagiando Carlomagno

(Paulo Estanislau)


Hoje sonhei um sonho bom
um sonho lindo
sonhei contigo
acordei feliz
olhei pro lado e sorri 
Hoje
eu só quero 
que o dia termine bem 
Hoje 
Eu só quero 
Que o dia termine 
Muito bem

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 Sentido da vida

(Carla Lima)


Não sei se a vida é curta 
Ou longa demais pra nós, 
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido
se não tocamos o coração das pessoas 
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe, 
braço que envolve 
palavra que conforta 
silêncio que respeita 
alegria que contagia 
lágrima que corre
olhar que acaricia 
desejo que sacia 
amor que promove 
E isso não é coisa de outro mundo 
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela 
Não seja nem curta, 
Nem longa demais, 
Mas que seja intensa, 
Verdadeira, pura.
Enquanto durar.

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VONTADE

(Aos Querubins)
(Marcus Ottoni)


Não há mais bares
nem mesas cheias
Não há mais cervejas geladas
nem homens falando de fadas

Não há mais bailes
nem festas nas cidades
Não há mais mulheres bonitas
nem canções falando de vidas

Não há mais  risos
nem guizos nos gatos
Não há mais mesa farta
nem crianças falando de Marta

Não há mais vontade
vontade...
vontade...
vontade...
de se ter coragem

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Coração enganador

(Paulo Estanislau)


 Mentiroso
esse meu coração
Inventor de histórias
criador de ficção
Ardiloso 
obstinado
enganador
tentando me convencer 
que se esquece 
um grande amor

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Me deixa 
 ( Carla Lima )


Me deixa
 oh vida
conduzir-te ao amor
 que embora distante
 por instante
caminha ao meu redor
 na saudade incessante
 Liberta-me das prisões
 que o apego há de construir.

----------------------------------------------
  TUA VOZ

(Paulo Estanislau)


Tua voz
não é apenas som
que se espalha com o vento
É alegria e prazer
Tem sabor que provoca
deleite à minha boca
Adoro sentir tua voz
vibrar em meus ouvidos
provocar sismo em meu rosto
meu corpo, tudo em mim
Adoro tua voz
ao me fazer dormir
me fazer acordar
me fazer amar.
E eu amo
Amo tua voz em mim

 --------------------------------------------------

O CHORO DOS DIAS

(Marcus Ottoni)


Os dias choram as lágrimas da noite.
Há um segredo rompendo os limites do proibido
e dando-se, sem misericórdia, ao mundo.
Não há como controlar a dor que rasga o peito
e faz do coração a porta de todo sofrimento.
Quero estancar o horror do penar,
o martírio da ausência,
o descaso da procura em vão.
Não sou mais o que seria,
não estou mais onde queria.
Se não há como seguir em frente,
não há porque voltar.
Eu só preciso saber de ti.
Das bocas que beija.
Das camas que aquece.
Dos braços que te apertam.
Do amor que fazes. 
Uma palavra,
mesmo que seja a do silêncio.
Um único gesto imaginário
e meu coração se acalmará.
E, então, a loucura que me consome,
que destrói minha alma,
 será, enfim,
a alquimia do prazer
de saber que ainda pensas em mim.

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ANTIGAMENTE

( Pablo  Autamowar )


Antigamente
a gente sentava na relva
e via o sol se por
Ria das cores
e tocava com ternura as flores
que nos acompanhavam
Antigamente
a gente passeava por todos os cantos
e descobria os encantos da vida
em qualquer canto de esquina
e sorria do riso franco dos amigos
Antigamente
a gente olhava a noite acordando
e sonhava coisas de juventude 
se tocava de leve 
e levava todo sonho até o fim
Antigamente
a gente costumava se encontrar sempre
e em cada encontro
se entregar todo 
a qualquer nova esperança de vida
Antigamente
a gente bebia vinho
e vinha logo uma gostosa sensação
de ser vivo
e vivia a todo instante apaixonado
pela vida e suas divididas
explosões de alegria
Antigamente
a gente dava as mãos 
e afagava carinhosamente
a face do irmão 
Antigamente
a gente estava sempre junto
sempre tinha assunto
Hoje
a gente mal se cruza
pouco se dá
e quase nunca sorri
Hoje
a gente mal se vê
mal se fala
mal se entende
Hoje
a gente só se cala.

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BEM-TI-VI

(Carla Lima)


quando seu canto me desperta

o amarelo de teu sol irradia
as cortinas de meu aconchego
meu cantinho, meu repouso
Vem com teu voar
pouse aqui em minha morada
e acalenta meu coração
com teu canto e tua majestade
E nos desencontros dessa vida
meus olhos te aguarda
Meus calos dos tropeços
nesse fitar de olhos ao céu
nesta esperança de teu encontro
Um dia novo e com ele a certeza
que ontem também valeu a pena te esperar
E assim amanhã terei a mesma certeza de hoje
Que os sonhos de te reencontrar
nunca me faltem e nem serrem meus lábios
ao proclamar teu canto
Voar e assim
me sentir muito mais livre do que sou
Olhar os sonhos lá do alto
Seguir o destino sem olhar pra trás
esperando aquilo que não virá
Mas quem sabe a força do vento
Talvez, com toda a sua força
consiga trazer o que é de mais precioso
a felicidade, a luz e o amor
aonde for  BEM-TE-VÍ.

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 TRÊS EM UM

(Luiz Fernando)

São duas filhas que tenho
e de homem só é um
a briga não dá empate
e por mais que eu me rasgue
fica sempre em dois a um

Não bastassem as duas filhas
tem uma mulher ditadora
não atendo seus brados
termino todo quebrado
pelo cabo de uma vassoura

E assim eu vou levando
mesmo sem querer “levar”
aguentando com carinho
tapas, beijos e sorrisos
quando resolvem me dar

Mas não pensem que é ruim
é um compensando o outro
e nesse passo eu sigo
driblando qualquer “perigo”
desse meu caminho torto.

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 CANÇÃO PARA UMA ALDEIA DE PESCADORES

(Marcus Ottoni)


Hortelã no quintal
mulheres na mesa
tratando o peixe com sal
Lá fora, homens armados
fuzis e metralhadoras
Maria Auxiliadora
Maria Auxiliadora
vem nos ajudar

Na terra um gosto de mel
mulheres na missa 
cobrindo o rosto com véu
Lá fora, homens calados
chicote e chibatas
Maria das Graças
Maria das Graças
vem nos ajudar

Na  mão um brilho fatal
mulheres na cama
fazendo um pecado mortal
Lá fora, homens sedentos 
 de vícios e de amores
Maria Dolores
Maria Dolores
vem nos ajudar

Esperança no coração
mulheres na roda
cantando uma outra canção
Lá fora homens alados
Deus e guerrilheiros
Maria Maria
liberte 
esse povo brasileiro

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  COMO VOCÊ FAZ

(com licença mestre Leonilton Carneiro)
(Paulo Estanislau)


Para ser digno do seu abraço
faço 
quase tudo como você faz
Sem marcar passo
sem ultrapassar direitos
caminhando passo a passo
fazendo passo
pelo tempo já vivido
com um pouco de cansaço
tentando não dar passo em falso
Tal qual você
se der, refaço
Aos que caminham comigo
dou a mão, cedo o braço
tudo
para ser digno do seu abraço


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 NA MADRUGADA QUEM CANTA SOU EU

(Música: Raimundo Claro e Marcus Ottoni)


Partiu
foi pra longe de mim, sorriu
Curtiu
me deixou aqui, me desiludiu
Partiu

E agora
que você virou madame
brincando de amor em Ipanema
Curtindo teatro e cinema
tomando chopp
na Barra da Tijuca
você é muito cuca
Batuta, batuta

Partiu
foi pra longe de mim, sorriu
Curtiu
me deixou aqui, me desiludiu
Partiu

E a vida
a vida aqui continua
com sorrisos na rua
serestas e choro no bar
Temos ainda o luar
a cerveja e a batucada
e na madrugada
quem canta sou eu
sou eu
quem canta e chora sou eu

Partiu...

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CITANDO NIEMAYER
(Pablo Autamowar)


O sonho ruiu
a esperança está desmoronando
É triste constatar
que enganamos tantos
tanto tempo
e que também
fomos enganados
A esperança nos levou a enganar
Mais triste que ser iludido
é descobrir
que se iludiu, iludindo
Não traímos nossos votos
fomos traídos
pelos sonhos, pela vida
Se a esperança desvanecer
pouco nos resta a fazer
A cabeça perde a ordem
atrai desordem
Só a revolução
Para abrandar o coração.

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 NÓIS NUM U.S.A.  BLEK  TAI

( Marcus Ottoni )


Hoje tem banquete oficial
800 kilos de camarão
800  kilos de caviar
champanha a Deus dará

Hoje tem forró no cafua
sopa de pé de frango
farinha e macaxeira
cachaça a noite inteira

Hoje tem banquete oficial
terno preto e borboleta
roleta russa nacional

Hoje tem forró no cafua
terno pele preta
rela rela e muito ai
“NÓIS NUM U.S.A.  BLEK  TAI”

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   INVEJA

(Recado ao Boris)
(Paulo Estanislau)


É inveja essa doença
que trazes no peito
É doença
pois como um vírus
solapou teu coração
É doença essa inveja
e não defeito
pois tirou de ti
toda razão
Podes não ser louco
Boris, podes não ser
mas sei também
que não és são.

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PENEIRA DO MATO


(Nei Valença & .)


Peneira do mato
sim senhor!
Vivendo do mato
meu senhor!
Posso ser o que o senhor 
Posso ser o que o senhor mais quer
Posso ser o seu melhor amigo
como também posso ser 
o seu pior inimigo
Como também posso ser
o amante da sua mulher

Na cama ... Na lama... Na cama... Na lama...
Na cama ... Na lama... Na cama... Na lama...
Na cama ... Na lama... Na cama... Na lama...

Peneira do mato
sim senhor!
Vivendo do mato
meu senhor!

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 NAVEGANDO

(Paulo Estanislau)


Navegamos lado a lado
mas em barcos diferentes
sonhando que nossos destinos
se encontrão mais à frente

Navegamos lado a lado
em perigoso mar revolto,
com os corações sem medo
um a olhar o outro

Navegamos lado a lado
cada um com o outro em mente,
Refletindo sua sina
pela do outro contente

Navegamos lado a lado
cada um com o seu norte,
sonhando com o reencontro
antes que o mar traga a morte

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JUSTAMENTE HOJE

(Aos amores distantes)

(Marcus Ottoni)



Hoje o sol nasceu mais cedo
já havia ido embora
e havia me deixado vagar
pela porta do dia

Hoje o sol surgiu diferente para mim
e percebi que  a solidão
chegara mais cedo
e havia se aconchegado sutilmente
no meu coração

Hoje, precisamente hoje
eu quis chorar
eu quis gritar
Mas hoje, particularmente hoje
eu não tive forças para chorar
eu não tive uma lágrima sequer
para rolar no meu rosto
Eu não tive forças para gritar
eu não tive um grito sequer
para romper minha garganta
e eu não chorei... Eu não gritei...

Hoje, o sol se porá mais cedo
e, talvez eu perceba na boca da noite
o meu grito ecoando
Talvez eu perceba entre as estrelas
as minhas lágrimas rolando

Hoje, a noite será mais longa
pois em mim está doendo
a dor de saber que
justamente hoje
eu precisarei aprender
a ser só.

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SAUDADE

(Pablo Autamowar)



Saudade
é a  falta de alguém
que não mais se tem
...
Saudade 
é tudo que fica
daquela que não ficou
...
Saudade
é vontade de ver de novo,
de rever um grande amor
...
Estavam certos os poetas
Sinto uma agonia em meu peito
desde que você foi embora
esta agonia
e uma tristeza danada
é o que me resta agora
E a cada dia que passa
mais aumenta a vontade de lhe ver

Saudade Cris,
Saudade pra mim 
é você.

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 Correio elegante

(Paulo Estanislau)


Menina esses teus olhos
verdinhos da cor do mar
são como pedras preciosas
que todos querem tocar

Se eu fosse um poeta
repentista ou cantador
faria poesia
rimando o teu lindo nome
com o da mais bela flor

Diria que o teu cabelo
te faz mais bela e formosa
ao invés de Ana Maria
te chamaria Ana Rosa

e pediria humildemente 
a concessão de um desejo
um abraço apertado 
junto com o abraço 
um beijo.

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É preciso chorar

(Marcus Ottoni)



É preciso chorar todas as manhãs
Não um choro de dor ou angústia
Um choro pela vida 
Que não é nossa, que a nós não pertence

É preciso deixar correr a lágrima solitária
Sendo também um solitário caminhante
O choro silencioso é manifestação da alma
A alma em si, é o próprio choro da vida

É preciso deixar cair a lágrima que sai do olhar
Que corre a face por sulcos da existência
Que deságua num peito desnudo de sofrer

É preciso chorar todas as manhãs
As do verão com sua brisa morna
No outono de folhas secas ao vento sueste
As que nascem sem sol no inverno 
E aquelas que florescem na primavera

É preciso chorar sempre o choro da vida que se vive
Chorar hoje, agora, a qualquer momento
Chorar ontem, no dia que se foi, no momento que passou
Chorar amanhã quando amanhã for o hoje
E chorar pela vida, que se vive 
que se viveu e pela qual se viverá

É preciso chorar o choro da vida sem culpa do viver
Mesmo que a vida lhe cause dor
Mesmo que quem viva lhe cause dor

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QUE SACO

(Luiz Fernando Lima)


Folhas secas
terra vermelha
vento parado
que mais se assemelha
com o meu dia a dia
O mesmo marasmo
que me deixa pasmo
por nada fazer
E como tentar
essa vida mudar
sem contudo sofrer

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  ADEUS

(Marcus Ottoni)



Quando fores embora
quando a porta fechar nossas lembranças
e nada mais restar a não ser silêncio

acalme a minha solidão
Deixe uma lembrança... uma lembrancinha
Um fio de cabelo no lençol
um beijo de batom no espelho
o cheiro do teu corpo no quarto
ou mesmo uma peça íntima

Quando fores embora
quando a porta fechar nossas lembranças
Deixe uma lembrança... uma lembrancinha

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AMORES E AMIGOS


(com licença mestre Leonilton Carneiro)

(Paulo Estanislau)


Não quero a escuridão da campina
ansiosa pelo raiar do dia
Não quero a noite sem fim
por sem amor
triste, silenciosa e fria
Quero sim, a claridade do sol
a beleza da vida, a alegria 
Por isso busquei amores
de tantos tipos possíveis
Amigos para uma vida
da melhor forma vivida
Com vibração, harmonia e ardor
sem ser vazia, nostálgica, insípida 
Vida sempre com rumo
aventuras e sonhos 
não vida perdida 

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  SEM RAZÃO

(Luiz Fernando Lima)



É tempo de festas
palhaços na rua
que grande folia
e você jururu 
Meu Deus que bobagem
nem sei como podes
tão triste estar
Pra que chorar
espanta a tristeza 
vem comigo brincar

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AH MAR!
(Pablo Autamowar)


Fui ao encontro da felicidade
encontrar velhos camaradas
me fartar de alegria
do amor de novos amigos
rever o mar

Lhe conheci, menina mulher
corpo de beleza escultural
sensualidade no caminhar
cabelos longos encaracolados
 jeito meigo de falar

Quanta ternura havia em você
Ir em busca de felicidade
não era encontrar o amor
mas encontrei

Seu jeito puro de me abraçar
seu beijo doce e suave 
me fizeram lhe amar

Hoje, quando lhe vejo
pelas telas da modernidade
é imensa a saudade
e o desejo de lhe reencontrar
sentir a sua pureza
e novamente lhe amar
junto ao mar

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SILÊNCIO (O SONO DAS PEDRAS) 

 Aos periódicos
(Marcus Ottoni)


Que calem as bocas
  que parem todos

Que não se toque
        flauta
         violino
           ou oboé

Que não cantem
             os pássaros
                os trovadores
                   os cancioneiros
                os repentistas
         os poetas
                os cantadores 
            e os amores
      
Silêncio!
As pedras estão dormindo 


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CANDANGOLAR

(Música: Nelson Pantoja – Leal Carvalho)


Tracei trapo mundo
no escuro zumbe o vaga-lume
virei assunto vagabundo
prum canto meu

Plantei cantigas
corpo meu
no cerrado vida me criei
saias ciganas
corpo meu
no céu da magia serei rei

Plantei cantigas
corpo meu
do cerrado alado
ao conga
saias ciganas
corpo meu
afoxé, jê Jê, tupinambás

E nos planos do planalto
brotar raiz de sobressalto
meio latino americado
candangolar, candagolar...
candangolar, candagolar...


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SOL CALEIDOSCÓPICO

(Marcus Ottoni)

Porque nasce o sol?
Haverá muitos sóis nascendo todas as manhãs? 
Ou será um sol caleidoscópico dividindo sonhos?

Nasce um sol que aquece as “ Casas Grandes”
Onde homens abastados dormem em camas macias
E comem em mesas fartas
Onde mulheres endeusadas e bem-amadas vestem-se de seda e cetim
E cheiram fragrâncias florais perfumando tudo e todos a sua volta.

Um sol que brilha em carros reluzentes
Que esquenta corpos seminus ao redor de piscinas
E reflete prazer em cubos de gelos uiscados.
Que doura cabelos louros de crianças sadias 
Esquecidas em seus brinquedos quase humanos.

Um sol que reluz em cartões de crédito
Em canetas de ouro riscando cheques especiais
Em porcelanas ornamentadas, talheres de prata e cálices de vinho.
Que cria sombras amorosas em jardins floridos,
Em varandas limpas, em praias desertas ou em mirantes cinematográficos.

Um sol que é vida, felicidade, alegria e prazer...

Um outro sol (será o mesmo sol?) esquenta as “Senzalas”
Onde homens (serão os mesmos homens?) descansam em cima de papelões
Cobertos pela própria pele e matam sua fome nos restos do lixo.
Onde mulheres (serão as mesmas mulheres?) vestem-se de trapos e nudez
E cheiram a sangue, suor e lágrimas.

Um sol que explode nas retinas cansadas
Refletindo a dor de mais um dia nas sarjetas da cidade
E ferve o sangue de corpos maltratados pela guerra do pão nosso de cada dia
Que penetra por cabelos desalinhados de crianças desnutridas
Jogadas na humilhante tarefa de mendigar sua dignidade infantil.

Um sol que se apaga em moedas sujas,
Colhidas por mãos doentes de unhas negras 
De tanto vasculharem o lixo, a lama e a podridão da sociedade.
Que projeta imagens sombrias de solidão, abandono e desespero
Em becos escuros, ruas tortuosas ou em guetos marginais.

Um sol que é morte, tristeza, dor e humilhação...

Porque nascem tantos sóis em apenas uma manhã?

SOL CALEIDOSCÓPICO
Venceu o concurso de poesia ADELE DE OLIVEIRA, em 1997,promovido pela Prefeitura Municipal de Ceará Mirim, em Ceará Mirim/RN.
A poesia foi inscrita pelo autor com o pseudônimo de “Pouchart”.

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COISA DA ROÇA

(Música: Nei Valença)


Uma coisa da roça, um pedaço de chão
mochila nas costas, viola na mão
um trapo, um farrapo, um buraco no chão
eu vou caminhando pelo meu sertão

Uma coisa qualquer, o asfalto e o mar
pego meu pinho e começo a cantar
e faço a canção, uma canção de amor
pra ver se esqueço essa tamanha dor

Uma flor, o regato e o meu barracão
lembranças que trago em meu coração
e a cerca caída e  chuva no chão
matando a sede, trazendo o perdão

Todo sofrimento, começo a pensar
estrada a fora vou a caminhar
mochila nas costas, viola na mão
uma coisa da roça, um pedaço de pão

Uma coisa da roça, um pedaço de chão
mochila nas costas, viola na mão
mochila nas costas, viola na mão
Uma coisa da roça, um pedaço de chão

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Cheio de saudades

(Marcus Ottoni)

A luz se faz cheia
E eu estou cheio de saudades.
Vontades mil,
desespero como tempero.

Angústia atroz!
Porque me procuras tão constantemente?
Porque me torturas tão frequentemente?
Por Deus, pelo amor de Deus!
Onde andará esse carteiro
que não me traz notícias do norte?

Maldita sorte a minha.
Ter que fazer fundos para viver mundos.
Ter que viver cá e deixar o amor lá.
Não.  Onde estou que não vejo,
que não percebo a imensidão desse desejo?
De tê-la perto, de vê-la a menos de um metro.
De me perder, de me achar.
De me fazer crescer entre teus braços.
De amar teu laço.
De me esquecer no cansaço de teu corpo,
algo assim meio morto.

Não! Não! E não!
Eu não quero ver esta lua.
Eu não quero ouvir esta música.
Eu não quero falar do norte.
Eu não posso! Eu não posso!
Eu não posso ficar acordado.
Talvez em sonhos, quem sabe eu acorde no norte.

Ou melhor ainda, você me acorda com um café bem forte.

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  ASPEREZAS

(Antonio Biancho)
 

Holofote em lua clara
faz cegar o eu há pra ver
rios turvos, solidão
coletiva
omissão

Aspereza rotineira
ruas sujas de torturas
no meio da cidade
muitas vidas destruídas

mutável sorte de viver
na loucura instaurada
que glorifica o homem
quanto mais homens
sob os pés
puder ter

tendo os olhos rarefeitos
tão desfeitos de ilusão
encurralados pelas brechas
apontadas ou permitidas
é preciso saber ser
talha e fenda
arma e fuga
saber ter


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REINO DE MARACAJAÚ

(Paulo Estanislau)


Houve uma vez um reino
onde o castelo era de areia
e ficava junto ao mar
O Rei Dunga era um gigante
e o reinado de alegria
e nós podíamos amar

Havia princesas lindas
 Conde, Barão, Duque e Visconde
e o Bobo da Corte
não era um palhaço
Era um artista, um bruxo
carregado de magia

Houve um reino na Terra do Sol
Nele havia uma aldeia
onde era constante a felicidade 
lugar que me traz muita saudade
mas saudade pra mim é alegria

Houve uma vez um reino
onde o velho era belo
e tratado como Rei
onde existia o amor
se bebia vinho com flor
onde de amor me carreguei
e carregado até hoje estou 


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  CANTO DE PAZ

(Música: Leal Carvalho)
 

Todas as crianças d’uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos
Todas as crianças d’uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos

Deixam no leito a esperança
na ânsia de adulto criança já foi
Vão ao poder estraçalhando sonhos
e prometem exterminar você

Todas as crianças d’uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos
Todas as crianças d’uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos

Todos os olhos se voltam
pra uma adolescência criada ao léu
quem sabe seria o elo
de uma América à outra calar seus canhões

Todas as crianças d’uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos
Todas as crianças d’uma América a outra
num sonho de paz atam as mãos


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CANÇÃO PRA QUEM SE FOI

(Marcus Ottoni)

Cheiro de terra
            molhada
 Cheiro de carne
              queimada
    Cheiro de sangue
             no chão
  Choro de gente
               dormindo
    Choro de amigos
              partindo
     Choro de amigos
               deixando
               saudades
                no meu coração

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  ODE BRASILIENSE

(Antonio Bianco)


A cidade tem duas asas e coração estrangeiro
um coração rodoviário, transitivo e solitário
de pessoas que chegam, as que nunca voltaram
há também as que estando aqui nunca chegaram
notem naqueles rapazes louros, vindos do sul
com sua maioridade; suprem a falta de rapazes da cidade
aptos para o serviço militar
Quarta-feira, dia de folga, os periquitos voam em bandos
não têm parentes, amigos ou namoradas
há sentimento indigente que os faz vagar
num dia de sol no parque das águas minerais
num passeio olhando vitrines no conjunto nacional
ou de lembrança
uma bijuteria comprada na feira da torre de TV
à execração pública
um cinema
um michê...


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 PROTESTAR SEMPRE

 (Pablo Autamowar)

 
Se por medo
dos meus punhos cerrados
cortares minhas mãos
eu erguerei os braços
Se as minhas caminhadas
te incomodam
e por isso cortares minhas pernas
a luta não vou cessar
rastejarei e gritarei
e o meu grito será tão forte
que mesmo nas alturas
em que te encontras
ele será ouvido
Se por incômodo dos meus gritos  
cortares minha língua
eu urrarei
e o meu urro será tão alto
que te causará pavor
Se, por fim
tua bala acertar meu coração
e por isso ceifares minha vida
meu corpo, como protesto tremerá
e o povo lembrará da minha luta
Essa lembrança te incomodará
como um eterno protesto.

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PARQUE DE GERAÇÕES

( Aos aquarianos de 54 )
(Marcus Ottoni)


 Desmontaram o parque
acabaram-se as ilusões
                    os sonhos
                  as emoções

Apagaram as luzes
parou a roda gigante
não roda mais o carrossel
e ninguém mais brinca
                     na torre
                    de babel

Silenciaram os alto-falantes
não há mais gangorras balançando
não há mais amores se enlaçando
não há mais bocas dançando
                           com bocas
          nem tantos corpos
                         amantes

Já não se vê o palhaço da corte
já não se ouve risos altivos
já não se vê o lusco fusco das cores
já não se ouve o grito de líderes vivos

Desmontaram o parque
esconderam as emoções
afugentaram os sonhos
amordaçaram as gerações 


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 ESTRELA DALVA
(Paulo Estanislau)

Estrela Dalva
serás sempre uma estrela
a minha estrela Vésper
num céu distante a brilhar

Que a todos apaixona
e a muitos enlouquece
que pelo mal que padecem
todos a querem tocar

Deles não sou diferente
contigo vivo a sonhar
querendo Estrela Dalva
te ver estrela cadente
para poder te abraçar

Trocar carícias e beijos
enfim, matar meus desejos
mas essa imensa distância
jamais me permitirá


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(CMDE. POUCHART)


NÃO SOU ESQUERDA
    NEM DIREITA
TÃO POUCO O
    CENTRO DE
GRAVIDADE DESSA
    CIDADE
SOU TALVEZ, A GOTA D’ÁGUA
    CHEIA DE FELICIDADE

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CADELA DO SENSO

(Antonio Biancho)


Tudo perfeito
mortiferamente
racional
uma pessoa

Queria saber
a quanto tempo
você
dorme e acorda

Entre em sintonia
com a vida
que jamais foi
ou será
um relógio

Qualquer momento existe
existe uma relação
de tudo com todos
qualquer gesto
vibra o ar

E uma rosa
do vento frio
que gela o preço
do petróleo no
mercado das emoções
vividas e pleno
tempo bom com instabilidade
no período de achar
conclusões
alteráveis
dentro da vida
cronometrada


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 CONDENADO

(Paulo Estanislau)


Errei
por não te compreender
Que me condene o juiz da vida
e me mande ao cadafalso
Loucura maior que te perder
foi pensar em ti como percalço
Loucura essa minha
que loucura! 


Errei
ignorando o meu amor
aceito pois a minha condenação
Nesta vida nada mais me resta
pois condenado
a não ter vida estou
se não tiver de ti
o coração.


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 VÁ À LUTA

(Música: Danilo Alencar e Nei Valença)


Vá à luta companheiro
volte em fevereiro pra brincar o carnaval
leve ua mochila de coragem
guarde um retrato do passado pra melhor pisar o chão

Vá à luta sem demora, pegue na viola e
não se acanhe em cantar uma canção
Pise no rastro da esperança
jogue fora a aliança que uniu você ao medo
Vá à luta e não se assuste
com o leão da vida, com os raios de sol
faça um chicote
e monte na sela do tempo
escolha o momento e vá a galope
trace com o compasso
o espaço certo pra pisar
Não estranhe a calma da lua
que também é uma luta, eu também vou lutar
Vou me sujar com o pó
do início dessa terra
Vou me lavar em sangue e suor
no final de cada guerra
esquecer as promessas
de um teto eu livra o corpo do calor e do frio
Vou me encher no vazio
que o tempo esquecido deixou por aí
lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá,
Vá à luta.....   
Vá à luta.....
--------------------

Ruínas de um passado

(Marcus Ottoni)

Ruínas de um forte antigo.
Deixado pregado na areia da praia.
Ruínas tão antigas.
História de tempos partidos em fragmentos de poeira.

Pegadas cravadas na rocha.
O cheiro das lutas ainda é forte.
A mancha de sangue, na tábua do assoalho,
Escore no mármore da escada...
da história.

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ÓCULOS ESCUROS

(Antonio Biancho)


Nosso desencontro
está numa rua molhada de chuva
de água que cai
de pó que não levanta
os rastros se pregam na lama
e a chuva que já parou de cair
ainda nos molha
a água me afoga
e vou voar para bem longe
onde não exista nenhuma lua
onde não existam ruas
lembranças
suas
onde um óculos escuro
não me deixe chorar


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  (João Rochael)


 Há uma rachadura na estrutura
Na arquitetura
Há uma rachadura em nós
No teu lábio
No meu pé!

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LIBERDADE

(Pablo Autamowar)

... E a cada negativa uma porrada
À cada porrada um grito
À cada grito uma nova porrada
para calar o grito
O grito, pra redimir a dor
Agora, novas interrogativas
para cada uma, outra negativa
Não há mais o medo da porrada
por ela não se vai mais sucumbir
porém, ela não mais existe
deu lugar ao choque, agulha
pau-de-arara e torniquete

são tantos os métodos
são tantas as dores
por um só ideal

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 BRASÍLIA

(Luiz Fernando)

Brasília, terra querida
para mim és força, és esperança
quem em ti crê tudo alcança
nessa difícil estrada da vida

Teu corpo escultural
teu eixo monumental
mostram o caminho do prazer

Teus bares e galerias
são fontes de alegria
pra quem gosta de viver.


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PONTO FINAL

(Aos críticos)
(Marcus Ottoni)


Não me culpe amigo
pela ausência de sorriso
pelo riso forçado no canto de minha boca
as conveniências já não são
como no início da luta
A vida corre e sempre corre pelo lado oposto
e a gente entende as razões da briga isolada
E nada, nada transparece entre o ser
e o querer ser

Não me culpe amigo
pelo desespero
pela angústia que envolve o meu coração
As conveniências já não são saudáveis
ao plano inicial
A vida para no momento que se rompe o laço
e o abraço torna-se nó de forca
que aperta a garganta e silencia a voz

Não me culpe amigo
pelo abandono da vida
ou pelo sono da vista
As reticências da última linha
param no ponto final
e a vírgula do descanso, da parada rápida
termina a frase

Não me culpe amigo
pelo aperto de mão


--------------------

LEVESA

(Antônio Biancho)


Hoje o sol
está com um olhar agarotado
eu ilumina e faz transpirar

Hoje há sol
despido de nuvens
aquecendo sem rodeios

Hoje o sol brilha
e faz brilhar

Deuses vivem de sol e água

É Deus quem nada julga
nada faz e nada quer
quem esquece da procura
para já ser o que é

É preciso saber
quando já se está acordado
espanar os dentes
e sair pra rua


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POR CAUSA DELA

(Música e Letra - Nei Valença)

Por causa dela
eu já sofri, quase chorei, eu já menti
já fiz de tudo que um dia eu não fiz
A solidão já tomou conta do meu coração

Por causa dela
eu já passei foi muitas noites acordados no escuro
eu já fiz rosas, mas também botei espinhos
e cada espinho carregava a minha dor

Por causa dela
eu já não falo, já não saio, eu já não brinco
eu não mais curtir a praia no domingo
porque domingo é na praia que tá bom

Por causa dela
Os meus amigos já não falam mais comigo
minhas amigas não gostaram do motivo
meus pensamentos sempre estão pensando nela

Por causa dela
eu já pisei muitos lugares sem destino
meu  violão acompanhando meu silêncio
e no silêncio é que fiquei pensando nela

Por causa dela
não vou ao cine e nem vejo televisão
não vou ao baile e nunca mais fui ao sambão
vivo a curtir a madrugada da janela 

Não bebo mais
eu já não fumo e nem corro atrás de bola
não canto mais e nunca mais fui a escola
a minha vida só mudou por causa dela 


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OS HOMENS DO CAMPO

(João Rochael-Gato)


Vejam
os homens do campo
com o sol sobre as cabeças
sob elas corpos tontos
sobre eles olhos turvos

E lhes importa a miséria
dos seus patrões
que não têm dó
carrascos
que lhes queima
mormaço


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  Piedade

(Paulo Estanislau)

Hoje só
contemplo o mar
o sol, o céu azul
Jangadas que passeiam
com turistas alegres
enquanto corpos sensuais
sedentos de felicidade
desfilam na areia
Eu, sedento de amor
e de amar
sou só saudade
desejoso de lhe ver
saber por onde anda

 como está
Hoje só
queria lhe dar a mão
caminhar na areia
Mergulhar no mar


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  Faces do amor

(Fernando Lima)

O amor é mistério raro e profundo
que se converte em fração de segundos
de um suave vinho em uma taça de fel
Jamais vi, por onde caminhei
quem o dominasse com plena harmonia
pois se quem parte leva a saudade
mesmo sonhando com a volta, é bem verdade
pra quem fica é grande a agonia.

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Música: Voltar pro norte

 Danilo Alencar e Joel Andrade

Vim de longe não sei bem de onde
não sei por não querer lembrar
sei que hoje estou aqui
e as vezes não sei porque
tenho vontade de voltar
Aqui parecia que tudo acontecia
e estava em seu lugar
Tenho que voltar e dizer pra minha gente
aqui também choro como chorava lá
Há gente que chora dizendo estar contente
aqui tudo é diferente
até no modo de chorar
Vou voltar pro norte
quem sabe a minha sorte
eu tenha deixado lá


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Hai Trop Kai

(Marcus Ottoni)
I
Os ratos vivem das sobras.
Os homens, das emoções.
O amor é, antes de tudo,ilusão

II
O raio de sol deita-se na gota do orvalho.
Um corpo de mulher
dorme sereno entre os lençóis

III
Na boca da noite,
cantam os pássaros.
Longe, um menino chora.

IV
A aranha tece a teia
com prudência e sabedoria.
O coração equilibra a vida.

V
A lua se esconde misteriosamente.
Os amigos não partem,
apenas ficam longe dos olhos.

VI
A rã ensaia acrobacias noturnas.
Reflexos do luar.
Aplausos ocultos.

VII
Leve e rápido
como as asas da borboleta.
O pulo do gato

VIII
O mar vai, 
o mar vem
O tronco rola livre na praia

IX 
Pão e mortadela 
tem sabor de papel jornal.
Nada melhor prum jornalista liso.

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OLHO POR OLHO

(Pablo Autamowar)

Olho por olho seu moço
dente por dente
Foi assim que me ensinaram
a lidar com essa gente
Não estou disposto a viver
nessa agonia
esperando algum momento
motivo de alegria
Não vou embora daqui
que é o meu lugar
nem vou ficar parado
esperando a morte
se não há paz vou lutar
para que haja
outros tentaram, eu sei
não tiveram sorte
Se por acaso seu moço
eu não conseguir
o caminho está traçado
para quem quiser seguir
Olho por olho seu moço
dente por dente
Se eu consigo seu moço
Ai dessa gente!



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Retorno

(Marcus Ottoni)

Vivi aqui por muito tempo.
Conheci a luz, o fogo e o Poder.
Vi as sombras do meu coração
nas mãos do carrasco.
Entendo agora, mais do que nunca,
porque separaram minh´alma de meu corpo.

Retorno hoje tanto tempo após.
Vejo novamente a luz, o fogo e o Poder.
Meu coração não mais produz sombras.
Tão pouco há carrascos para aprisioná-lo.
Existe, apenas e ainda, e tão somente...
o medo de enfrentar meus fantasmas.

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MEDO

(Valéria Santos - Leca)

Gosto de seus cabelos desalinhados
de seus beijos profundos e prolongados
enquanto me faz sua mulher
(Deixa-me louca)
Gosto de sua voz
quando me chamas de “mozinho”
quando diz que me adora
me abraçando apertado
me sufocando de paixão
(ai que bom!)
Paixão madura  a minha
mas um tanto medrosa
pois o futuro é incerto
O mesmo vento brando, morno
 e calmo que o trouxe
irá tirá-lo de mim (um breve dia)
sem dó, sem piedade
e nunca mais ficarei louca
como quando você me toca
com carinho e paixão


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Mal de amor

(Fernando Lima)

Como é cruel a dor que me alucina
tal qual a lança lítica da maldade
que se atira intrépida e sedenta
de forma atroz, voraz e violenta
matando aquele que vive na saudade


Se procuro dormir a angústia me atormenta
meus pensamentos de ti não apartam
A noite longa se transforma em sacrifício
cada instante é um imenso precipício
onde meus sonhos à morte se abraçam


Esta saudade aos poucos me enlouquece
fico pensando com profundo ardor
se é verdade, então, que tu me amas
porque não espantas logo essa distância
e vem comigo viver um grande amor


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Saudade e paixão

(Paulo Estanislau)


Maracajaú
maravilha
mar
amar
Margareth
Ilha em alto mar
vinho na praia
Novamente amar
Marcus
Batista
Vô Belo
Eneida
Goreth
Tadashi
Fernandão
gente tanta
um coração
Outra vez amar
praia
peixe
jangada
arrastão
Felicidade
Tempo não tem idade
Só saudade
Paixão

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SOLIDARIEDADE
(Marcus Ottoni)

O silêncio caiu nas ruas,
nos bares, por todas as cidades
e eu, em solidariedade,
caí em silêncio
Apenas o vento lamenta
a covardia reinante nos ares.
Eu, com o meu caminhar bêbado,
sou a companhia angustiada
deste vento

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