sábado, 14 de novembro de 2020

A Farsa da Democracia

(Marcus Ottoni)

O que era para ser uma festa cívica como apogeu do regime democrático, transformou-se numa grande farsa com adeptos em todos os quadrantes e em todos os seguimentos sociais, principalmente naqueles envolvidos, direta ou indiretamente, no processo eleitoral brasileiro.

Eleição é, em tese, o clímax da democracia. Isso quando ela vem carimbada de legalidade e representa a aspiração da sociedade em poder escolher seus representantes para os poderes Executivo e Legislativo. É o fim que justifica os meios para que uma nação, um estado ou um município possa ter seus políticos legitima e democraticamente eleitos. É,... em tese.

Porém no Brasil o que vemos é que o processo eleitoral é recheado de vícios e coberto de oportunismos que comprometem, não apenas a democracia, mas toda a eleição e suas consequências que são os eleitos, muitos deles sem qualquer preparo intelectual para o exercício de um cargo que não é emprego, mas função publica com data de validade.

A começar pela tal da Justiça Eleitoral que, se não é uma piada, é a própria excrescência da inutilidade, com suas normas e diretrizes metamorfoseadas a cada eleição para atender a interesses não muito confessáveis de público. A própria divisão das eleições, feita em prestações com eleições municipais em um ano e dois anos depois as eleições estaduais e federais. Uma inutilidade cara que consome recursos do cidadão que poderiam estar sendo uteis em áreas como saúde, segurança, educação, infraestrutura etc.

Nessa locomotiva inútil e farsante se encontra o tal “direito do cidadão” de exercer o voto de dois em dois anos. Direito “songa” nenhuma. Quem é obrigado a ir votar não tem direito, é empurrado para a urna para não sofrer as punições impostas pela famigerada Justiça Eleitoral. Direito será quando o voto for facultativo, não quando é obrigado. É como as tais “cotas” para afro descentes, quando se confunde concessão com conquista. Mas isso é outro assunto.

De volta a farsa da democracia, vemos que a pitoresca Justiça Eleitoral é a mantenedora e promotora da farsa eleitoral, já que ela própria se recusa a não cumprir uma lei aprovada pelo Congresso Nacional que determina a inclusão do voto impresso na urna eletrônica para possíveis conferências em caso de denúncia de fraude eleitoral. Não cumpre a lei e quer que todos nós obedeçamos às suas normas e ritos macabros para tirar da malfadada urna eletrônica os “abutres da democracia”.

A própria urna eletrônica é a farsa cristalizada. Mesmo com “garantia” da Justiça Eleitoral de que é segura e “infraudável”, a urna eletrônica é a piada global que faz quase a totalidade dos países do planeta morrerem de rir da “ingenuidade” da sociedade brasileira ao crer que a rapidez na apuração dos votos é mais importante do que a segurança da votação. Só mesmo sendo fruto da colonização portuguesa para enfiar um tomate no nariz e pintar a boca de branco com um sorriso demente achando que está na vanguarda eleitoral do mundo.

Mas a farsa é bem maior do que nossa vã filosofia pode imaginar. Toda eleição é custeada com recursos públicos o que nos torna cumplices de milhares, ou milhão, de espertalhões de toda sorte que buscam no poder público a boquinha para suas mutretas e onde pretendem desencantar suas maracutaias para se perpetuarem no ofício de defensor dos humildes e da população mais desassistida, gerando para eles próprio o “pão eterno de cada dia” às custas da miséria que estabelecem para dela tirar proveito eleitoral. Somos cúmplices do mais bem intencionado e do mais hediondo ser travestido de candidato nas eleições. Nós pagamos suas campanhas.

Um parêntese: esses senhores e senhoras, que vão as ruas gastar nosso dinheiro para enganar a nós mesmo com suas propostas salvadoras da pátria e da alma alheia, são o que se pode cunhar como “hipócritas desavergonhados”. É verdade que há exceções, muito poucas, mas há. No covil da democracia a esmagadora maioria é mesmo de abutres carniceiros. São eles que desfrutam de privilégios inimagináveis para um trabalhador operário ou uma dona de casa que faz bico para aumentar o ganho familiar. São empregados da sociedade sem ter carteira assinada, porque vereador, prefeito, deputado, governador, deputado federal, senador e presidente da República não são profissões. Mas todos, sem exceção, se aposentam nababescamente com pouco tempo na atividade política.  

O mais engraçado da farsa da democracia é o discurso sisudo e enfadonho daqueles que comandam a Justiça Eleitoral. São verdadeiras pérolas do escárnio social. A “verve” é sempre dilapidada com bordões escrotos repetidos de dois em dois anos, prometendo moralidade, transparência, justiça e combate implacável aos crimes eleitorais. Só não vale para eles mesmo porque se a eles fosse aplicado um terço do que vomitam nas entrevistas nas tevês, acredito que não teríamos mais Justiça Eleitoral no Brasil.

E tem muito mais na farsa da democracia. Se fosse escrever “de um tudo” que tem nesse processo da escolha dos representantes da sociedade para ocupar os poderes públicos daria um livro com páginas a perder de vista. Mas fico por aqui. Decidi escrever este texto para registrar a minha decisão de não mais participar do processo eleitoral deste ano em diante. E o faço lembrando de meu avô, um descente de italiano, que em sua sabedoria de vivência me dizia enquanto costurava sapatos na sapataria que mantinha no fundo de sua casa na velha e querida São João del Rey. Dizia ele: “se você não combina com algo, não participe dessa coisa para não valorizar aqueles que dela tiram proveito”. Prego batido e ponta virada. 

Afinal, já dei minha contribuição para o meu país. Agora é com a geração que veio depois da minha. Um forte abraço. 


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